quinta-feira, 30 de abril de 2020

PET no Instagram

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Isolamento social e comportamento alimentar: o que não ajuda neste momento e como garantir autocuidado como resistência





Isolamento social e comportamento alimentar: o que não ajuda neste momento e como garantir autocuidado como resistência

Queila Romualdo da Silva

O Brasil adotou medidas de distânciamento social e quarentena há um pouco mais de um mês devido à pandemia global do Corona Vírus (COVID-19). A diminuição do contato social entre as pessoas, gerada pelo isolamento, pode acarretar em diversos impactos psicológicos negativos e preocupantes.
A quebra inicial de rotina pode gerar sintomas como ansiedade, medo, introspecção, estresse e apatia. Mas, também é importante falarmos sobre o quanto o isolamento social afeta o nosso comportamento alimentar.
Os períodos prolongados de isolamento social podem facilitar comportamentos característicos de doenças como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtornos de compulsão alimentar. O distúrbio alimentar leva a pessoa a ter uma obsessão sobre o seu peso e aquilo que come. Porém, esse período também se torna muito propício para usarmos a ingestão de comida – aumentada ou diminuída – como tentativa de atenuar estados emocionais negativos, como ansiedade, raiva, frustrações e tédio.
No entanto, é importante ressaltar que uma das formas de cuidarmos de nosso comportamento alimentar nesse período tão difícil e conturbado que estamos vivendo é a prática do autocuidado como forma de resistência.
O autocuidado nada mais é que olhar para si mesmo de vez em quando, se auto avaliar e reservar um tempo, mesmo que pouco, para cuidar de si. Essa prática, além de melhorar a nossa autoestima, tem sido uma grande aliada em termos de sobrevivência no isolamento social.
Essa visão reducionista e problemática de que vamos engordar durante a quarentena não é adequada e se a nossa única preocupação do momento for essa, está mais que na hora de avaliarmos as políticas de dieta e ditaduras do “corpo magro” que cercam as nossas vidas.
Recai sobre essa questão um grande paradigma que consiste na perda de padrões alimentares secularmente construídos, com base no território, na terra e no legado ancestral. Hoje, os substituímos na nossa realidade urbana-industrial, por fórmulas previamente preparadas em laboratório, que nos garantem mais confiabilidade nutricional do que os legumes e frutas que não carregam propaganda em suas embalagens – cascas.
Daí se estabelece uma confusão a partir do saber sobre o que se come. A informação que a indústria propaga, mais confunde do que ajuda. Ao endeusar certos tipos de produtos alimentícios, sobretudo aqueles que as blogueiras nos bombardeiam nas redes sociais, demonizamos certos alimentos, sobretudo os naturais, de baixo valor agregado e nenhuma propaganda milionária por trás. Em algum lugar do nosso subconsciente, começamos cada vez mais a achar que o problema está neles e que eles não são capazes o suficiente para nos alimentar, e ainda, não são capazes o suficiente para nos dar os corpos que endeusamos nas mídias. É preciso voltar à terra e ao que nasce dela, resgatando um comportamento alimentar simples e acessível.
A importância de seguirmos um comportamento alimentar pautado em uma rotina ajuda a evitarmos compulsões alimentares por motivos de estresse, medo ou ansiedade. Uma excelente dica é aproveitar que as crianças estão em casa devido à paralisação das escolas e estipular horários fixos para as refeições (Café da manhã, almoço, jantar e lanches). Além de, chamá-las para participar do preparo dos alimentos e estimular o desejo por uma boa alimentação.
Outra dica para ter uma alimentação equilibrada é criar um cardápio alimentar dividido em categorias como: Proteínas, Verduras, Frutas, Grãos ou Laticínios que facilitam muito a compra mensal para evitar a ida ao mercado diversas vezes por semana. Além disso, comprar verduras e frutas que durem um pouco mais de tempo é muito eficiente. É possível ainda congelar alguns vegetais e frutas para que possam ser utilizados em preparações e receitas e, assim, durem por mais tempo. E, não podemos esquecer de higienizar adequadamente os alimentos e embalagens com água sanitária, sabão ou álcool 70 antes de ir para a geladeira e dispensa.
Sabemos que o momento que enfrentamos é muito conturbado e preocupante, mas precisamos encontrar uma rotina. Se estivermos sempre atentos a uma boa alimentação, sem pressões para alcançar um corpo que idealizamos através das redes sociais, evitaremos comportamentos alimentares compulsivos e garantiremos o autocuidado para resistir nesse momento tão difícil.

