segunda-feira, 26 de setembro de 2016

II CINEPET de Setembro: Tatuagem


"Quero ficar no teu corpo feito tatuagem..."

CinePET dia 27.09, terça-feira, às 14h, na 205 adm.




Relato CINEPET: Protagonismo Trans

No dia 15 de setembro de 2016 o Grupo PETGEO-IM/UFRRJ realizou o primeiro CINEPET abordando a temática de gênero e geografia – tema proposto para discussão em todo o mês de setembro – com o filme Protagonismo Trans de Luis Carlos Alencar. O evento teve grande participação de estudantes do curso de Letras do IM/UFRRJ que contribuíram fortemente com o debate após a exibição do documentário.

O filme aborda as experiências de vida de um grupo de transexuais do município de Nova Iguaçu na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. De empresárias, domésticas a profissionais do sexo, o longa retrata as individualidades de cada uma, desde as relações familiares às relações profissionais e as dificuldades de se conviver em uma sociedade heteronormativa. A priori o que se percebe é que o objetivo do filme é discutir as problemáticas de saúde pública específica para esse universo, desde a infraestrutura em sua totalidade até o descaso de atendimento social e psicológico.

A falta de aceitação do próprio corpo é um problema que atinge todas as escalas da atual sociedade, contudo, além da dificuldade de se enquadrar aos moldes de beleza e moda propostos pelo pensamento hegemônico e dominante que ditam como uma pessoa deve ser e agir, essas mulheres sofrem com a falta de aceitação de um corpo que não confere com seus devidos gêneros. Em busca do tão sonhado corpo desejado/correto muitas mulheres transexuais passam por procedimentos cirúrgicos de alto risco como a utilização de silicone industrial no próprio corpo, o que pode levar a morte ou deixar graves sequelas para toda a vida.

Há de se entender o porque de alguém se sujeitar a passar por experiências físicas e psicológicas tão desgastantes quando uma fila de espera para procedimentos de mudança de sexo no Sistema Único de Saúde (SUS) se alongam por mais de 10 anos. Além da problemática de saúde pública podemos observar no documentário a dificuldade dessas mulheres em permanecer nas escolas, alcançar bons empregos e acessar as universidades.

O desprezo da população somado ao preconceito a essas mulheres causam uma evasão das escolas e quando rejeitadas dos empregos “formais” elas acabam ocupando os empregos cansativos e mal remunerados como domésticas, manicures e a prostituição. A consequência deste processo deixou um estigma de que essas mulheres estão sempre ligadas a ações não bem-vistas pela “família tradicional brasileira”.

Após a exibição do documentário os participantes se reuniram em roda e trocaram ótimas ideias sobre o filme e experiências pessoais de cada um, discutindo exemplos de violência transfóbica que apareceram na mídia recentemente, como o caso da transexual agredida fisicamente na Zona Oeste do Rio de Janeiro há algumas semanas. Ao fim consideramos o resultado muito satisfatório já que todos – ou a maioria – saiu daquela sala com um senso de reflexão mais apurado e realizando o exercício de se colocar no lugar do outro.



Por: Yago Anjos - Bolsista do Grupo PETGEO-IM/UFRRJ. 

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

PET-DEBATES: Geografia do gênero: do (não) lugar de travestis e outros abjetos na cidade" - Pedro MacDowell

No dia 06 de setembro o Grupo PETGEO-UFRRJ/IM realizou a leitura e debate do texto "Geografia de gênero: do (não) lugar de travestis e outros abjetos na cidadade" de Pedro MacDowell, iniciando as leituras de Geografia de Gênero propostas para o mês de setembro.

O texto supracitado aborda a questão de gênero e usa como estudo de caso a cidade de Brasília e algumas situações específicas.
O artigo, separado em três partes, começa abordando a espacialidade dos corpos e a corporalidade dos espaços. O autor trata, por exemplo, da diferenciação dos "corpos abjetos", que são dotados de um tipo de vazio, nas palavras do autos: "são inteligíveis, não tem uma existência legítima" (...) "são da ordem do "inóspito" e do inabitável". Nessas primeiras discussões o autor fala da ressignificação dos espaços pelos corpos e também da ressignificação dos corpos pelo espaço, em um tipo de relação dialética. Para nós, o que insurge nesta parte é a relação de empoderamento dos sujeitos em determinados recortes espaciais. Isso significa que nossa leitura é pautada em relações de poder, onde o espaço se transforma em território, segundo leituras passadas, como Souza (2004), por exemplo.

