Isolamento
social e comportamento alimentar: o que não ajuda neste momento e como garantir
autocuidado como resistência
Queila
Romualdo da Silva
O
Brasil adotou medidas de distânciamento social e quarentena há um pouco mais de
um mês devido à pandemia global do Corona Vírus (COVID-19). A diminuição do
contato social entre as pessoas, gerada pelo isolamento, pode acarretar em
diversos impactos psicológicos negativos e preocupantes.
A
quebra inicial de rotina pode gerar sintomas como ansiedade, medo, introspecção,
estresse e apatia. Mas, também é importante falarmos sobre o quanto o
isolamento social afeta o nosso comportamento alimentar.
Os
períodos prolongados de isolamento social podem facilitar comportamentos
característicos de doenças como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtornos
de compulsão
alimentar. O distúrbio alimentar leva a pessoa a ter uma obsessão sobre o seu
peso e aquilo que come. Porém, esse
período
também se torna muito propício para usarmos a ingestão de comida – aumentada ou diminuída – como tentativa de atenuar
estados emocionais negativos, como ansiedade, raiva, frustrações e tédio.
No
entanto, é importante ressaltar que uma das formas de cuidarmos de nosso
comportamento alimentar nesse período tão difícil
e conturbado que estamos vivendo é a prática do autocuidado como forma de
resistência.
O
autocuidado nada mais é que olhar para si mesmo de vez em quando, se auto
avaliar e reservar um tempo, mesmo que pouco, para cuidar de si. Essa prática, além de melhorar a nossa
autoestima, tem sido uma grande aliada em termos de sobrevivência no isolamento
social.
Essa
visão reducionista e problemática de que vamos engordar durante a quarentena não
é adequada e se a nossa única preocupação do momento for essa, está mais que na
hora de avaliarmos as políticas de dieta e ditaduras do “corpo magro” que cercam as nossas
vidas.
Recai
sobre essa questão um grande paradigma que consiste na perda de padrões
alimentares secularmente construídos, com base no território, na terra e no
legado ancestral. Hoje, os substituímos na nossa realidade urbana-industrial,
por fórmulas previamente preparadas em laboratório, que nos garantem mais
confiabilidade nutricional do que os legumes e frutas que não carregam
propaganda em suas embalagens – cascas.
Daí se
estabelece uma confusão a partir do saber sobre o que se come. A informação que
a indústria propaga, mais confunde do que ajuda. Ao endeusar certos tipos de
produtos alimentícios, sobretudo aqueles que as blogueiras nos bombardeiam nas
redes sociais, demonizamos certos alimentos, sobretudo os naturais, de baixo
valor agregado e nenhuma propaganda milionária por trás. Em algum lugar do
nosso subconsciente, começamos cada vez mais a achar que o problema está neles
e que eles não são capazes o suficiente para nos alimentar, e ainda, não são
capazes o suficiente para nos dar os corpos que endeusamos nas mídias. É preciso
voltar à terra e ao que nasce dela, resgatando um comportamento alimentar
simples e acessível.
A
importância de seguirmos um comportamento alimentar pautado em uma rotina ajuda
a evitarmos compulsões alimentares por motivos de estresse, medo ou ansiedade.
Uma excelente dica é aproveitar que as crianças estão em casa devido à paralisação
das escolas e estipular horários fixos para as refeições (Café da manhã, almoço, jantar e lanches). Além
de, chamá-las para participar do preparo dos alimentos e estimular o desejo por
uma boa alimentação.
Outra
dica para ter uma alimentação equilibrada é criar um cardápio alimentar
dividido em categorias como: Proteínas, Verduras, Frutas, Grãos ou Laticínios
que facilitam muito a compra mensal para evitar a ida ao mercado diversas vezes
por semana. Além disso, comprar verduras e frutas que durem um pouco mais de
tempo é muito eficiente. É possível ainda congelar alguns vegetais e frutas para
que possam ser utilizados em preparações e receitas e, assim, durem por mais
tempo. E, não podemos esquecer de higienizar adequadamente os alimentos e
embalagens com água sanitária,
sabão ou
álcool 70 antes de ir para a geladeira e dispensa.
Sabemos
que o momento que enfrentamos é muito conturbado e preocupante, mas precisamos
encontrar uma rotina. Se estivermos sempre atentos a uma boa alimentação, sem
pressões para alcançar um corpo que idealizamos através das redes sociais,
evitaremos comportamentos alimentares compulsivos e garantiremos o autocuidado
para resistir nesse momento tão difícil.
Dicas
de Perfis sobre alimentação para ficarmos por dentro nessa quarentena:
Blog Amigas da
Cozinha: Unidos na quarentena - disponível em: https://amigasdacozinha.com.br/blog_unidosnaquarentena?blog=354rhwtlo&video=242o81i7k
Perfis Instagram:
@brunacrioula
@comermudaomundo
@Isabelamota.nutricionista
@alexandrismos
@ojoioeotrigo
Documentários:
Muito Além do Peso
Cooked - Michael Pollan
Leituras:
O Mito da Beleza - Naomi
Wolf
Podcast:
Prato Cheio
Disponível em:
https://open.spotify.com/show/44Ubq2POFmm15Ld67pIbgV?si=hCe657uMRN-1pM-FaMeA3g
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