segunda-feira, 9 de maio de 2016

PETGEO na ocupação Vito Giannotti


No dia 07 de maio de 2016 o PET Geografia – IM/UFRRJ visitou a ocupação Vito Giannotti, localizada no Morro do Pinto, parte central da cidade do Rio de Janeiro, espaço demarcado para grandes empreendimentos imobiliários desde que o Rio de Janeiro foi escolhido como sede das Olimpíadas de 2016, o que torna o custo de vida cada vez mais alto e impede a permanência dos mais pobres no lugar, os expulsando para as bordas da cidade.
A ocupação se iniciou em janeiro deste ano, quando alguns movimentos sociais ocuparam o prédio na Zona Portuária do Rio de Janeiro, abandonado há mais de 10 anos, reivindicando o direito à moradia e a necessidade da garantia de sua função social. O local abriga 14 famílias, sendo algumas delas remanescentes de outras ocupações do centro do Rio de Janeiro, como do Quilombo da Gamboa, um projeto o qual já conhecíamos e buscamos nos aproximar cada dia mais, que infelizmente teve seu galpão interditado por conta das fortes chuvas do mês de março.
Nossa ideia ao visitar a ocupação foi realizar uma oficina com as crianças a partir da série Nana e Nilo, que trata diversos temas importantes, como a preservação do meio ambiente, o compartilhamento de experiências com outras crianças e o respeito ao legado cultural deixado pelos seus ancestrais africanos. Houve exibição de clipes sobre alguns aspectos culturais com forte influência africana, como o jongo e a leitura de histórias das aventuras de Nana e Nilo.
“Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito!”
A resposta das crianças foi extremamente positiva e mostra o quanto a Universidade deve estar próxima dos movimentos sociais e das possibilidades de troca e aprendizado com os mesmos, ao nos fazer refletir sobre a necessidade de discutir as opressões cotidianas, como a étnico-racial e de gênero, além do apoio incondicional à luta pela moradia.

Por: Felipe Rodrigues - bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ.


PET - Debates: Território usado e humanismo concreto: o mercado socialmente necessário - Ana Clara Torres



No dia 3 de maio de 2016, o PET de Geografia da UFRRJ-IM realizou mais uma leitura de texto com o intuito em aprofundar questões e explorar discussões que abrangem todas as pesquisas em fase de andamento para o próximo livro do grupo. No relato que será aqui apresentado está ressaltado as contribuições teóricas do texto indicado e apresentado pelo o grupo que pesquisa as feiras livres do município de Queimados-RJ.

O texto aborda importantes contribuições para pensar as ações, táticas e estratégicas realizadas no território, refletindo sobre o cotidiano urbano, sobre diferentes formas de usualidade (valor de uso) e\ou mercantilidade (valor de troca) do espaço citadino pelos diferentes agentes que o produzem. Em suma, o texto se debruça na compreensão e na elucidação: da ontologia (ciência do ser; estudo sobre a existência e realidade) do território, do sujeito corporificado e no mercado socialmente necessário.

A cerca da ontologia do território, a partir do entendimento analítico de Santos (1999); Santos e Silveira (2001) se faz necessário refletir politicamente na centralidade do território e nas interações do mesmo com os agentes, analisando as relações de favorecimento ou negação das ações dos sujeitos - “A ontologia do território, em diálogo com a problemática do cotidiano e do senso comum, alimenta a valorização concreta do diverso e do múltiplo e, assim, apoia a reflexão de exigências éticas relacionadas ao Outro” (p. 12461).

No humanismo concreto (SANTOS, 1987), o território é compreendido da dualidade dos vivos e mortos, “os mortos, ou trabalho morto, impõem as regras do território normado, ao mesmo tempo em que oferecem, aos vivos, a interlocução necessária à realização dos seus desígnios” (ibidem) em uma interação que numa outra fase é tido como usado e praticado que inteira as experiências dos que lutam para sobreviver nos ambientes hostis e antagônicos - “O Homem e o humanismo são confrontados, no presente, pelo “homem lento”, que atrai, de maneira irreversível, a defesa da cidadania e da democracia social em direção ao cotidiano e aos lugares do Outro” (p. 12463); reforçando que o território está posto em uma categoria mediadora que permeia o presente e o passado e que é indispensável para o entendimento do futuro e emerge entre gerações e conjunturas.

