Covid-19 ou Corona Vírus, nomes utilizados
atualmente para identificar o mais novo inimigo da população mundial.
Silencioso e invisível, o novo corona vírus tomou
a todos de surpresa e, com a pandemia, a medida que se mostrou
realmente eficaz ao combate de sua propagação foi o isolamento social. Logo
vieram as campanhas como "fique em casa”, mostrando as residências como o
único lugar capaz de oferecer real segurança.
Entretanto, para algumas pessoas, estar diante da
necessidade de dividir longos períodos de tempo com outros moradores de sua
residência, na verdade significa estar ainda mais vulnerável diante da
violência patriarcal.
Ao lidar com o termo “violência patriarcal” é
importante elucidar que ela existe em mais de uma forma, sendo comumente tratado
como “violência doméstica”, termo que para bell hooks (2019) parece tornar
a violência como algo mais suave em um contexto íntimo e
privado, no qual argumenta logo após que “a violência patriarcal em casa é
baseada na crença de que é aceitável que um indivíduo mais poderoso controle
outros por meio de várias formas de força coercitiva”. Incluindo
maus-tratos, violência de gênero, exploração, exclusão social e separação de
cuidadores, a violência sofrida em ambiente privado incide, mais
frequentemente, em pessoas vulnerabilizadas por relações desiguais.
Gênero, raça, classe, diferenças geracionais e sexualidade são recortes
importantes a serem feitos quando o tema é violência patriarcal. Portanto
tratar a violência patriarcal em tempos de isolamento social, significa
estar atenta aos eventos ocorridos durante o período da quarentena, que em
vários países tem se mostrado muito mais extensos em nível de
preocupação.
Como consequência dessa violência, se torna cada
vez mais comum que as vítimas desenvolvam diversos quadros de problemas
psicológicos como depressão e ansiedade, no qual o medo de sofrer agressão
física, verbal ou até constantes ameaças são causadores do aumento do
“adoecimento mental”. Isso faz com que a vítima muitas vezes tenha em si um
sentimento de que não há formas de escapar ou a quem recorrer, se encontrando
perdida diante do terror vivido cotidianamente em sua residência. Esse terror
“doméstico” acaba por ser agravado em tempos de pandemia, e um novo medo de
procurar ajuda se aprofunda, especialmente em um momento em que as ruas se
encontram esvaziadas, diante da orientação oficial de se fazer o isolamento
social.
É importante que não se deixe esquecer que
as vítimas da violência patriarcal não seguem um padrão específico, entretanto
o contexto social no qual estão inseridas pode se tornar um agravante em
algumas questões frente à situação em que a instabilidade econômica contribui
para o aumento de situações de agressão física, verbal, psicológica ou moral.
Se as vítimas mais frequentes da violência patriarcal costumam ser mulheres
e crianças, é também importante destacar a violência sofrida por LGBTQIA+.
Entretanto, é importante destacar que de acordo
com dados do Ministério dos Direitos Humanos em 2019, a maioria dos casos de
violência sexual contra crianças aconteceram dentro do ambiente de sua
residência, no qual seus agressores são membros de seu ciclo familiar. Com a
permanência destes indivíduos por mais tempo dentro de casa a preocupação com o
aumento destes casos se amplia.
A esperança para a diminuição da violência
patriarcal estaria na maternagem e paternagem não violentas, de modo que a
parentalidade não esteja ancora no autoritarismo e na agressão e sim no diálogo
e no respeito, mostrando a importância que desde a infância as crianças não
sejam expostas a atos de violência.
Diante disto, existem recomendações feitas pela
UNICEF (Fundos das Nações Unidas para a Infância) as autoridades para que nesse
momento seja reforçada a atenção as crianças, dado ao fato de serem altamente
prejudicadas principalmente pela sua base de apoio e o início de sua inserção
na sociedade, entre as recomendações estão:
>> Aumento de compartilhamento a respeito de serviços de
referência, e outros de apoio disponíveis para crianças
>> Fornecimento de apoio a centros de cuidados provisórios,
incluindo famílias chefiadas por crianças/adolescentes e famílias substitutas
>> Apoio emocional a crianças a fim de engajá-los no autocuidado
apropriado
>> Assistência financeira e material para famílias que tiveram sua
forma de obtenção de renda afetada
>> Implementação de medidas para impedir a separação da
criança de sua família
>> Garantir apoio a crianças deixadas sozinhas sem os cuidados
adequados devido à hospitalização ou morte de um dos pais ou cuidador
Treinar a equipe de saúde, educação e serviços para crianças sobre os
riscos à proteção infantil relacionados à Covid-19
Referências:
Santiago, Viviane. Estar em casa significa proteção. Mas e criança que
vive em lar violento?. Geledes- instituto da mulher negra. Disponível em
https://www.geledes.org.br/estar-em-casa-significa-protecao-mas-e-crianca-que-vive-em-lar-violento/.09
/04/2020
Montenegro, Érica. Como a violência doméstica impacta a saúde mental.
Geledes- instituto da mulher negra. Disponível em
https://www.geledes.org.br/como-a-violencia-domestica-impacta-a-saude-mental/
09/04/2020
hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas
arrebatadoras. 1° edição. Rio de janeiro. Rosa dos tempos. 2018
Organização das Nações Unidas/Brasil. COVID-19: Crianças enfrentam
risco maior de abuso e negligência em meio a medidas de contenção. 23/03/2020.
Disponível em https://nacoesunidas.org/covid-19-criancas-enfrentam-risco-maior-de-abuso-e-negligencia-em-meio-a-medidas-de-contencao/
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