Adiante, ainda nesse primeiro tópico, o autor fala da diferenciação para corpos héteros, por exemplo, que ele chama de "corpos que pesam (importam)", se baseando em Judith Butler (1993). Dentro da análise, nessa perspectiva, o autor aborda, então, os corpos abjetos como não-sujeitos, que situam-se em não-lugares. Dentro da discussão do grupo, na reunião, pensamos as diferentes relações que existem, não só com relação a gênero, mas de tudo que destoa do caráter patriarcal, heteronormativo, eurocêntrico, etc. Essa discussão o autor expõe muito bem no texto, quando fala de homens héteros que profanam palavras de ódio a travestis, mas que os não-sujeitos co-existem nessas relações, caso o homem hétero seja negro, por exemplo. Isso pautado dentro de uma discussão conceitual sociológica, para os padrões da sociedade e dos sujeitos à cima dessa escala de poder. Assim, segundo o autor, "o abjeto não está exclusivamente ligado ao gênero dos corpos, mas a um lugar onde se cruzam muitos referentes que variam histórica e espacialmente".

No tópico dois do seguinte texto, o mesmo aborda a relação dos abjetos com o lugar, compreendendo a existência das especificidades, mas não sendo esse seu objeto de estudo.(inclusive ele indica o autor: Benedetti (2005) e Bento (2006) para tal discussão)
Assim, o autor assume os corpos abjetos, todos eles (transexuais, travestis e transgêneros), como não-sujeitos perante a norma matricial. Desta forma, segundo o autor, não há uma diferenciação pelo senso comum destes (não)sujeitos. Onde a presença desses sujeitos em lugares públicos durante o dia possivelmente irá gerar reações contrarias, enquanto à noite teriam outras perspectivas para os sujeitos, sendo durante esse horário  lugares de encontro e sociabilidade e aos olhos da sociedade hegemônica como lugar "impuro" associando múltiplos  significados ao espaço. Essa ideia também pode ser aprofundada com o conceito de territórios cíclicos (SOUZA 1995).

Em sua terceira parte, se é tratado a violência como elemento presente na vida dos sujeitos considerados como abjetos. A cidade de Brasília, em que se passa a pesquisa, tem o ato de  violência  legitimado em função não apenas do imobiliário, mas também simbólico desses espaços, sendo exercidas como sendo práticas "purificadoras", culpando os ditos corpos abjetos de estarem exercendo o papel de impureza dentro dessa paisagem.


Por fim, a obra de Pedro Lemos MacDoWell nos promove compreensão de como a relação corpo e espaço pode nos revelar situações diversas dentro da sociedade. Essa relação é dialética, como afirma Lefvebre (apud Soja, 1993, 102), "O espaço político e ideológico é permeado pela mesma gramática que constitui os corpos; os espaços são (res)significados pelos corpos que os habitam, e os corpos são (res)significados pelos espaços em que habitam". Podemos compreender, com base em MacDoWell que os corpos carregam valores dentro da sociedade, sendo a mesma estruturada por uma matriz patriarcal, heteronormativa a qual constitui as ideias de corpos válidos e corpos abjetos, onde os corpos abjetos seriam  todos aqueles a qual se diferem dessa matriz. Podemos compreender com a obra o (não)lugar do corpo das travestis em Brasília, onde o autor nos mostra o discurso a qual os corpos desses sujeitos carregam, suas espacialidades, suas corporalidades perante os espaços e as dificuldades enfrentadas cotidianamente nas suas existências. Os corpo travestis perante a sociedade transgridem e por ela são renegados, porém mesmo que não "permitidos", esses corpos (r)existem. 



Por: Grupo PETGEO-UFRRJ/IM