No dia 23 de agosto de 2017 o grupo PET-Geografia do IM se
comprometeu a iniciar a leitura e discussão dos textos presentes nas
bibliografias utilizadas pelas pesquisas em andamento, as quais estão sendo
elaboradas pelos integrantes e são relacionadas aos conflitos territoriais e
resistência Caiçara em São Gonçalo, município de Paraty. Cada pesquisa faz
parte de um eixo temático, e neste dia o eixo era referente ao tema “técnica”,
sob o contexto da região estudada.
Para
além do progresso
Neste momento inicial, o autor afirma que, dentro das
contradições do mundo moderno-colonial, o desafio ambiental está presente,
visto que a ideia de progresso e desenvolvimento se tornou sinônimo de
dominação da natureza. Portanto, o ambientalismo trouxe consigo uma questão
importante para se pensar acerca do modo de produção e consumo hegemônico, isto
é, percebeu-se que “há limites para a dominação da natureza”.
Contudo, o é salientado no texto que os ambientalistas são
acusados de quererem voltar ao passado, devido à renegação dos princípios de
progresso e desenvolvimento. Sabe-se que estes princípios são provenientes das
produções filosóficas vindas do Iluminismo, tendo como vertentes posteriores,
os princípios liberais, ou seja, dos capitalistas, ou de marxistas
produtivistas, tais como os que defendiam o desenvolvimento soviético.
Limites
do Desenvolvimento, os Limites da Técnica e Temporalidades e Territorialidades
em tensão
Neste momento o autor resgata as ideias de dominação da
natureza e relembra que são tratadas quase como uma “luta” entre o ser humano e
a natureza, para que assim, o homem tenha que superá-la. No entanto, é mostrado
que essa ideia é equivocada, pois “sofremos, reflexivamente, os efeitos da
própria intervenção que a ação humana provoca por meio do poderoso sistema
técnico que moderno-colonialmente se impõe” (PORTO-GONÇALVES, 2006, p.69).
Portanto, o autor sugere que ao invés de haver esse conflito
entre “Homem x Natureza”, dever-se-ia repensar os efeitos do sistema técnico
vigente sobre a natureza. Permitindo-se citar a observação do geógrafo Milton
Santos, que atenta ao fato de que:
"não há sistema técnico dissociado de um sistema de ações, de
um sistema de normas, de um sistema de valores, e, assim, sinaliza para que não
o reifiquemos afirmando uma ação do sistema técnico como se ele se movesse por si mesmo, sem ninguém que o impulsionasse"
(SANTOS, 1996).
Adiante, Porto-Gonçalves define o que seria o “desafio
ambiental” com uma questão a se pensar sobre o risco que, a lógica mercantil e
desigual submetida pela humanidade e seus modos de produção e consumo atuam
sobre a natureza. Logo em seguida, são utilizados como auxílio, alguns dados da
ONU do ano de 2002, referentes ao consumo de recursos naturais, o que demonstra
que o 86% do consumo privado de recursos naturais no mundo está nas mãos de 20%
dos mais ricos do mundo, enquanto somente 14% está sob o poder dos demais. Em
seguida, outro gráfico é exposto, porém dessa vez referente ao consumo de
aparelhos de telefone entre ricos e pobres no mundo: 74% do consumo pertence
aos 20% mais ricos, 21% do consumo pertence aos 60% da média entre os mais
ricos e mais pobres, e 5% pertence aos 20% mais pobres. Portanto, é explicitado
a expressiva desigualdade social que o mundo apresenta.
Logo mais, o autor complementa o raciocínio exposto com a
questão da importância da vida com o equilíbrio dinâmico do planeta, o que
implica questões de ordem ética e política. Compreende-se assim, que prática
como a intensa exploração de recursos naturais e do trabalho geram grandes
problemas que podem comprometer a vida no e do planeta.
Por fim, o autor sugere que olhemos para as práticas
produtivas de forma que sejam dotadas de temporalidades, e portanto, não deixa
de citar a importância de saberes dos povos tradicionais com a natureza,
apresentando assim, alternativas para um modo produtivo e que dialogue com a vida.
Por: Marcus Vinicius C. Aguiar - bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