É a partir desta relação que a densidade territorial Do “homem lento” (SANTOS, 1994) desvenda os recursos indispensáveis à vida e proporciona o entendimento e sinais de renovação, que segundo Ana Clara se dá de setes formas\momentos\modos:

I) No olhar o território para além dos limites da condição material do Estado e na compreensão do mesmo como a que é expressiva a vida das relações mais próximas de nação do que do próprio Estado;

II) Uma leitura de nação que possibilite o reconhecimento de territorialidades e as multiplicidades das formas de apropriação do território pelas táticas e cultura ordinária (CERTAU, 1998) ;

III) Leitura orientada no território pelas lutas de apropriação onde surge o rico universo de relações que se originam nos confrontos dos códigos de conduta (Legalidade X Ilegalidade; Público X Privado);

IV) Na densidade de vida social, apreendida através de lutas de apropriação, conduzindo à reflexão do território pautada na clareza da mediação como linguagem , ou seja, como cultura, a partir da assimilação da natureza do território como mediador das lutas por apropriação que passar a ser lidas como confrontos entre representações sociais, universos simbólicos, valores e diferentes formas de interpretação das condições materiais de vida.

V) Na articulação contínua e tensa entre materialidade e imaterialidade, entre objetividade e subjetividade, obrigando os estudos sobre o território à superação do Uno que sustenta a concepção predominante do humanismo que vê o homem como meta do evolucionismo;

VI) A indissolubilidade espaço-tempo exigindo o entendimento do território (territorialidades) envolvendo o cotidiano. Pois, é na espaço-temporalidade do cotidiano que a natureza prática do senso comum adquire a potência das territorialidades resistentes, transformando o acaso − valorizado pelos pós-modernos − em projeto realizado e, ainda mais, em tecido social;

VII) Enfatização da técnica e tecnicidade na origem da experiência da escassez, pois são os que experimentam a escassez que precisam desvendar as múltiplas ações possíveis permitidas pelo espaço herdado e costurar projetos num tecido social esgarçado e precário.

O sujeito corporificado, segundo Ana Clara (p.12464) será o sujeito inimaginável, pois está sem a sua corporificação de direitos, isto é, sem a experiência vivida de direitos; e ainda afirma que a corporificação de direitos exige, no mesmo movimento, a apropriação socialmente justa do espaço herdado, dependente da ação coletiva, e a subjetivação de direitos, que sustenta a afirmação de sujeitos plenos. Pois, a última versão do capitalismo, aceita e considera os que podem consumir, onde isso se traduzirá: em maneiras de circulação seletiva; amplifica a mancha urbana; privatização dos serviços que deveriam\devem ser de responsabilidade do Estado; aumento das barreiras que impossibilita o direito do ir e vir; no apropria-se de tecnologias da informação para o controle social, e não como instrumento de libertação dos menos desfavorecidos (podendo ser até por via educacional).

Segundo a autora a posição do atraso é um instrumento legitimador de práticas de exclusão, onde o Outro surge como o não-Outro, da mesma forma que o seu campo de atuação limita-se a ser um não-lugar que foi construído pela espaço-temporalidade de anônimos e deserdados. A co-presença dos tidos e ditos por deserdados e anônimos (RIBEIRO E LOURENÇO, 2001), se impõe com força nos espaços que historicamente concentraram investimentos públicos e privados nas metrópoles e em suas centralidades, “a sagacidade dos “homens lentos” e a praticidade do senso comum conduzem, em grande parte, à permanência nestas espacialidades” (p. 12462; grifo nosso).



[...] anônimos e deserdados partilham o espaço banal e, assim, o espaço herdado, lutando por permanecer nos insterstícios da riqueza e impondo a co-presença àqueles que buscam selecionar o Outro admissível ao convívio social. O Outro admitido, pelo pensamento dominante, resume-se aos que podem ser classificados segundo critérios estabelecidos por agentes que, em número crescente, buscam administrar o cotidiano. (p. 12461)



Com a privatização dos direitos sociais básicos, a naturalização da escassez e da carência impõe o corpo reduzido a objeto, negando a força que subjaz às tentativas de complementariedade do “homem lento” com a ação dos dominantes, levando a inclusão procurada a resumir-se à uma identidade de legítimo praticante do espaço, que possibilita a sobrevivência em áreas degradadas da cidade moderna. Ana clara nos afirma (p. 12465) que a ação tratada no ângulo da ontologia do território traz à reflexão a tecnicidade da existência e é esta ação que articula, pela experiência social acumulada no território, sistemas de objetos com diferentes idades, reduzindo a abstração característica do pensamento dominante, que envolve, atualmente, a metamorfose informacional da moeda, do crédito, da produção, dos serviços (aqueles que deveriam ser ofertados pelo Estado), do comércio e, até mesmo, do consumo.

