terça-feira, 18 de junho de 2019

LANÇAMENTO DO LIVRO PET GEOGRAFIA: "GENTE DE CÁ: GEOGRAFIAS PERIFÉRICAS

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1AhVeviqX1qyWky_KTJdB-rMHxBJNVERQ08ZvdxhvTrNoy2Hbs5OovVTfyP3e4qm594sqs8T_h0rZer9R_OKil_aAb9n8WHnWI8baex3k66CiJyZ1iMN4CgkhoMbOoG983zdVaEU9jji2/s1600/57267740_10212248935892521_4059300537797967872_o.jpgLançamento de mais um livro do PETGEO-UFRRJ/IM: "GENTE DE CÁ: GEOGRAFIAS PERIFÉRICAS". A proposta deste livro foi possibilitar aos/às petianos/as a publicação de artigos individuais resultantes de pesquisas para monografias recentemente defendidas, além de textos coletivos elaborados por petianos/as da atual formação do grupo. Foi um desafio organizar artigos com temas tão diversos, resultantes de pesquisas realizadas por estudantes que foram ou estão vinculados/as ao PET-GEO da Rural de Nova Iguaçu, mas que têm suas próprias vivências e interesses de pesquisa para além do programa. O diálogo de saberes, enquanto eixo estruturante das ações do PETGEO IM/UFRRJ, é um desafio teórico e prático que temos experimentado nos quase 9 anos de grupo, de modo bastante satisfatório. Aprendemos cotidianamente com saberes e conhecimentos que consideramos vitais para o desenvolvimento do fazer científico: o saber popular e ancestral que habita as pessoas das periferias e os povos tradicionais. A conjuntura atual nos estimula a refletir sobre o presente e os modos de fazer educação e ciência. A reflexão sobre a formação do/a professor/a pesquisador/a nunca foi tão importante. Questionar quem somos, enquanto sujeitos do conhecimento é uma referência metodológica significativa para nossa proposta de contribuir para a elaboração de versões científicas plurais e inventivas, posicionada e anticolonial. Por isso, o título do livro é resultado de uma criação coletiva, surgida da colagem de sugestões vindas dos/as petianos/as. Gente de cá: geografias periféricas fala de um conhecimento produzido na periferia do capitalismo, na periferia da metrópole e na periferia da ciência. 

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 Relato feito por Mariana Rodrigues

SUDESTE PET: ARTIGO APRESENTADO

Territorialidade caiçara e diálogo de saberes: Re-conhecimento da comunidade tradicional de São Gonçalo, Paraty/RJ
Anita Loureiro de Oliveira (Tutora)
André Luiz Tavares
Andressa de Oliveira
Beatriz Maravalhas
Eloá Marcele
Emanuelle da Silva
Fernanda Lima
Francine Santos
Júlia Ananda
Leonardo Aragão
Marcus Aguiar
Maria Eduarda
Mariana Rodrigues
Mateus Duarte
Queila Romualdo
Tales Mattos
Thayla Rocha
Thayná Cagnin
Thiago da Silva
Grupo PET-Geografia/IM
Eixo 8
mariianars@hotmail.com
                                                                                                                                                     


Resumo
O trabalho realizado em diálogo com a comunidade de São Gonçalo, Paraty/RJ teve como objetivo principal reconhecer a identidade caiçara e valorizar seus saberes e lutas. A proposta metodológica do diálogo com a comunidade resultou no livro Geografia e Diálogos de Saberes: Territorialidades Caiçaras em Paraty, que destaca a luta pela afirmação territorial da comunidade frente a interesses que incidem na localidade. Como desdobramento, elaboramos o Mapa Caiçara de Turismo de Base Comunitária, que apresentaremos no SUDESTE PET para compartilhar nossa experiência de ensino, pesquisa e extensão.

Palavras-chave: Resistência Caiçara; Diálogo de Saberes; Território.

