sábado, 25 de abril de 2020

Saúde mental dentro de casa? O aumento do número de casos de violência patriarcal


       Covid-19 ou Corona Vírus, nomes utilizados atualmente para identificar o mais novo inimigo da população mundial.  
Silencioso e invisível, o novo corona vírus tomou a todos de surpresa e, com a pandemia, a medida que se mostrou realmente eficaz ao combate de sua propagação foi o isolamento social. Logo vieram as campanhas como "fique em casa”, mostrando as residências como o único lugar capaz de oferecer real segurança.  
Entretanto, para algumas pessoas, estar diante da necessidade de dividir longos períodos de tempo com outros moradores de sua residência, na verdade significa estar ainda mais vulnerável diante da violência patriarcal.  
Ao lidar com o termo “violência patriarcal” é importante elucidar que ela existe em mais de uma forma, sendo comumente tratado como “violência doméstica”, termo que para bell hooks (2019) parece tornar a violência como algo mais suave em um contexto íntimo e privado, no qual argumenta logo após que “a violência patriarcal em casa é baseada na crença de que é aceitável que um indivíduo mais poderoso controle outros por meio de várias formas de força coercitiva”. Incluindo maus-tratos, violência de gênero, exploração, exclusão social e separação de cuidadores, a violência sofrida em ambiente privado incide, mais frequentemente, em pessoas vulnerabilizadas por relações desiguais. Gênero, raça, classe, diferenças geracionais e sexualidade são recortes importantes a serem feitos quando o tema é violência patriarcal. Portanto tratar a violência patriarcal em tempos de isolamento social, significa estar atenta aos eventos ocorridos durante o período da quarentena, que em vários países tem se mostrado muito mais extensos em nível de preocupação. 
Como consequência dessa violência, se torna cada vez mais comum que as vítimas desenvolvam diversos quadros de problemas psicológicos como depressão e ansiedade, no qual o medo de sofrer agressão física, verbal ou até constantes ameaças são causadores do aumento do “adoecimento mental”. Isso faz com que a vítima muitas vezes tenha em si um sentimento de que não há formas de escapar ou a quem recorrer, se encontrando perdida diante do terror vivido cotidianamente em sua residência. Esse terror “doméstico” acaba por ser agravado em tempos de pandemia, e um novo medo de procurar ajuda se aprofunda, especialmente em um momento em que as ruas se encontram esvaziadas, diante da orientação oficial de se fazer o isolamento social. 
 É importante que não se deixe esquecer que as vítimas da violência patriarcal não seguem um padrão específico, entretanto o contexto social no qual estão inseridas pode se tornar um agravante em algumas questões frente à situação em que a instabilidade econômica contribui para o aumento de situações de agressão física, verbal, psicológica ou moral. Se as vítimas mais frequentes da violência patriarcal costumam ser mulheres e crianças, é também importante destacar a violência sofrida por LGBTQIA+.  
Entretanto, é importante destacar que de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos em 2019, a maioria dos casos de violência sexual contra crianças aconteceram dentro do ambiente de sua residência, no qual seus agressores são membros de seu ciclo familiar. Com a permanência destes indivíduos por mais tempo dentro de casa a preocupação com o aumento destes casos se amplia.
A esperança para a diminuição da violência patriarcal estaria na maternagem e paternagem não violentas, de modo que a parentalidade não esteja ancora no autoritarismo e na agressão e sim no diálogo e no respeito, mostrando a importância que desde a infância as crianças não sejam expostas a atos de violência.  
Diante disto, existem recomendações feitas pela UNICEF (Fundos das Nações Unidas para a Infância) as autoridades para que nesse momento seja reforçada a atenção as crianças, dado ao fato de serem altamente prejudicadas principalmente pela sua base de apoio e o início de sua inserção na sociedade, entre as recomendações estão: 
>> Aumento de compartilhamento a respeito de serviços de referência, e outros de apoio disponíveis para crianças 
>> Fornecimento de apoio a centros de cuidados provisórios, incluindo famílias chefiadas por crianças/adolescentes e famílias substitutas 
>> Apoio emocional a crianças a fim de engajá-los no autocuidado apropriado 
>> Assistência financeira e material para famílias que tiveram sua forma de obtenção de renda afetada  
>> Implementação de medidas para impedir a separação da criança de sua família 
>> Garantir apoio a crianças deixadas sozinhas sem os cuidados adequados devido à hospitalização ou morte de um dos pais ou cuidador 
Treinar a equipe de saúde, educação e serviços para crianças sobre os riscos à proteção infantil relacionados à Covid-19 

Referências:

Santiago, Viviane. Estar em casa significa proteção. Mas e criança que vive em lar violento?. Geledes- instituto da mulher negra. Disponível em  https://www.geledes.org.br/estar-em-casa-significa-protecao-mas-e-crianca-que-vive-em-lar-violento/.09 /04/2020 

Montenegro, Érica. Como a violência doméstica impacta a saúde mental. Geledes- instituto da mulher negra. Disponível em https://www.geledes.org.br/como-a-violencia-domestica-impacta-a-saude-mental/ 09/04/2020 

hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 1° edição. Rio de janeiro. Rosa dos tempos. 2018 

Organização das Nações Unidas/Brasil. COVID-19: Crianças enfrentam risco maior de abuso e negligência em meio a medidas de contenção.  23/03/2020. Disponível em https://nacoesunidas.org/covid-19-criancas-enfrentam-risco-maior-de-abuso-e-negligencia-em-meio-a-medidas-de-contencao/ 

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