quinta-feira, 8 de março de 2018

RELATO PET-VIAGEM - São Gonçalo - Paraty/RJ



O grupo Pet-Geo nos dias 2, 3 e 4 de março de 2018, retornou a São Gonçalo, comunidade caiçara de Paraty onde realiza pesquisas desde 2016. Esse retorno foi para devolver o fruto dessas pesquisas, o livro “Geografia e diálogo de saberes: territorialidades caiçaras em Paraty”. Retornamos com o intuito de agradecer e entregar alguns exemplares para a comunidade.

No dia 02, assim que todos os membros do grupo chegaram no camping do guia Vagno Martins (caiçara local que nos ajudou nas nossas pesquisas desde a primeira visita), fomos para o Sítio Sertão da Burra ao encontro do agricultor Israel, um dos moradores da comunidade entrevistados que gerou um dos artigos do livro. Ao chegarmos ao sítio, o próprio agricultor nos recebeu de forma calorosa e falou sobre como estava grato com o nosso retorno para fazer a devolução das pesquisas. Expressou seu sentimento sobre as pesquisas e como aquilo era importante para a comunidade.


No dia 03, fomos para Ilha do Pelado, ilha onde se encontra o bar da Dona Bete, outra Caiçara local personagem central de um dos conflitos territoriais que aquela região sofre, além de ser uma importante influencia em um dos artigos do livro. Nesse dia, por ser um sábado e próximo ao horário do almoço, não conseguimos conversar com ela, pois o bar estava com muitos fregueses fazendo com que ela nos convidasse a retornar no dia seguinte. No domingo, voltamos a ilha com cortesias cedidas pela D. Bete e fomos muito bem recebidos (mais uma vez) e conseguimos ter uma conversa com ela, que nos demonstrou como também estava grata por nosso retorno com o material fruto nos nosso encontros anteriores, e assim como o Israel e o Vaguinho falou sobre a importância daquele material, com a historia do local e da luta deles, para a permanência. 

Por: Leonardo Aragão - colaborador do Grupo PETGEO-IM/UFRRJ

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

RELATO PET-VIAGEM - Inhotim

No dia 09/11/2017 saíram de Seropédica dois ônibus com destino à Brumadinho, Minas Gerais, para que os estudantes, técnicos e professores do ICHS pudessem conhecer o Instituto Museu Inhotim. A organização foi feita pelo grupo PET-Conexões Dimensões da Linguagem, e como uma forma de integrar os outros Programas de Educação tutorial da UFRRJ, foram disponibilizadas 15 vagas para tutores e bolsistas dos demais grupos PET. Nós, do Pet- Geografia, não poderíamos ficar fora dessa, os integrantes André Luiz Bezerra e Thayná Maia, foram representando o grupo.

Em relato, os bolsistas disseram que a viagem foi uma forma de mudar a perspectiva de mundo e poder perceber a visão que os artistas plásticos das artes contemporâneas têm dele. O museu conta com exposições interativas, que desafiavam a realidade e os sentidos dos frequentadores. A estudante Thayná, em entrevista para o grupo PET Dimensões, relata que a UFRuralRJ mostrou, junto a um dos seus institutos, o verdadeiro sentido do fazer Ensino, Pesquisa e Extensão.

                                                   
  
Por: André Luiz Bezerra - bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Relato CINEPET: Nunca fui mas me disseram



No dia 29 de agosto, às 14:00, o grupo PetGeo realizou sua atividade de cine debate com o documentário "Nunca Fui Mas me disseram" produzido por um cineclube da Baixada Fluminense, denominado como Cineclube Mate com Angu, um símbolo de resistência. O objetivo dessa atividade proposta pelo grupo é a promoção de uma discussão com base em textos divulgados anteriormente, almejando articular um debate com os integrantes da Rural e todos aqueles interessados na atividade que acontece mensalmente.

Para essa atividade o texto sugerido foi o "A MÍDIA E O JOVEM DA BAIXADA FLUMINENSE, MACHADO, Renata; DUPRET, Leila. 2008" o qual aborda uma outra visão a respeito da Baixada Fluminense, agora contada a partir de sujeitos que antes não tinham seu espaço de dizer, indo contra a racionalidade hegemônica que reforça a exploração da violência e da pobreza pelos veículos de comunicação, associando a Baixada como sinônimo de tais fatos.