Para que estes direitos sejam garantidos ao ente mercado, subordina-se o país ao olhar externo, abstrato, e abandona-se o planejamento do território, que poderia permitir a real corporificação de direitos por todos. É frente a estas conquistas do ente mercado, e a suas características intrínsicas, que torna-se indispensável criar um outro ator, que denominamos de mercado socialmente necessário (RIBEIRO, 2004).



O mercado socialmente necessário têm como memória e projeto possuir raízes ancestrais, ainda anteriores àquelas que alimentam a concepção hegemônica de mercado, pensado de baixo para cima os agentes, corporificado e territorializado, corresponde ao circuito inferior da economia urbana (SANTOS, 1979). Este agente também corresponde às formas sociais sobreviventes de constantes modernizações e às suas formas mais recentes que tiveram historicamente a capacidade de interagir com as práticas ancestrais, como produções e comércios em que a negociação predomina sobre a conquista e a destruição do Outro - o mercado que é socialmente necessário é submetido à trocas solidárias e realmente inteligentes, pode vir favorecer o conhecimento do Outro, valorizando a sua humanidade e igualdade entre todos e o seu direito a reivindicar direitos a partir de sua diferença.



O ator aqui proposto − que também se alimenta da reflexividade contemporanêa e, logo, do pensamento estratégico − já existe em embrião, como exemplificam: as lutas dos vendedores ambulantes (camelôs) nos centros das principais cidades brasileiras, as redes de troca de tantas experiências latino-americanas, os projetos de desenvolvimento local (RIBEIRO, 2004a) e os experimentos da economia solidária. (p.12468)





As características que correspondem à intensificação das disputas pelos territórios e corpos/mentes, tem sido instrumentalizada pelas ciências sociais aplicadas pela absorção das artes na administração técnico-científica da concepção hegemônica de mercado. Com base na reflexão do texto é possível afirmar que ocorre uma crescente penetração das regras empresariais na ação do Estado, que são expressas nos modelos visam a eficácia da gestão ao invés da justiça social, e é no ordenamento entre a economia e os aparelhos do governo que nota-se a penetração de sentidos da política no âmago do fazer econômico.




Por: Flávia da Silva Souza - bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ.





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RIBEIRO, Ana Clara Torres. Território usado e humanismo concreto: o mercado socialmente necessário. In: Encontro de geógrafos da América Latina, X., 2005, São Paulo. Anais… São Paulo. ?. 2005. p. 12.458 - 12.470.

PET - Debates: Apropriações do espaço público: alguns conceitos - Eneida Mendonça

           



No dia 02 de maio de 2016 o grupo PETGEO-IM/UFRRJ debateu o texto "apropriações do espaço público: alguns conceitos" da Eneida Maria Souza Mendonça com a apresentação guiada pelo subgrupo das "bikes", a fim de favorecer o desenvolvimento do novo projeto literário do grupo PETGEO.

Considerações preliminares

Neste artigo, Mendonça (2007) busca analisar os usos de espaços públicos a partir de três localidades: a praça, a rua e o parque. Essas análise ocorre na relação entre o espaço público na cidade com o meio urbano e sua morfologia e apropriações, pois essas são configuradas em aspectos físicos e/ou naturais construídos que podemos entender como a forma ou a imagem de um lugar em sua representação, pois as formas resultam dos fatores e interesses sócio- econômicos.

Para a autora, a apropriação acontece de modo coletivo ou individual, atrelado ao campo das possibilidades, pois utilizando (SANTOS e VOGEL, 1985) atribui as apropriações dos espaços públicos a função de “mecanismos de defesa e superação da população aos modelos urbanísticos impostos pelos planejadores”. Diante das diferentes formas de apropriação e da dominação que busca suprimir a utilização dos espaços públicos, há a necessidade de se mapear as apropriações alternativas do espaço público (coletivo ou individual), sem que para a prática não haja infraestrutura específica.

