quinta-feira, 30 de abril de 2020

Isolamento social e comportamento alimentar: o que não ajuda neste momento e como garantir autocuidado como resistência





Isolamento social e comportamento alimentar: o que não ajuda neste momento e como garantir autocuidado como resistência

Queila Romualdo da Silva

O Brasil adotou medidas de distânciamento social e quarentena há um pouco mais de um mês devido à pandemia global do Corona Vírus (COVID-19). A diminuição do contato social entre as pessoas, gerada pelo isolamento, pode acarretar em diversos impactos psicológicos negativos e preocupantes.
A quebra inicial de rotina pode gerar sintomas como ansiedade, medo, introspecção, estresse e apatia. Mas, também é importante falarmos sobre o quanto o isolamento social afeta o nosso comportamento alimentar.
Os períodos prolongados de isolamento social podem facilitar comportamentos característicos de doenças como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtornos de compulsão alimentar. O distúrbio alimentar leva a pessoa a ter uma obsessão sobre o seu peso e aquilo que come. Porém, esse período também se torna muito propício para usarmos a ingestão de comida – aumentada ou diminuída – como tentativa de atenuar estados emocionais negativos, como ansiedade, raiva, frustrações e tédio.
No entanto, é importante ressaltar que uma das formas de cuidarmos de nosso comportamento alimentar nesse período tão difícil e conturbado que estamos vivendo é a prática do autocuidado como forma de resistência.
O autocuidado nada mais é que olhar para si mesmo de vez em quando, se auto avaliar e reservar um tempo, mesmo que pouco, para cuidar de si. Essa prática, além de melhorar a nossa autoestima, tem sido uma grande aliada em termos de sobrevivência no isolamento social.
Essa visão reducionista e problemática de que vamos engordar durante a quarentena não é adequada e se a nossa única preocupação do momento for essa, está mais que na hora de avaliarmos as políticas de dieta e ditaduras do “corpo magro” que cercam as nossas vidas.
Recai sobre essa questão um grande paradigma que consiste na perda de padrões alimentares secularmente construídos, com base no território, na terra e no legado ancestral. Hoje, os substituímos na nossa realidade urbana-industrial, por fórmulas previamente preparadas em laboratório, que nos garantem mais confiabilidade nutricional do que os legumes e frutas que não carregam propaganda em suas embalagens – cascas.
Daí se estabelece uma confusão a partir do saber sobre o que se come. A informação que a indústria propaga, mais confunde do que ajuda. Ao endeusar certos tipos de produtos alimentícios, sobretudo aqueles que as blogueiras nos bombardeiam nas redes sociais, demonizamos certos alimentos, sobretudo os naturais, de baixo valor agregado e nenhuma propaganda milionária por trás. Em algum lugar do nosso subconsciente, começamos cada vez mais a achar que o problema está neles e que eles não são capazes o suficiente para nos alimentar, e ainda, não são capazes o suficiente para nos dar os corpos que endeusamos nas mídias. É preciso voltar à terra e ao que nasce dela, resgatando um comportamento alimentar simples e acessível.
A importância de seguirmos um comportamento alimentar pautado em uma rotina ajuda a evitarmos compulsões alimentares por motivos de estresse, medo ou ansiedade. Uma excelente dica é aproveitar que as crianças estão em casa devido à paralisação das escolas e estipular horários fixos para as refeições (Café da manhã, almoço, jantar e lanches). Além de, chamá-las para participar do preparo dos alimentos e estimular o desejo por uma boa alimentação.
Outra dica para ter uma alimentação equilibrada é criar um cardápio alimentar dividido em categorias como: Proteínas, Verduras, Frutas, Grãos ou Laticínios que facilitam muito a compra mensal para evitar a ida ao mercado diversas vezes por semana. Além disso, comprar verduras e frutas que durem um pouco mais de tempo é muito eficiente. É possível ainda congelar alguns vegetais e frutas para que possam ser utilizados em preparações e receitas e, assim, durem por mais tempo. E, não podemos esquecer de higienizar adequadamente os alimentos e embalagens com água sanitária, sabão ou álcool 70 antes de ir para a geladeira e dispensa.
Sabemos que o momento que enfrentamos é muito conturbado e preocupante, mas precisamos encontrar uma rotina. Se estivermos sempre atentos a uma boa alimentação, sem pressões para alcançar um corpo que idealizamos através das redes sociais, evitaremos comportamentos alimentares compulsivos e garantiremos o autocuidado para resistir nesse momento tão difícil.

Dicas de Perfis sobre alimentação para ficarmos por dentro nessa quarentena:

Blog Amigas da Cozinha: Unidos na quarentena - disponível em: https://amigasdacozinha.com.br/blog_unidosnaquarentena?blog=354rhwtlo&video=242o81i7k
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