O trabalho tem o objetivo de fazer o trajeto oposto da mídia, buscando trazer aquilo que ela não diz sobre a realidade da Baixada Fluminense. E ao articular a discussão do texto com o documentário, realizou-se um proveitoso debate a respeito dos estigmas e pré-conceitos existentes sobre a Baixada Fluminense.

O documentário tem como intuito abordar por uma outra perspectiva o imaginário a respeito da Baixada Fluminense a partir da concepção dos moradores da Zona Sul, onde de forma inteligente levanta questões relacionadas à manipulação midiática, pré-conceitos e estereótipos presentes nos discursos dos entrevistados. Entretanto, o mesmo não tem a pretensão de responder ou esclarecer tais questões, apenas discutir a origem desses pensamentos.

A atividade resultou num produtivo debate, ficando aqui um convite para todos e todas que participem dos próximos CinePet.


Por: Thayná Cagnin - bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ

PET-DEBATES: Desenvolvimento, tecnociência e poder – A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização, de Carlos Walter Porto-Gonçalves.


No dia 23 de agosto de 2017 o grupo PET-Geografia do IM se comprometeu a iniciar a leitura e discussão dos textos presentes nas bibliografias utilizadas pelas pesquisas em andamento, as quais estão sendo elaboradas pelos integrantes e são relacionadas aos conflitos territoriais e resistência Caiçara em São Gonçalo, município de Paraty. Cada pesquisa faz parte de um eixo temático, e neste dia o eixo era referente ao tema “técnica”, sob o contexto da região estudada.

Para além do progresso
Neste momento inicial, o autor afirma que, dentro das contradições do mundo moderno-colonial, o desafio ambiental está presente, visto que a ideia de progresso e desenvolvimento se tornou sinônimo de dominação da natureza. Portanto, o ambientalismo trouxe consigo uma questão importante para se pensar acerca do modo de produção e consumo hegemônico, isto é, percebeu-se que “há limites para a dominação da natureza”.

Contudo, o é salientado no texto que os ambientalistas são acusados de quererem voltar ao passado, devido à renegação dos princípios de progresso e desenvolvimento. Sabe-se que estes princípios são provenientes das produções filosóficas vindas do Iluminismo, tendo como vertentes posteriores, os princípios liberais, ou seja, dos capitalistas, ou de marxistas produtivistas, tais como os que defendiam o desenvolvimento soviético.

Limites do Desenvolvimento, os Limites da Técnica e Temporalidades e Territorialidades em tensão
Neste momento o autor resgata as ideias de dominação da natureza e relembra que são tratadas quase como uma “luta” entre o ser humano e a natureza, para que assim, o homem tenha que superá-la. No entanto, é mostrado que essa ideia é equivocada, pois “sofremos, reflexivamente, os efeitos da própria intervenção que a ação humana provoca por meio do poderoso sistema técnico que moderno-colonialmente se impõe” (PORTO-GONÇALVES, 2006, p.69).

Portanto, o autor sugere que ao invés de haver esse conflito entre “Homem x Natureza”, dever-se-ia repensar os efeitos do sistema técnico vigente sobre a natureza. Permitindo-se citar a observação do geógrafo Milton Santos, que atenta ao fato de que:

"não há sistema técnico dissociado de um sistema de ações, de um sistema de normas, de um sistema de valores, e, assim, sinaliza para que não o reifiquemos afirmando uma ação do sistema técnico como se ele se movesse  por si mesmo, sem ninguém que o impulsionasse" (SANTOS, 1996).

Adiante, Porto-Gonçalves define o que seria o “desafio ambiental” com uma questão a se pensar sobre o risco que, a lógica mercantil e desigual submetida pela humanidade e seus modos de produção e consumo atuam sobre a natureza. Logo em seguida, são utilizados como auxílio, alguns dados da ONU do ano de 2002, referentes ao consumo de recursos naturais, o que demonstra que o 86% do consumo privado de recursos naturais no mundo está nas mãos de 20% dos mais ricos do mundo, enquanto somente 14% está sob o poder dos demais. Em seguida, outro gráfico é exposto, porém dessa vez referente ao consumo de aparelhos de telefone entre ricos e pobres no mundo: 74% do consumo pertence aos 20% mais ricos, 21% do consumo pertence aos 60% da média entre os mais ricos e mais pobres, e 5% pertence aos 20% mais pobres. Portanto, é explicitado a expressiva desigualdade social que o mundo apresenta.