Espaços públicos formalmente constituídos- a rua,

a praça e parquePara entendermos a dinâmica desses espaços públicos citados pela autora, se fez necessário conceituar cada um deles (a rua, a praça e o parque). Para alguns autores a rua pode ser entendida como definidor de um território, promotor de traçado como algo permanente, hierarquização dos espaços a partir da capacidade de fluxos, organizador da forma urbana e um acidente de traçado.

Para fundamentar as falas em torno da utilização da rua, é utilizado o exemplo dado por Santos e Vogel (1985) ao utilizar o bairro do Catumbi, na cidade do Rio de Janeiro, para elucidar “a rua como uma extensão da casa para diversas comunidades, observadas e vivenciadas por meio de atividades cotidianas, como as brincadeiras infantis e encontros de vizinhos, ou sazonais como as festas”.

A praça como espaço público de uso volátil é pensada para a estrutura urbana do qual (LAMAS, s/d, p.102) apresenta a praça como “lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio, e, consequentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas” ou como buscam apontar Carneiro e Mesquita (2000) pois para as autoras as praças “são espaços livres públicos, com função de convívio social, inseridos na malha urbana como elemento organizador da circulação e de amenização pública, com área equivalente à da quadra, geralmente contendo expressiva cobertura vegetal, mobiliário lúdico, canteiros e bancos”, com isso apontando a definição formal e estrutural da praça a partir de elementos configuradores.

O parque para Lamas (s/d), pode ser conceituado como “estruturas verdes, com vegetação abundante, mesmo em forma de canteiro ou jardim” ou como um todo constituído de espaço verde. A autora entende o parque como um diferencial na estrutura urbana principalmente pelo aspecto arborizado ou como a fusão entre os elementos construídos e os naturais, irão atribuir os mesmos valores culturais e estéticos, configurando a paisagem como elemento estético. Ao final, busca indicar que as possibilidades de recreação surge a partir da inventividade e da criatividade.

Espaços públicos sob diversos olhares conceituais

A análise acerca do espaço público é realizado a partir da visão sobre a dicotomia público- privado, pois segundo Hertzberger (1999) esta se configura a partir da acessibilidade, forma de uso e população usuária, configurando o consumo do espaço em algumas lógicas.

O entendimento do público e privado em um olhar espacializado permite a realização, como aponta Da Matta (1997) de “estudos antropológicos entre a casa e a rua a partir da relação e complementação”, no diálogo entre o público e privado.

Fundamentando o uso do espaço público na contemporaneidade da globalização, utiliza Santos (1985) e sua ideia dos fixos e dos fluxos para a análise da dinâmica sócio-espacial do espaço público, pois a “aceleração da circulação dos bens e de pessoas no período técnico- científico” e nesta lógica a intervenção das empresas transnacionais. Assim, a infraestrutura implantada pelo Estado (fixos) criam os fluxos e também há o comprometimento do espaço público frente à informática que desfragmenta a presença física nesses espaços, ampliando a presença na rede informacional ampliada (vide aplicativos de comunicação por celular), em contraposição, Carlos(2001) coloca que “o espaço urbano e/ou público é parte da vida cotidiana na metrópole”.

Espaços públicos- mudanças e permanências de papéis

O panorama é feito, à priori, a partir das mudanças ocorridas no ambiente europeu no século XIX com o intuito de “melhoramento” e embelezamento, sendo as praças, parques e boulevard. Como resultado, ocorre a apropriação dessas localidades “renovadas” pela elite em troca da classes populares que ali habitavam anteriormente. Há também o afastamento desses espaços via cerceamento da apropriação dos espaços públicos através da difusão do medo, associado à violência urbana nos grandes centros urbanos, mas devido à capacidade de difusão de informação, atinge as médias e pequenas cidades. Como resultado deste processo a diversão e o entretenimento são realizados em lugares fechados e com controle de acesso, visando garantir a segurança. Seguindo esta análise, utiliza Caldeira (2000) e seus conceito de enclave fortificado e a mudança social dos espaços públicos, pois os enclaves fortificados “espaços privatizados, fechados e monitorados, destinados a residência, lazer, trabalho e consumo”. Para entendermos o espaço público, Mendonça (2007) aponta que o tripé do espaço público é formado pela conjuntura da heterogeneidade, acessibilidade (universalização) e igualdade, mas Caldeira (2000) aponta que “o novo meio urbano reforça e valoriza desigualdades e separações e é, portanto, um espaço público não democrático e não moderno”, assim como a aparente contradição existente na necessidade de espaços públicos, porém reforçando o uso privado, como o exemplo dos parque que são gradeados e possibilitam o acesso apenas em determinados horários, em volto do discurso da violência, difundindo o “espaço público virtual” das redes sociais.