Introdução
            O Grupo Pet-Geografia/IM[1] iniciou as pesquisas junto à comunidade de São Gonçalo, Paraty/RJ em 2016, quando alguns petianos/as cursavam a disciplina Trabalho de Campo em Geografia, ministrada na época pela tutora do grupo Anita Loureiro de Oliveira. Durante a disciplina ocorreu uma vivência na comunidade, onde conhecemos o Turismo de Base Comunitária (TBC) e os guias caiçaras que despertaram o interesse do grupo em aprofundar a experiência no lugar.
            Prosseguimos a pesquisa com a comunidade com base no diálogo horizontal e destas trocas surgiram novas reflexões que buscaram valorizar aqueles saberes que tivemos a oportunidade de ter contato. Vale frisar que “Não é o saber sobre eles que nos interessa. É o saber deles, com eles.” (OLIVEIRA, 2018, p.).
            Em 2018, publicamos o livro Geografia e diálogo de saberes: territorialidades caiçaras em Paraty, com artigos escritos coletivamente pelos/as petianos/as. O livro foi um primeiro resultado desta etapa da pesquisa, considerando as narrativas da comunidade, levantamentos históricos e contribuições de professores convidados. O livro é um trabalho acadêmico relevante, pois permitiu destacar a experiência de ensino, pesquisa e extensão realizada pelo grupo. Entretanto, ao fazer a devolutiva à comunidade, entregando a eles os exemplares dos livros com registros de nossas trocas de experiência, sentimos a necessidade de um desdobramento que pudesse garantir a eles um uso mais prático e cotidiano daquilo que eles nos ensinaram sobre o lugar. Tratava-se de tentar retribuir nosso aprendizado com eles, elaborando um material que os guias da comunidade pudessem usar em suas práticas de turismo comunitário. Surgiu então a ideia do mapeamento colaborativo: O Mapa Caiçara de Turismo de Base Comunitária a ser utilizado durante as visitas guiadas. Ressaltamos no mapa os pontos importantes apontados pelos próprios guias e membros da comunidade em nossos trabalhos de campo e vivência na comunidade.

Objetivos
            O objetivo principal do grupo, desde o primeiro momento, é horizontalizar o saber e aproximar a universidade dos anseios comunitários, com base em uma episteme sensível e dialógica. A criação coletiva de materiais que valorizem saberes populares, como os conhecimentos caiçaras, tem como objetivo descortinar conflitos territoriais existentes, de modo a contribuir cientificamente para que estes grupos populares possam afirmar sua territorialidade.

Metodologia
            A metodologia da pesquisa valoriza o diálogo com saberes que foram subalternizados ao longo da colonização, por meio da colonialidade do poder e do saber (QUIJANO, 2005). Por considerar fundamental a posicionalidade do cientista, o grupo, enquanto pesquisador coletivo, adota uma postura de se tornar sensível à história do outro. Permitir uma abordagem mais sensível do (e com) o outro é uma das principais orientações de método praticadas e deixadas por Ana Clara Torres Ribeiro e propostas ao grupo por Anita Loureiro de Oliveira (2012), tutora do grupo desde sua criação em 2010. Ambas concordam com Sartre, para quem
Nossa compreensão do Outro não é jamais contemplativa: não é senão um momento da nossa práxis, uma maneira de viver, na luta ou na convivência, a relação concreta e humana que nos une a ele (SARTRE, 1967, p.126, apud OLIVEIRA, 2012, p.19)
            Os trabalhos de campo também se mostraram parte fundamental da metodologia da pesquisa, pois possibilitam a aproximação da teoria com a prática, que se mostra necessária para permitir a troca de experiências com a comunidade em questão. Como afirma Serpa (2006, p. 10),
O fantasma do empirismo que ronda a produção do conhecimento geográfico leva muitas vezes o pesquisador a reflexões teóricas elaboradas, mas sem a fundamentação empírica necessária à demonstração e à validação dos conceitos, que aparecem não raro descolados da realidade.
Para Ribeiro (2004) algumas ideias e conceitos sinalizam rumos possíveis para a ação social e correspondem a verdadeiras ferramentas para a elaboração de projetos voltados ao desvendamento de relações sociedade-espaço conduzidas por racionalidades alternativas.