Logo mais, o autor complementa o raciocínio exposto com a questão da importância da vida com o equilíbrio dinâmico do planeta, o que implica questões de ordem ética e política. Compreende-se assim, que prática como a intensa exploração de recursos naturais e do trabalho geram grandes problemas que podem comprometer a vida no e do planeta.
Por fim, o autor sugere que olhemos para as práticas produtivas de forma que sejam dotadas de temporalidades, e portanto, não deixa de citar a importância de saberes dos povos tradicionais com a natureza, apresentando assim, alternativas para um modo produtivo e que dialogue com a vida. 


Por: Marcus Vinicius C. Aguiar - bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

RELATO DE ATIVIDADE - visita ao Centro do Rio com os alunos da ex-petiana Andréia Ribeiro

O grupo Pet-Geo recebeu o convite da egressa Andréia Ribeiro para participar do trabalho de campo promovido por ela para seus alunos do Colégio Estadual General Dutra que fica localizado no município de Campos dos Goytacazes. Desta forma, alguns integrantes do grupo se encarregaram de apresentar determinados pontos de visitação do Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana, carinhosamente apelidado pelos petianos de CHACHA.
No dia 22 de agosto, assim, quatro integrantes do grupo se encontraram com a professora Andréia, seus alunos e mais alguns professores do colégio. O primeiro ponto de visitação foi a Central do Brasil, no qual o petiano Marcus Aguiar explicitou a história e a importância que a estação tem para a região metropolitana do estado do Rio de Janeiro. Também, nesse momento ele falou um pouco do Morro da Providência e sua história, bem como o mesmo foi inserido no projeto de revitalização da zona portuária do município. Os alunos demonstraram interesse em conhece a Providência, entretanto, não tinha tempo hábil para tal e também não se achou conveniente adentrar no morro com um grupo tão grande, e sem a presença de um morador que os conduzisse como já foi feito em outras ocasiões pelo Pet-Geo.
Depois o grupo foi para o Cais do Valongo, onde a própria professora Andréia Ribeiro falou sobre a história do Porto e da representação que ele tem para a população negra que vive na cidade. Também foi explicado como o movimento de revitalização acabou expulsando essas pessoas ao invés de valorizar a cultura delas, como o próprio nome do circuito diz. Nesse momento os alunos tiraram diversas fotos e aparentaram se interessar por aquele espaço e por sua história.
O ponto seguinte foi o Jardim Suspenso do Valongo, em que as petianas Camila Marcondes e Mayara Lobato apresentaram a história do jardim e falaram sobre os dois processos de revitalização. O primeiro feito pelo prefeito Pereira Passos em 1906 e o segundo pelo prefeito Eduardo Paes em 2016, na lógica de embelezamento do centro da cidade. Nesse momento, os estudantes entenderam um pouco da lógica de segregação desse espaço aonde, num primeiro momento, se usa o espaço como um lugar para que os negros que seriam escravizados engordassem para serem vendidos e depois esse espaço é revitalizado, as ruas são alargadas e um belo jardim é construído, para que as pessoas ricas da sociedade, que não eram os negros que sempre estiveram presentes ali, contemplassem o centro da cidade.
Quando o grupo chegou ao jardim, a casa da guarda estava fechada. Por isso, o ponto foi apresentado apenas na parte externa do jardim. Em seguida, partiram em direção do próximo local de visitação pelo Morro da Conceição, que fica localizado na parte de traseira do jardim. Antes de chegar à Pedra do Sal, os estudantes foram guiados a um mirante em que puderam contemplar a beleza do centro da cidade. De lá desceram o Morro e chegaram à Pedra do Sal. Ali, o petiano Felipe Rodrigues explanou a importância daquele lugar para a comunidade negra como uma forma de resistência no centro da cidade, apesar de todas as disputas vividas por esse povo. Ele falou também de como o samba da Pedra do Sal, que é mais um movimento do processo de resistência, está sendo apropriado por turistas e pessoas que não vivem naquele espaço e que, ao ignorarem a luta travada ali, esvaziam o caráter de resistência do lugar e o tornam apenas um espaço de consumo e não de resistência da comunidade negra.
Após algumas fotos que foram tiradas na Pedra do Sal, os estudantes seguiram para o Museu de Arte do Rio (MAR), no qual todos ficaram admirados com a vista do terraço do museu e fizeram várias fotografias. Alguns até reconheceram a ponte Rio - Niterói e afirmaram que tinham vindo de lá. Visitaram as exposições do museu e depois foram para o museu do Amanhã, nesse momento os integrantes do Pet se despediram dos estudantes.
Agradecemos à professora Andréia Ribeiro pelo convite e esperamos que a visita tenha sido proveitosa para os estudantes e os professores que acompanharam.