Espaços públicos e seu planejamento- considerações finais.

Buscando elucidar a participação do Estado Arantes (1998) sobre a participação do poder público na construção da segregação, pois “a requalificação de espaços urbanos micro dimensionais desarticulada, portanto de uma programação e um planejamento mais amplos” e nessa perspectiva o desenvolvimento obtido é o econômico. Em contraponto ao desenvolvimento econômico por si só, Souza (2002) aponta que o desenvolvimento necessário é o desenvolvimento sócio-espacial por que mira a justiça social e espacial como mecanismo para a qualidade de vida da qual também será adquirida a partir das práticas vindas da autonomia dos sujeitos.

Por: Djalma Navarro - Bolsista do Grupo PETGEO-IM/UFRRJ.

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MENDONÇA, Eneida Maria Souza. Apropriações do espaço publico: alguns conceitos. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 7, n. 2, p. 296-306, 2007. 

segunda-feira, 2 de maio de 2016

PET - Debates: Identidades territoriais: Entre a multiterritorialização e a reclusão territorial - Rogério Haesbaert

No dia 12 de abril de 2016 o grupo o PETGEO /UFRRJ-IM debateu o texto Identidades territoriais: Entre a multiterritorialização e a reclusão territorial (ou: do hibridismo cultural à essencialização das identidades)  do Rogério Haesbaert, sendo liderado pelo subgrupo da “praça”,que está desenvolvendo um capítulo sobre o uso da praça,para o novo projeto literário do  PETGEO /UFRRJ-IM. O subgrupo é composto pelo petianos: Andréia Ribeiro, Alessandra Ramos, Beatriz Maravalhas, Felipe Rodrigues, Maiara Lobato, Willian Rocha.


O texto começa com uma citação de Lévi-Strauss falando sobre a crise de identidade e que não devemos olhar somente os aspectos subjetivos dessa crise e sim nos ater as condições objetivas que ela expressa. Daí a importância de obtermos também uma abordagem geográfica da identidade, pelo viés das identidades territoriais.  
           
O intuito do texto é debater a questão das identidades à partir da dimensão territorial, tanto no que se refere ao caráter múltiplo, híbrido e flexível dos territórios e das identidades quanto às manifestações territoriais. 

O texto aborda a crise da identidade territorial e da nacionalização da identidade cultural que o autor define como "processo pelo qual as identidades móveis e parcelas dos diferentes grupos sociais são territorializadas e temporalizadas no espaço-tempo nacional.  
            As identidades se expressam hoje, na prática através de uma espécie de continuum que vai desde as identidades mais abertas e híbridas até as mais rígidas e (re)essencializadas. Paralelamente na construção identitária temos o território, no sentido mais múltiplo e aberto da "multiterritorialização" em curso, como também a acepção mais fechada dos processos que propomos denominas de "reclusão territorial", muitas vezes concomitantemente articulados.  
           
            A partir daí, podemos dizer, que esses processos estão ligados a uma ideia geral referido as construções identitárias, pois na medida em que vivenciamos juntamente, a tensão entre a construção de um sentido mais estável de identidade e a busca por crescente independência e liberdade.  
           
 A grande questão seria como cada grupo resolve essa tensão, ora apelando para o pólo da liberdade e da independência, através de identidades múltiplas, híbridas, sempre abertas e negociáveis, ora privilegiando o pólo da estabilidade, da fixação e do fechamento em identidades unas, "naturais" e essencializadas. Nosso espaço-tempo se move hoje claramente num ir-e-vir entre estes dois pólos 

Haesbaert propõe a visão de que os espaços e os territórios são compostos por diferentes histórias e produzidos pelos sujeitos que o compõem. Há a presença da ideia de que a multiterritorialidade produz reações diversas nos territórios os quais são modificados pelas pessoas, muitas vezes há a perda da condição humanitária da hibridização cultural, produzindo a xenofobia e a intenção de rechaçar a circulação das pessoas por novos territórios, o que provoca uma chamada reclusão territorial.  