Dicas de Perfis sobre alimentação para ficarmos por dentro nessa quarentena:

Blog Amigas da Cozinha: Unidos na quarentena - disponível em: https://amigasdacozinha.com.br/blog_unidosnaquarentena?blog=354rhwtlo&video=242o81i7k
Perfis Instagram:
@brunacrioula
@comermudaomundo
@Isabelamota.nutricionista
@alexandrismos
@ojoioeotrigo

Documentários:
Muito Além do Peso
Cooked - Michael Pollan

Leituras:
O Mito da Beleza - Naomi Wolf

Podcast:
Prato Cheio
Disponível em: https://open.spotify.com/show/44Ubq2POFmm15Ld67pIbgV?si=hCe657uMRN-1pM-FaMeA3g



quarta-feira, 29 de abril de 2020



A reunião de hoje foi incrível! Funcionou como uma roda de conversa sobre o texto "O futuro não está à venda" de Aiton Krenak, que tanto fala sobre nossas experiências nos dias de hoje e das possibilitarmos de no presente desenharmos possibilidades futuras. Quem não pôde comparecer, fica atento para não perder a próxima! 

Tanto essa como as próximas reuniões terá emissão de certificado! Sem contar que a troca é boa demais.




sábado, 25 de abril de 2020

Roda de conversa (virtual)


Chega lá, é ABERTA (especialmente às/aos interessadas/os em ingressar no grupo) 

Saúde mental dentro de casa? O aumento do número de casos de violência patriarcal


       Covid-19 ou Corona Vírus, nomes utilizados atualmente para identificar o mais novo inimigo da população mundial.  
Silencioso e invisível, o novo corona vírus tomou a todos de surpresa e, com a pandemia, a medida que se mostrou realmente eficaz ao combate de sua propagação foi o isolamento social. Logo vieram as campanhas como "fique em casa”, mostrando as residências como o único lugar capaz de oferecer real segurança.  
Entretanto, para algumas pessoas, estar diante da necessidade de dividir longos períodos de tempo com outros moradores de sua residência, na verdade significa estar ainda mais vulnerável diante da violência patriarcal.  
Ao lidar com o termo “violência patriarcal” é importante elucidar que ela existe em mais de uma forma, sendo comumente tratado como “violência doméstica”, termo que para bell hooks (2019) parece tornar a violência como algo mais suave em um contexto íntimo e privado, no qual argumenta logo após que “a violência patriarcal em casa é baseada na crença de que é aceitável que um indivíduo mais poderoso controle outros por meio de várias formas de força coercitiva”. Incluindo maus-tratos, violência de gênero, exploração, exclusão social e separação de cuidadores, a violência sofrida em ambiente privado incide, mais frequentemente, em pessoas vulnerabilizadas por relações desiguais. Gênero, raça, classe, diferenças geracionais e sexualidade são recortes importantes a serem feitos quando o tema é violência patriarcal. Portanto tratar a violência patriarcal em tempos de isolamento social, significa estar atenta aos eventos ocorridos durante o período da quarentena, que em vários países tem se mostrado muito mais extensos em nível de preocupação. 