Desenvolvimento
O laço criado com a comunidade resultou em diversos aprendizados e reflexões, onde pudemos vivenciar e conhecer melhor a luta caiçara de São Gonçalo, Paraty/RJ e o conceito de territorialidade. Desde 2016, o PET-Geografia tem tido muitas oportunidades de conhecer a narrativa caiçara e as particularidades da luta enfrentada por eles para manter seu território e seu modo de vida. Como destaca Escobar (2015, p. 06), “dentro dessa complexa situação, as lutas pelos territórios tornam-se luta pela defesa dos muitos mundos que habitam o planeta”.
A partir dos diálogos feitos nos trabalhos de campo que o grupo realizou no decorrer dos anos da pesquisa, aprendemos muito com a luta pela permanência no território caiçara. A BR-101 foi um dos elementos que tornaram ainda mais difícil a permanência deles na região. Segundo Fontes (2013) a construção da rodovia, na década de 70, veio acompanhado do turismo e da forte especulação imobiliária, e vários conflitos fundiários se intensificaram na região. Um exemplo é o conflito causado pela White Martins, que começou a comprar e/ou grilar terras de caiçaras, expulsando a comunidade da praia, tirando-os de seu lugar e comprometendo a racionalidade de sua existência. As ações da White Martins contra a comunidade ganharam visibilidade com a trágica e precoce morte de Zequinha, líder comunitário que à época lutava contra tais remoções. O conhecimento deste conflito histórico e de resistência resultou na publicação de artigos reunidos no livro Geografia e Diálogo de Saberes: territorialidades caiçaras em Paraty, onde pudemos refletir sobre nossas experiências de pesquisa e extensão. Como desdobramento do livro, buscamos produzir algo que fosse útil para o cotidiano da comunidade e em conjunto com lideranças locais, elaboramos o Mapa Caiçara de Turismo de Base Comunitária, para tornar visível o roteiro criado pelos caiçaras nas visitas por eles guiadas.

Resultados/conclusões
            Consideramos que esta experiencia de ensino, extensão e pesquisa do PET-Geografia/IM com a comunidade caiçara de São Gonçalo, Paraty, resultou em, pelo menos, dois importantes trabalhos que dão sequência e sentido um ao outro: um livro e um mapa colaborativo. Estes produtos colocam em prática o diálogo de saberes que orienta nossas ações no reconhecimento de formas de existência (e de resistência) que caminham no sentido da criatividade, da coletividade e da solidariedade horizontal.
A afirmação da identidade caiçara é uma construção que visa proteger seu território e suas práticas através da resistência, criando alternativas frente às imposições vindas de cima e que causam devastação em nome do desenvolvimento promovido por atores vinculados aos mercados globais (ESCOBAR, 2015). Tal como propõe Milton Santos, é preciso considerar a força do lugar na construção de contrarracionalidades e de racionalidades paralelas, pois estas levantam-se como realidades alternativas frente à racionalidade dominante e apontam caminhos ao pensamento e à ação (SANTOS, 1997). Esta é a base teórico-prática do PET-Geografia/IM.

Referências bibliográficas

ESCOBAR, Arturo. Territórios da diferença: a ontologia política dos “direitos ao território”.  Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 35, 2015.
FONTES, Carine F. Lopes. Análise dos conflitos socioambientais na área de proteção ambiental de cairuçu (PARATY – RJ). Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 170f, 2013.
OLIVEIRA, Anita Loureiro de. (Org.). Geografia e diálogo de saberes: territorialidades caiçaras em Paraty. – Rio de Janeiro, Nova Iguaçu: Entorno, 2018.
OLIVEIRA, Anita Loureiro de. Por uma episteme dialógica, sensível e criativa: Uma homenagem a Ana Clara Torres Ribeiro. Revista Tamoios (UERJ/FFP), São Gonçalo (RJ), ano 08, n. 1, pp. 13-29, jan/jun 2012.
QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In LANDER, Edgardo (org). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais, Perspectivas latino-americanas. Coléccion Sur Sur, CLASCO, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina, 2005.
RIBEIRO, Ana Clara Torres. Lugares dos saberes: diálogos abertos. In. BRANDÃO, Maria de A. Milton Santos e o Brasil. São Paulo. Ed. Perseu Abramo. 2004a. Parte I, cap 1 p.39 a 49.
SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:Editora Hucitec 1997 2ª edição.
SARTRE, Jean Paul. Questão de método. Tradução de Bento Prado Júnior. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1967
SERPA, Angelo. O trabalho de campo em geografia: uma abordagem teórico-metodológica. Boletim Paulista de Geografia. Número 84 São


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[1] Grupo PET-Geografia, Cultura e Cidadania: dialogo de saberes no ensino de Geografia (IM/UFRRJ).