quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Resumo texto: “Metrópole: a força dos fracos é seu tempo lento”, SANTOS. M.¹


Por Michele Souza

Espaço-tempo? Metropolização? Que relações existem entre estes fatores?
O advento do periodo Científico-Técnico permitiu afinal, que, na prática, isto é, na história, espaço e tempo se fundissem, confundindo-se. Não há, nas ciências sociais, como tratá-los separadamente. Sob o risco de tautologia², as categorias de análise devem ser outras, e não mais tempo e espaço, já que as definições se tornaram recíprocas. E a cidade, sobretudo a grande cidade é o fenômeno mais representativo dessa união.

O espaço é, em todos os tempos, o resultado do casamento indissolúvel entre sistemas de objetos e sistemas de ações. Hoje graças às técnicas, que realizam através da matéria a união do espaço e do tempo, tanto esses objetos são artificiais ou, em todo caso, plenamente históricos, quanto as ações tendem a ser artificiosamente instrumentalizadas.

Que é, assim, esse Tempo do Mundo? Isso existe? Nós sabemos que há apenas um relógio mundia, mas não um tempo mundial. Seja  como for, a distância do homem comum em relação a esse novo Tempo do Mundo é maior, muito maior do que antes. A mundialização multiplica o número de vetores e, na verdade, aumenta as distâncias entre instituições e pessoas, Ubiqüidade, aldeia global, instantaneidade são, para o homem comum, apenas uma fábula.

A cidade é o lugar em que o mundo se move mais, e os homens também. A co-presença ensina aos homens a diferença. Por isso, a cidade, mais numeroso e significativo o movimento, mais vasta e densa a co-presença e também maiores as lições e o aprendizado.

Na cidade, hoje, a “naturalidade” do objeto técnico ---- uma mecânica repetitiva, um sistema de gestos sem surpresa--- essa historização da metafísica, crava no organismo urbano, áreas “luminosas”, constituídas ao sabor da modernidade e que se justapõem, superpõem e contrapõem ao resto da cidade onde vivem os pobres, nas zonas urbanas “opacas”.³

A estrutura dessa população de “homens comuns” favorece o processo. A chegada incessante de migrantes à cidade aumenta a variedade dos sujeitos... dos sujeitos comuns e das interpretações mais próximas do “real”. A temporalidade introjetada que acompanha o migrante se contrapõe à temporalidade que no lugar novo quer abrigar-se no sujeito instala-se, assim, um choque de orientações, obrigando a uma nova busca de interpretações.

Para os migrantes pobres e para os pobres de um modo geral, o espaço “inorgânico” é um aliado da ação, a começar pela ação de pensar, enquanto a classe média e os ricos são envolvidos pelas próprias teias que, para seu conforto, ajudaram a tecer: as teias de uma racionalidade invasora de todos os arcanos da vida, essas regulamentações, esses caminhos marcados que empobreceram e eliminam a orientação ao futuro. Por isso os “espaços luminosos” da metrópole, espaços da racionalidade, é que são , de fato, os espaços opacos. 4


Comentários:

¹ In: SANTOS. M. Técnica, Espaço, Tempo, globalização e meio técnico-científico informacional. Editora Hucitec, São Paulo, 1994.

² Consiste na repetição de um conceito.


³ como exemplo no Rio de Janeiro entre outros bairros da zona sul,  o bairro Copacabana é uma zona “luminosa”, vista, um cartão postal do Rio de Janeiro para o Brasil e mundo. Em contrapartida uma favela localizada até mesmo no próprio bairro Copacabana tende a ser apagada e esquecida, colocando esta muitas vezes não pertecente a cidade.

4 Ricos e classes médias  que optam por moradias em condomínios cada vez mais fechados e isolados da realidade  na cidade.

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