Att, Camila Marcondes.
Foto 2: Alunos do 3 ano do Ensino Médio em frente ao Grafite da Pedra do Sal 




terça-feira, 14 de março de 2017

RELATO DE ATIVIDADE: PETGEO NO 8M BRASIL

No dia 08 de março de 2017, o Grupo  PETGEO-IM/UFRRJ  foi representado pelas bolsistas Beatriz Maravalhas e Thayná Cagnin no evento realizado pelas mulheres do curso de História da UFRJ - "Mulheres que não são de Atenas".  O evento teve grande participação de estudantes e professores e abordou temáticas como: a violência contra a mulher e subjetividade, a redefinição de estupro nas Américas, e a discussão sobre "Mulheres negras e a violência na literatura" realizado pela professora convidada Fernanda Felisberto(UFRRJ).

A mesa teve participação de docentes do curso de História da UFRJ que falaram sobre a necessidade que sentiram de realizar a discussão junto com o coletivo de estudantes Maria Bonita, para mostrar que a luta não é só das estudantes e sim de todo o curso. Além disso, a cultura do machismo está presente em todas as classes universitárias, inclusive dentro do corpo docente.

Após a mesa, as componentes do coletivo Maria Bonita, nos convidaram para a atividade que iriam realizar junto as calouras e calouros que estavam tendo a semana de integração delxs nesse período. Durante a atividade buscamos anotar e desenvolver algumas ideias que iremos levar para a integração que acontecerá no curso de Geografia da UFRRJ para os alunos de  2017.2, já que além de bolsistas no Grupo PETGEO-IM/UFRRJ, também somos parte do Coletivo GEOGRAFIA: CULTURA, EXISTÊNCIA E COTIDIANO, que vem trabalhando as questões de gênero durante as reuniões semanais.

No final do dia, junto com outras estudantes e docentes da UFRRJ, incluindo a nossa tutora do PETGEO-IM/UFRRJ, Anita Loureiro, fomos ao Ato das mulheres contra as reformas da previdência e trabalhistas. Nesse dia, não queremos flores, queremos companhia para luta.

Esse 08 de março se tornou  um dia histórico para os nossos calendários de luta. Há 100 anos atrás ocorria a Revolução Russa, um marco revolucionário para a classe trabalhadora e principalmente para as mulheres. Para esse mesmo dia, na busca por um feminismo a qual todas mulheres e suas pautas únicas fossem contempladas, foi organizado mundialmente manifestações para esse marcante dia. Segundo dados do 8M Brasil, foram mais de 370 localidades de 48 países a aderirem o movimento de Greve Internacional das mulheres.

"Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós" e com essas palavras de ordem, o movimento espelhado nas mobilizações do Women's March, uma marcha que reuniu milhares de pessoas contra o conservadorismo do atual Presidente Donald Trump nos EUA e também no movimento Ni Una Menos, que luta pelo fim do feminicídio na América Latina, reuniu multidões reivindicando os direitos das mulheres e em destaque especial a pauta sobre a reforma da previdência proposta pelo governo ilegítimo de Michel Temer.

Tal proposta prevê um aumento no tempo da contribuição e uma equiparação da idade mínima para aposentadoria entre homens e mulheres. Atitude esta, que além de prejudicar toda a classe trabalhadora tem em sua raiz um pensamento de cunho machista, não considerando a dupla ou até tripla jornada de trabalho a qual a maioria das mulheres estão inseridas. Não considerando as tarefas domésticas e o cuidado com a prole como um trabalho. Este que na maioria das vezes na nossa sociedade patriarcal, fica sob responsabilidade apenas das mulheres. As mulheres também pararam reivindicando o fim do feminicídio, o fim da reforma do Ensino Médio, que prevê a retirada de matérias fundamentais para a elaboração de um pensamento crítico, como história e geografia da grade curricular.