Como consequência dessa violência, se torna cada vez mais comum que as vítimas desenvolvam diversos quadros de problemas psicológicos como depressão e ansiedade, no qual o medo de sofrer agressão física, verbal ou até constantes ameaças são causadores do aumento do “adoecimento mental”. Isso faz com que a vítima muitas vezes tenha em si um sentimento de que não há formas de escapar ou a quem recorrer, se encontrando perdida diante do terror vivido cotidianamente em sua residência. Esse terror “doméstico” acaba por ser agravado em tempos de pandemia, e um novo medo de procurar ajuda se aprofunda, especialmente em um momento em que as ruas se encontram esvaziadas, diante da orientação oficial de se fazer o isolamento social. 
 É importante que não se deixe esquecer que as vítimas da violência patriarcal não seguem um padrão específico, entretanto o contexto social no qual estão inseridas pode se tornar um agravante em algumas questões frente à situação em que a instabilidade econômica contribui para o aumento de situações de agressão física, verbal, psicológica ou moral. Se as vítimas mais frequentes da violência patriarcal costumam ser mulheres e crianças, é também importante destacar a violência sofrida por LGBTQIA+.  
Entretanto, é importante destacar que de acordo com dados do Ministério dos Direitos Humanos em 2019, a maioria dos casos de violência sexual contra crianças aconteceram dentro do ambiente de sua residência, no qual seus agressores são membros de seu ciclo familiar. Com a permanência destes indivíduos por mais tempo dentro de casa a preocupação com o aumento destes casos se amplia.
A esperança para a diminuição da violência patriarcal estaria na maternagem e paternagem não violentas, de modo que a parentalidade não esteja ancora no autoritarismo e na agressão e sim no diálogo e no respeito, mostrando a importância que desde a infância as crianças não sejam expostas a atos de violência.  
Diante disto, existem recomendações feitas pela UNICEF (Fundos das Nações Unidas para a Infância) as autoridades para que nesse momento seja reforçada a atenção as crianças, dado ao fato de serem altamente prejudicadas principalmente pela sua base de apoio e o início de sua inserção na sociedade, entre as recomendações estão: 
>> Aumento de compartilhamento a respeito de serviços de referência, e outros de apoio disponíveis para crianças 
>> Fornecimento de apoio a centros de cuidados provisórios, incluindo famílias chefiadas por crianças/adolescentes e famílias substitutas 
>> Apoio emocional a crianças a fim de engajá-los no autocuidado apropriado 
>> Assistência financeira e material para famílias que tiveram sua forma de obtenção de renda afetada  
>> Implementação de medidas para impedir a separação da criança de sua família 
>> Garantir apoio a crianças deixadas sozinhas sem os cuidados adequados devido à hospitalização ou morte de um dos pais ou cuidador 
Treinar a equipe de saúde, educação e serviços para crianças sobre os riscos à proteção infantil relacionados à Covid-19 