Por: Maiara Lobato - Bolsista do Grupo PETGEO-IM/UFRRJ.

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domingo, 1 de maio de 2016

PET - Debates: Fazer com: Usos e Táticas - Michel de Certeau

No dia 06 de abril de 2016 o Grupo PETGEO/UFRRJ-IM debateu o capítulo "Fazer com: Usos e Táticas" do Michel de Certeau, sendo liderado pelo subgrupo das "Trilhas", que está desenvolvendo o capítulo "Partiu Cachu? Um olhar sobre as táticas de lazer no Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, RJ" para o novo projeto literário do PETGEO/UFRRJ-IM. O subgrupo é composto pelos petianos: Gabriel Martins, Henderson Neiva, Marcus Aguiar e Yago Anjos.


As diferenças que o texto destaca a respeito do comportamento do sujeito, segundo o lugar que estiver presente, se referem às “modalidades da ação e às formalidades das práticas.” Essas diferenças podem “atravessar as fronteiras que permitem as classificações de trabalho ou de lazer.” (pág 92)

A partir do momento em que essas fronteiras são atravessadas, “essas táticas não obedecem à lei do lugar. Não se definem por este.” (pág 92) Para diferenciarmos estratégias e táticas basta sabermos os “tipos de operações”. Essas operações “podem distinguir as maneiras de fazer”. Enquanto um campo pode regular uma maneira de fazer, esse estilo de ação pode “tirar partido dele, que obedece a outras regras e constitui um segundo nível imbricado no primeiro” Como no exemplo dado no texto, “o magrebino que mora em Paris ou Roubaix as insinua no sistema que lhe é imposto na construção de um conjunto residencial popular ou no francês. Ele os superimpõe e, por essa combinação, cria para si um espaço de jogo para maneiras de utilizar a ordem imposta do lugar ou da língua. Sem sair do lugar onde tem que viver e que lhe impõe uma lei, ele aí instaura pluralidade e criatividade.”(pág 93)

Noutro momento, o autor apresenta uma diferenciação dos conceitos de uso e consumo. Primeiramente, usando a televisão como um exemplo de consumo, o autor explica o caráter impositor do consumo. O sujeito não exprime autoria ou participação na criação do produto que lhe é transmitido, diferentemente de uma criança que rabisca um livro, que ao realizar seus traços sobre as páginas, atribui-se a si uma autoria. (pág 94).

Por outro lado, salienta que os usos podem depender do consumo, dando exemplos que abrangem desde usos da língua (págs 96 e 97) e o uso subversivo aproveitado pelos indígenas às leis e obrigações (com intenção de driblá-las) impostas pelos colonizadores espanhóis. Posteriormente, o autor revela a característica de tática a esses usos que o sujeito realiza, ao tentar preencher um novo caminho dentro de um sistema de técnicas.

Neste momento, o autor distingue as táticas das estratégias. “Chamo de estratégia cálculo (ou a manipulação) das relações de forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito de querer e poder (uma empresa, um exército, uma instituição científica) pode ser isolado” (pág 99). A estratégia busca “distinguir de um ‘ambiente’ um ‘próprio’, isto é, o lugar do poder e do querer próprios”(pág 99). E logo após, explica “o ‘próprio’ permite capitalizar vantagens conquistadas, preparar expansões futuras e obter assim para si uma independência... É um domínio do tempo pela fundação de um lugar autônomo” (pág 99). Além disso, “é também um domínio dos lugares pela vista” e “um tipo específico de saber, aquele que sustenta e determina o poder de conquistar para si um lugar próprio” (pág 100). O poder, portanto, torna-se aspecto principal da estratégia.


Já a tática se define pela “ausência de um próprio”, ela se configura pela condição de astúcia realizada internamente de uma estratégia (um poder/ uma norma imposta), condicionando desse modo, uma força ao fraco (o não possuidor de poder estratégico). O autor ainda acrescenta “ as estratégias apontam para a resistência que o estabelecimento de um lugar oferece ao gasto de tempo; as táticas apontam para uma hábil utilização do tempo, das ocasiões que apresenta e também dos jogos que introduz nas fundações de um poder” (pág 102).

Marcus Vinicius C. Aguiar – Bolsista do grupo PET – GEO da UFRRJ-IM.

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