Paramos para exigir que o direito os direitos humanos em todas as latitudes seja comprido. Que todas as mulheres possam sair as ruas sem ter a incerteza sobre a volta para suas casas. Que o direito a liberdade e escolha sobre as atitudes em relação aos seus corpos sejam respeitados. Luta-se pela equidade!
E no dia 8 de março mulheres, no Centro do Rio de Janeiro e no mundo inteiro gritaram: "BASTA! Não mais. Que essa Luta se perpetue.
Foto: CUT Rio de Janeiro


Por: Beatriz Maravalhas e Thayná Cagnin - Bolsistas do Grupo PETGEO-IM/UFRRJ.


Mais informações:

Link do Manifesto das organizadoras da Greve Internacial das Mulheres:
https://www.8mbrasil.com/copia-convocacao

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

CINEPET GEO

Bora debater direito à cidade e reforma urbana?
Amanhã, 14h, na 205 adm.
Todo apoio aos movimentos populares de luta pela moradia!
"Construímos nossa maloca
Mas um dia, nós nem pode se alembrá
Veio os homis c'as ferramentas
O dono mandô derrubá"

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

PET NA VILA AUTÓDROMO




No dia primeiro (1) de outubro de 2016 o grupo PETGEO-IM\UFRRJ realizou uma visita na Vila Autódromo em Jacarepaguá na cidade do Rio de Janeiro. Com os jogos olímpicos, o discurso da remoção na comunidade tomou uma dimensão mais concreta. A Vila Autódromo deveria ser removida para a construção de equipamentos olímpicos. Frente aos argumentos/planos do poder público municipal, a Vila Autódromo, comunidade organizada e pacífica, uniu forças com diversos movimentos e pessoas para resistir às imposições das remoções. 


Com o passar do tempo e maior resistência por parte da comunidade, as formas de negociação foram ficando cada vez mais truculentas. Então, a Prefeitura abriu um decreto para remoção de 50 famílias, sob o argumento para a realização de obras públicas. Um caso específico ficou bastante marcando entre os moradores, como afirmam as moradoras Sandra e Nathália, um caso de extrema violência cometido pelos Agentes do Grupamento de Operações Especiais da Guarda Municipal. Chegaram na comunidade de manhã, sem nenhum aviso prévio, com a forte intenção de remover à força algumas famílias. Com a resistência dos moradores, muitos ficaram feridos, a repressão foi forte através de cassetetes e gás lacrimogêneo. De uma população estimada em 700 famílias (segundo Sandra), apenas 20 conseguiram permanecer no território. Uma área que não atrapalhava em nada o fomento das olimpíadas, mas que hoje está vazia, especulando ao mercado imobiliário. Em outra parte do que foi a comunidade, construíram um hotel de luxo, em parceria público-privada. Desmataram cerca de 500 árvores durante o processo de remoção na comunidade em uma área da margem da lagoa de Jacarepaguá, com a intenção de “resgatar a flora original”, um paisagismo que custou muito a muitos. Mas a comunidade da Vila Autódromo resistiu e resiste com força, Sandra, Nathália e as outras famílias que conseguiram permanecer levam o legado de uma comunidade forte, ordenada, articulada. Através do Museu das remoções, pretendem não deixar a história da comunidade se apagar. Sandra nos disse que as remoções não removem apenas casas, removem a história da população que ali ocupava, remove a identidade de uma comunidade.


Para isso não acontecer, o Museu das remoções surge com o objetivo de relatar os acontecimentos histórico-geográficos ali ocorridos e mostrar que a identidade de resistência prevaleceu, uma comunidade exemplo para outras que sofrem e sofrerão com o processo das remoções. História essa contada através dos símbolos de luta da Vila Autódromo, em um Museu-território.
Foto: Acervo do Grupo PetGeo-IM/UFRRJ.




Por: Flávia Souza - Bolsista do Grupo PETGEO-IM/UFRRJ.






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Mais informações: FACEBOOK 




segunda-feira, 26 de setembro de 2016

II CINEPET de Setembro: Tatuagem


"Quero ficar no teu corpo feito tatuagem..."

CinePET dia 27.09, terça-feira, às 14h, na 205 adm.




Relato CINEPET: Protagonismo Trans

No dia 15 de setembro de 2016 o Grupo PETGEO-IM/UFRRJ realizou o primeiro CINEPET abordando a temática de gênero e geografia – tema proposto para discussão em todo o mês de setembro – com o filme Protagonismo Trans de Luis Carlos Alencar. O evento teve grande participação de estudantes do curso de Letras do IM/UFRRJ que contribuíram fortemente com o debate após a exibição do documentário.