Referências:

Santiago, Viviane. Estar em casa significa proteção. Mas e criança que vive em lar violento?. Geledes- instituto da mulher negra. Disponível em  https://www.geledes.org.br/estar-em-casa-significa-protecao-mas-e-crianca-que-vive-em-lar-violento/.09 /04/2020 

Montenegro, Érica. Como a violência doméstica impacta a saúde mental. Geledes- instituto da mulher negra. Disponível em https://www.geledes.org.br/como-a-violencia-domestica-impacta-a-saude-mental/ 09/04/2020 

hooks, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 1° edição. Rio de janeiro. Rosa dos tempos. 2018 

Organização das Nações Unidas/Brasil. COVID-19: Crianças enfrentam risco maior de abuso e negligência em meio a medidas de contenção.  23/03/2020. Disponível em https://nacoesunidas.org/covid-19-criancas-enfrentam-risco-maior-de-abuso-e-negligencia-em-meio-a-medidas-de-contencao/ 

terça-feira, 21 de abril de 2020

Como ficam outros tratamentos de saúde durante a quarentena?





Como ficam outros tratamentos de saúde durante a quarentena?

Thiago Cardoso (bolsista PETGEO UFRRJ/IM)

Pensar o funcionamento da Saúde Pública, já tão precarizada por falta de políticas eficazes que atendam a grande demanda da população brasileira, é uma das maiores inquietações que a pandemia da COVID-19 nos proporciona.
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e outros agravos. Em caso de riscos de epidemia, a quarentena e os isolamentos são indicados a fim de conter o agravamento da situação e equilibrar o atendimento para dar preferência a casos graves, já que o sistema de saúde não suportaria tamanho carecimento.
Mesmo com todas as atenções voltadas para os riscos e de como se proteger do novo coronavirús, uma série de tratamentos necessitam de continuidade, principalmente pacientes que podem apresentar quadros mais complexos com a COVID-19.
Doenças oncológicas, trombose, aneurisma da aorta, doença arterial obstrutiva periférica e pé diabético, hemodiálise são muitos os que precisam de acompanhamento médico regular. E, ao menor dos sintomas de piora do quadro, o angiologista ou o cirurgião vascular que acompanha o caso deve ser procurado.
A Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) preocupa-se com os pacientes que não seguem as recomendações de cuidados e acompanhamento das doenças vasculares no período de quarentena, e aconselha que o acompanhamento médico seja feito, ao menos, por telefone ou videoconferência.
A recomendação do Ministério da saúde, no momento, é adiar consultas e exames simples eletivos ou de rotina, reduzindo a exposição. É importante também evitar visitas hospitalares e, se possível, não levar acompanhantes em consulta.
Por outro lado diante do isolamento, e da quantidade de notícias verdadeiras e falsas veiculadas pelas redes sociais e meios de comunicação, e a instabilidade no futuro, pessoas desenvolvem ou veem aflorar crises psicológicas, necessitando de acompanhamento e apoio para amenizar os danos causados pelo estresse e confinamento. Mas o que também torna essa pandemia diferente é que, como todos nós estamos conectados globalmente pela internet e pelas redes sociais, somos capazes de oferecer apoio uns aos outros, mesmo que estejamos socialmente isolados.
Redes de solidariedade têm se expandido cada vez mais. Um grupo de psicólogos do Rio de Janeiro estão oferecendo atendimento voluntário on line durante a pandemia do novo coronavírus. O atendimento psicológico virtual do Projeto Humanidades 2020 tem por objetivo exclusivo dar assistência para profissionais de saúde ou outras pessoas que estejam apresentando sintomas emocionais, tais como ansiedade, angústia, relacionados à crise gerada pela mudança de rotina neste período. O contato inicial preferencialmente deve ser realizado via WhatsApp e o grupo tem 60 psicólogas e psicólogos dispostos a atender remotamente.
As Universidades públicas também têm colaborado nesse acolhimento, como é o caso do  projeto Plantão Psicológico apoiado pela UFRRJ (Campus Três Rios) E PROAES é coordenado pelas professoras Carla Vicente e Luciene Rocinholi, do curso de Psicologia, Instituto de Educação. Trata-se de um atendimento imediato dirigido à escuta clínica dos diversos sentidos do sofrimento psíquico em situação emergencial ou eventual. A proposta não é realizar psicoterapia, mas oferecer escuta e acolhimento às pessoas em momentos de crises.
O aumento de pessoas e instituições que se disponibilizam, auxiliam e indicam acompanhamentos gratuitos para amenizar as consequências do momento atual, nos alerta para uma nova esperança de possíveis sociedades mais unidas e brechas para que se ocupe a solidariedade, repensando e reinventando modos de Re-existencia, resistência e, sobretudo sobrevivência.
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https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-04/paciente-sem-acompanhamento-na-quarentena-pode-ter-consequencia-grave
oncoguia.org.br/conteudo/paciente-com-cancer-cuidados-especiais-em-tempos-de-coronavirus/13432/8/
https://apublica.org/2020/03/a-historia-nos-ensinou-que-as-pessoas-sao-resilientes-diz-autor-do-livro-a-psicologia-da-pandemia/
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2020/04/06/veja-uma-lista-de-psicologos-que-fazem-atendimento-virtual-durante-a-pandemia.ghtml
https://itr.ufrrj.br/portal/projeto-plantao-psicologico-faz-atendimento-on-line-a-comunidade-ruralina/

Ciclo de reflexões - Geografia, Cotidiano e Saúde - leitura coletiva "O amanhã não está à venda"



