Por Michele Souza
Espaço-tempo? Metropolização? Que
relações existem entre estes fatores?
O advento do periodo
Científico-Técnico permitiu afinal, que, na prática, isto é, na história,
espaço e tempo se fundissem, confundindo-se. Não há, nas ciências sociais, como
tratá-los separadamente. Sob o risco de tautologia², as categorias de análise
devem ser outras, e não mais tempo e espaço, já que as definições se tornaram
recíprocas. E a cidade, sobretudo a grande cidade é o fenômeno mais
representativo dessa união.
O espaço é, em todos os tempos, o
resultado do casamento indissolúvel entre sistemas de objetos e sistemas de
ações. Hoje graças às técnicas, que realizam através da matéria a união do
espaço e do tempo, tanto esses objetos são artificiais ou, em todo caso,
plenamente históricos, quanto as ações tendem a ser artificiosamente
instrumentalizadas.
Que é, assim, esse Tempo do
Mundo? Isso existe? Nós sabemos que há apenas um relógio mundia, mas não um
tempo mundial. Seja como for, a
distância do homem comum em relação a esse novo Tempo do Mundo é maior, muito
maior do que antes. A mundialização multiplica o número de vetores e, na
verdade, aumenta as distâncias entre instituições e pessoas, Ubiqüidade, aldeia
global, instantaneidade são, para o homem comum, apenas uma fábula.
A cidade é o lugar em que o mundo
se move mais, e os homens também. A co-presença ensina aos homens a diferença.
Por isso, a cidade, mais numeroso e significativo o movimento, mais vasta e
densa a co-presença e também maiores as lições e o aprendizado.
Na cidade, hoje, a “naturalidade”
do objeto técnico ---- uma mecânica repetitiva, um sistema de gestos sem
surpresa--- essa historização da metafísica, crava no organismo urbano, áreas
“luminosas”, constituídas ao sabor da modernidade e que se justapõem, superpõem
e contrapõem ao resto da cidade onde vivem os pobres, nas zonas urbanas
“opacas”.³
A estrutura dessa população de
“homens comuns” favorece o processo. A chegada incessante de migrantes à cidade
aumenta a variedade dos sujeitos... dos sujeitos comuns e das interpretações
mais próximas do “real”. A temporalidade introjetada que acompanha o migrante
se contrapõe à temporalidade que no lugar novo quer abrigar-se no sujeito
instala-se, assim, um choque de orientações, obrigando a uma nova busca de
interpretações.
Para os migrantes pobres e para
os pobres de um modo geral, o espaço “inorgânico” é um aliado da ação, a
começar pela ação de pensar, enquanto a classe média e os ricos são envolvidos
pelas próprias teias que, para seu conforto, ajudaram a tecer: as teias de uma
racionalidade invasora de todos os arcanos da vida, essas regulamentações,
esses caminhos marcados que empobreceram e eliminam a orientação ao futuro. Por
isso os “espaços luminosos” da metrópole, espaços da racionalidade, é que são ,
de fato, os espaços opacos. 4
Comentários:
¹ In: SANTOS. M. Técnica, Espaço,
Tempo, globalização e meio técnico-científico informacional. Editora Hucitec,
São Paulo, 1994.
² Consiste na repetição de um
conceito.
³ como exemplo no Rio de Janeiro
entre outros bairros da zona sul, o
bairro Copacabana é uma zona “luminosa”, vista, um cartão postal do Rio de
Janeiro para o Brasil e mundo. Em contrapartida uma favela localizada até mesmo
no próprio bairro Copacabana tende a ser apagada e esquecida, colocando esta
muitas vezes não pertecente a cidade.
4 Ricos e classes
médias que optam por moradias em
condomínios cada vez mais fechados e isolados da realidade na cidade.
Esse Miltão era Phoda!!!
ResponderExcluirViva Milton Santos!