terça-feira, 23 de outubro de 2012

Trabalho de Campo na Ilha Grande- RJ (25 a 27 de outubro, 2012)


A ideia de um trabalho de campo Ilha Grande foi proposta como forma de integração, principalmente para aproximar ainda mais o grupo no sentido de que possamos ter sempre uma relação de respeito e companheirismo além de buscar uma aproximação dos petianos com instrumentos cartográficos e a possibilidade de levar nosso olhar geográfico para este lugar belíssimo. A Ilha Grande é pensada a partir de seu potencial turístico, mas em outros períodos da sua história abrigou mais de um presídio e, antes disso, havia sido um espaço de isolamento para combater casos de cólera do Brasil.
Como futuros professores-pesquisadores, estamos a todo o momento formando opiniões críticas a respeito da complexidade que é morar no Estado do Rio de Janeiro, cujas modificações territoriais ocasionadas pelos grandes projetos e megaeventos sinalizam uma forma de “desenvolvimento” que afeta de modo significativo a vida de moradores e turistas no Estado. 
A preparação para a viagem se deu nos últimos dias da greve na UFRRJ e durante as reuniões de organização da viagem, fomos orientados a conhecer melhor a história da Ilha Grande e sua importância para o Estado do Rio de Janeiro e para o país. A pesquisa prévia nos revelou numerosos acontecimentos importantes para a compreensão da história do Estado e do país, pois desde a época do Brasil-colônia tornou-se um território disputado e cuja importância se revelaria alguns séculos mais tarde, quando a Ilha Grande recebeu a construção da Colônia Correcional de Dois Rios e do Lazareto que quando desativado passou a ser utilizado como Presídio Político. Se no início do século XX o presídio recebia detentos (muitos deles presos por vadiagem), anos mais tarde as questões políticas evidenciariam o papel de isolamento da Ilha Grande. Em 1954, o Lazareto foi demolido e seus detentos foram transferidos para o presídio de Dois Rios, que passou a se chamar Instituto Penal Cândido Mendes. 
Atualmente, as atividades praticadas na ilha são, em sua maior parte, ligadas ao turismo, com resquícios de uma vida caiçara onde a pesca resiste em meio ao consumo do/no lugar.
Com isso surgiram muitas ideias e a viagem que antes tinha objetivos pedagógicos relacionados à integração do grupo, transformou-se em um trabalho de campo de uma pesquisa que poderia gerar frutos analíticos. Integrando os conhecimentos adquiridos no PET e nas disciplinas do curso de Geografia, a proposta de geo-grafar a Ilha Grande contou com a colaboração e orientação da professora Monika Richter na concepção da proposta relacionada à cartografia dos locais visitados. Para além de um levantamento de dados sobre a história e o cotidiano do lugar, a proposta de uma cartografia sensível inclui uma compreensão mais ampla das análises sobre as práticas espaciais e a produção do espaço. Nosso objetivo era tentar compreender como as pessoas que moram e frequentam as vilas locais vivenciam o lugar e como percebem a dinâmica do espaço e suas transformações no tempo. Para isso a professora convidada propôs a aplicação de questionários para a realização de entrevistas e posterior sistematização dos resultados.
 O grupo foi animado pela ideia de conhecer um lugar rico em histórias, que mesmo sendo tão próximo geograficamente, não fazia parte diretamente da nossa realidade. Contamos com a participação de dez bolsistas do PET, além da tutora Anita Loureiro e de uma aluna do curso externa ao grupo, a bolsista do PIBIC Silvia.
Na manhã da viagem a temperatura estava muito agradável, mas quando chegamos em Mangaratiba a ventania já nos avisava o que estava por vir, mesmo assim a animação não acabou. Chegando na Vila do Abrão, todos ficamos extasiados com tamanha beleza. Mas o que mais chamou atenção foi que, apesar de ser um período de baixa temporada, havia um grande fluxo de pessoas com intensa atividade comercial, e, infelizmente numa quantidade imensa de lixo em locais inadequados. Apesar do mau tempo causado pela frente fria que chegou nessa semana no Rio, conseguimos fazer muitas atividades e cumprir grande parte do que havíamos planejado.
Logo no primeiro dia conhecemos o Parque Estadual da Ilha Grande, um lugar de beleza singular, com mata atlântica exuberante, com belas praias e cachoeiras. Conhecemos as ruínas do Lazareto e do Aqueduto e um pouco mais da história local por meio destes que são importantes marcos da memória e do patrimônio histórico do lugar. 


Grupo na entrada do Parque Estadual de Ilha Grande

Placa do Parque Estadual de Ilha Grande
Após a caminhada até a praia de Abraãozinho, nos reunimos para definir como faríamos a aplicação dos questionários nos distribuindo pelos 3 setores censitários da vila do Abraão.
                                                     
Grupo fazendo caminhada até o Abraãozinho

A forte chuva que atingiu a Ilha já no fim da tarde, permaneceu por todo o dia seguinte, quando fomos recepcionados por funcionários do CEADS (Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável) da UERJ na Vila de Dois Rios, onde tivemos a oportunidade de visitar as ruínas do Instituto Penal Cândido Mendes e conhecer melhor suas histórias e curiosidades. Visitamos o ECO MUSEU DA ILHA GRANDE acompanhados pela arte-educadora Angélica Liaño. Conhecemos a produção de artesanato local e a artesã Marilda nos falou um pouco do cotidiano na Vila de Dois Rios. A visita ao ecomuseu nos estimulou a produzir um material de apoio à recepção de visitantes e outras ideias surgiram no sentido desdobrarmos a atividade numa futura ação de extensão. No fim deste segundo dia, finalizamos as aplicações dos questionários na vila do Abraão e as entrevistas nos estimularam a refletir sobre questões que não nos mobilizariam se não fossem as falas dos moradores e suas preocupações com a dinâmica do turismo na Ilha Grande.

   Grupo no Ecomuseu (CEADS/UERJ) - Dois Rios
No terceiro dia fizemos um passeio de barco até a praia de Lopes Mendes, onde passamos o dia juntos. A praia com características singulares, como não possuir nenhuma construção e ter uma preservação ambiental evidente, já foi palco de uma série de manifestações que evidenciam uma luta dos moradores e usuários da Ilha Grande no sentido de preservá-la diante dos ímpetos de privatização do espaço público, que frequentemente ameaçam o local. O almoço na praia do pouso foi a última atividade antes de finalizarmos nossa viagem de confraternização e pesquisa.

  
  Despedida na Vila do Abraão

Como resultados deste trabalho de campo apontamos a possibilidade de intercâmbio com outras instituições de pesquisa, como o CEADS, a aproximação com a comunidade, por meio do ECOUSEU, a partir da ideia de futuramente voltarmos a Dois Rios para realizarmos uma oficina de reciclagem de garrafas PET para a produção de artesanato aprendendo esta técnica com os moradores da Vila, além de um aprofundamento do uso de técnicas de cartografia para reconhecimento de locais percorridos, que poderá vir a ser também uma futura oficina a ser desenvolvida em uma próxima visita à Ilha Grande. 
Foram produzidos mapas da Ilha Grande, banner com a síntese do trabalho desenvolvido, além de um folder com pontos de visitação a ser oferecido à UERJ como retribuição à nossa recepção. Os petianos também estão produzindo um artigo a ser apresentado como resultado da pesquisa desenvolvida pelo grupo na Ilha Grande.