segunda-feira, 6 de abril de 2020

Favelas e periferias frente à Pandemia da Covid-19



Favelas e periferias frente à Pandemia da Covid-19

Fernanda Santos de Lima


Com a pandemia, comumente nos deparamos com notícias sobre formas de lidar com esse momento, sugestões para nossa saúde física e psíquica, sugestões que, inclusive, incluem formas de consumo que não exija o deslocamento; tais como, pedir comida via aplicativo, assistir a Netflix, aproveitar para fazer cursos de educação à distância (EaD). Entretanto, é necessário considerar a dimensão classista do momento que estamos vivenciando, e deixar de lado a romantização das fábulas que nos são contadas sobre a globalização (Santos, 2000).
As sugestões básicas conferidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), coloca o isolamento social em primeiro lugar, e bem sabemos que para nos isolar, é necessário termos abrigo (casa), o que não é a realidade muitos brasileiros. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), os dados de 2015 expõem que no Brasil mais de 101 mil pessoas encontram-se em situação de rua. Outra medida essencial para conter o avanço do vírus é ampliar a higienização, que inclui o hábito de lavar as mãos com água e sabão por um minuto e várias vezes ao dia, o que, considerando uma distribuição hídrica eficiente para todos, não seria um problema; mas essa não é uma realidade nas favelas. A falta de água tratada é uma problemática constante. A arquiteta e urbanista Tainá de Paula, sobre o Covid-19 nas favelas e periferias, em específico da região metropolitana do Rio de Janeiro, chama atenção também para o adensamento populacional nesses espaços que, trocando em miúdos, é sobre a concentração excessiva de pessoas num determinado espaço. Segundo o Infográfico da Desigualdade, disponibilizado pela Casa Fluminense no dia 23 de março, quartos com mais de três pessoas é a realidade de três mil casas da região metropolitana do Rio de Janeiro, com as favelas do complexo da Maré, Rocinha e Cidade de Deus, entre as regiões mais adensadas da capital. 
O vírus não chega num mundo como ele é, e sim, ao que tem sido feito do mundo; as formas que os governos têm se articulado e para quais pessoas esses sujeitos têm governado (Massey, 2008) precisam ser consideradas. Se a necropolítica (Mbembe, 2016), que decide quais corpos podem morrer, já era a lógica que prevalecia até então, num momento como esse, são esses corpos que estão numa posição de maior vulnerabilidade. São os corpos favelados, são os corpos pretos e pobres, e os corpos das mulheres os estão sendo mais violentados dentro de suas próprias casas. Se grande parte das pessoas que residem nas favelas encontram extrema dificuldade de acatar as orientações básicas para proteger-se, e até mesmo, não obtém as mínimas condições para a sobrevivência digna em meio à crise, todas essas questões tornam-se questões políticas. 
Todas essas questões emergem como dedo em feridas coloniais abertas, não cicatrizadas mesmo após séculos, pois o pensamento ocidental que visa a redenção do outro transcorre os tempos, é o que militariza o cotidiano e desvaloriza vidas. Todas essas questões e as tantas outras que não foram aqui mencionadas, fazem emergir a necessidade de ideias para adiar o que parece tão próximo ao fim do mundo (Krenak, 2019), mostrando a necessidade de outras formas de pensar, que valorizem, sobretudo, a vida.
    A hastag #COVID19NasFavelas foi uma estratégia utilizada por moradores com acesso às redes para denunciar problemáticas que estão vivenciando, também é possível identificar mobilizações realizadas por moradores mantê-los informados e também para recolher alimentos, kits de higiene básica, dentre outros itens para aqueles/as que mais precisam. 



Imagem retirada do site Favela em Pauta, acesso: https://favelaempauta.com/





FONTES: 
MASSEY, Doreen B. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Bertrand Brasil, 2008.
Mapa da desigualdade. Casa Fluminense. 25 de março de 2020. Disponível em <https://www.caurj.gov.br/casa-fluminense-lanca-serie-infograficos-da-desigualdade-frente-a-pandemia-de-coronavirus/>
MBEMBE, Achille, Necropolítica. Artes e Ensaios, n. 32. 2016.
MILTON, SANTOS. Por uma outra globalização: Do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Record, 2000.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. Companhia das Letras, 2019.

Notícias da UFRRJ - O que dizem os especialistas sobre a inserção do ensino online na vida dos estudantes neste contexto

Ensino a distancia é mais um dos desafios trazidos pela pandemia

O que dizem os especialistas sobre a inserção do ensino online na vida dos estudantes neste contexto

 da Redação da Coordenadoria de Comunicação Social/UFRRJ

A necessidade de isolamento social, como forma de conter a propagação da doença do novo coronavírus, provocou a suspensão das aulas no início do ano letivo em escolas e universidades brasileiras. A pandemia trouxe inúmeras incertezas, entre elas não saber quando será seguro retornarmos ao ambiente das salas de aula. A indefinição sobre o tempo que ainda teremos de ficar isolados impulsionou instituições de ensino – do fundamental ao universitário – e o Ministério da Educação (MEC) a assumirem rapidamente o ensino a distância como o meio viável para continuar a rotina dos estudantes em formação.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), como a maioria das universidades federais brasileiras, não aceitou a sugestão da Portaria 343/2020 do MEC, que autoriza a “substituição das aulas presenciais por aulas em meios digitais enquanto durar a situação de pandemia do Novo Coronavírus”. Para tomar a decisão, publicada em 20 de março, a Administração Central considerou elementos como o grande número de estudantes com vulnerabilidade socioeconômica, sem recursos tecnológicos necessários para acesso a conteúdos ministrados na modalidade a distância; a exclusão das pessoas com deficiência; e a falta de planejamento para operacionalização do ensino em meios digitais.

Marcelo Bairral, pesquisador e professor do Instituto de Educação/UFRRJ
Como estudioso dos processos de ensino online, o professor Marcelo Almeida Bairral, do Departamento de Teoria e Planejamento de Ensino (DTPE/UFRRJ), avalia que é preciso construir os planos de ensino e aprendizagem com objetivos claros e cautela.
“Temos que ter muito cuidado com um oportunismo e aligeiramento nos processos de ensino e de aprendizagem, que precisam de planejamento rigoroso, com equipe multidisciplinar, profissionais preparados para atuar em modelos híbridos, sistemas informáticos adequados ao que se pretende etc. Trata-se, como qualquer planejamento, que implica em um desenho didático feito antes de uma ação formativa, adequado ao público e ao contexto de formação”, explicou Bairral, que coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas das Tecnologias da Informação e Comunicação em Educação Matemática
O docente destaca ainda a necessidade de um planejamento cuidadoso, que potencialize formas diversas de interação e comunicação, além de considerar as avaliações e os objetivos da adoção das práticas a distância na escola: “Uma atividade online – simples ou mais complexa – não pode ser uma ação feita da metade para o final do caminho, e sem que se saiba onde quer chegar. Todo cuidado é pouco, pois educação online também é importante e potencial, mas ela não pode continuar sendo refém de oportunismos.”
A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (Anped) também se manifestou contrária à portaria do MEC. Em nota publicada no site da associação, a Anped ressalta o caráter complexo da implementação do ensino online, sem considerar as especificidades de cada instituição e a desigualdade socioeconômica do país. A entidade também chama a atenção para a arquitetura do ensino a distância: “EaD exige currículos, didática e condições que não são de domínio ou estão à disposição de todos e todas. Reduzi-la à adaptação de atividades no formato online é empobrecer o processo ensino-aprendizagem e desqualificar a EaD e a docência. Não existem condições materiais, nem acadêmicas, para substituir os componentes curriculares presenciais por atividades a distância de uma forma afoita, inicialmente pela dinâmica de cursos que não foram pensados para o contexto da EaD.”
As aulas presenciais suspensas por tempo indeterminado e as ações para a manutenção das atividades intelectuais dos alunos mostram que serão imprescindíveis paciência e observação sistematizada sobre os desdobramentos que a pandemia trouxe para as rotinas de professores, estudantes e suas famílias.

Para saber mais:
ASSIS, A., & MARQUES, W. (Eds.). (2017). Ambientes virtuais e formação de professores: deconstruções individuais às interações coletivas (eBook) (Vol. 8). Seropédica: Edur.   Disponível em: https://bit.ly/2UOIVwF
BAIRRAL,  M. A. (2018). Discurso, Interação e Aprendizagem Matemática em Ambientes Virtuais a Distância. Seropédica, RJ: Editora da UFRRJ. Disponível em:  https://bit.ly/2JKJKQQ
SANTOS, E., & SILVA, M. (2009). Desenho didático interativo. Revista Iberoamericana de Educación(49), 267-287. Disponível em: https://rieoei.org/historico/documentos/rie49a11.pdf

Postado em 06/04/2020 - 15:29