O filme aborda as experiências de vida de um grupo de transexuais do município de Nova Iguaçu na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. De empresárias, domésticas a profissionais do sexo, o longa retrata as individualidades de cada uma, desde as relações familiares às relações profissionais e as dificuldades de se conviver em uma sociedade heteronormativa. A priori o que se percebe é que o objetivo do filme é discutir as problemáticas de saúde pública específica para esse universo, desde a infraestrutura em sua totalidade até o descaso de atendimento social e psicológico.

A falta de aceitação do próprio corpo é um problema que atinge todas as escalas da atual sociedade, contudo, além da dificuldade de se enquadrar aos moldes de beleza e moda propostos pelo pensamento hegemônico e dominante que ditam como uma pessoa deve ser e agir, essas mulheres sofrem com a falta de aceitação de um corpo que não confere com seus devidos gêneros. Em busca do tão sonhado corpo desejado/correto muitas mulheres transexuais passam por procedimentos cirúrgicos de alto risco como a utilização de silicone industrial no próprio corpo, o que pode levar a morte ou deixar graves sequelas para toda a vida.

Há de se entender o porque de alguém se sujeitar a passar por experiências físicas e psicológicas tão desgastantes quando uma fila de espera para procedimentos de mudança de sexo no Sistema Único de Saúde (SUS) se alongam por mais de 10 anos. Além da problemática de saúde pública podemos observar no documentário a dificuldade dessas mulheres em permanecer nas escolas, alcançar bons empregos e acessar as universidades.

O desprezo da população somado ao preconceito a essas mulheres causam uma evasão das escolas e quando rejeitadas dos empregos “formais” elas acabam ocupando os empregos cansativos e mal remunerados como domésticas, manicures e a prostituição. A consequência deste processo deixou um estigma de que essas mulheres estão sempre ligadas a ações não bem-vistas pela “família tradicional brasileira”.

Após a exibição do documentário os participantes se reuniram em roda e trocaram ótimas ideias sobre o filme e experiências pessoais de cada um, discutindo exemplos de violência transfóbica que apareceram na mídia recentemente, como o caso da transexual agredida fisicamente na Zona Oeste do Rio de Janeiro há algumas semanas. Ao fim consideramos o resultado muito satisfatório já que todos – ou a maioria – saiu daquela sala com um senso de reflexão mais apurado e realizando o exercício de se colocar no lugar do outro.



Por: Yago Anjos - Bolsista do Grupo PETGEO-IM/UFRRJ. 

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

PET-DEBATES: Geografia do gênero: do (não) lugar de travestis e outros abjetos na cidade" - Pedro MacDowell

No dia 06 de setembro o Grupo PETGEO-UFRRJ/IM realizou a leitura e debate do texto "Geografia de gênero: do (não) lugar de travestis e outros abjetos na cidadade" de Pedro MacDowell, iniciando as leituras de Geografia de Gênero propostas para o mês de setembro.

O texto supracitado aborda a questão de gênero e usa como estudo de caso a cidade de Brasília e algumas situações específicas.
O artigo, separado em três partes, começa abordando a espacialidade dos corpos e a corporalidade dos espaços. O autor trata, por exemplo, da diferenciação dos "corpos abjetos", que são dotados de um tipo de vazio, nas palavras do autos: "são inteligíveis, não tem uma existência legítima" (...) "são da ordem do "inóspito" e do inabitável". Nessas primeiras discussões o autor fala da ressignificação dos espaços pelos corpos e também da ressignificação dos corpos pelo espaço, em um tipo de relação dialética. Para nós, o que insurge nesta parte é a relação de empoderamento dos sujeitos em determinados recortes espaciais. Isso significa que nossa leitura é pautada em relações de poder, onde o espaço se transforma em território, segundo leituras passadas, como Souza (2004), por exemplo.

Adiante, ainda nesse primeiro tópico, o autor fala da diferenciação para corpos héteros, por exemplo, que ele chama de "corpos que pesam (importam)", se baseando em Judith Butler (1993). Dentro da análise, nessa perspectiva, o autor aborda, então, os corpos abjetos como não-sujeitos, que situam-se em não-lugares. Dentro da discussão do grupo, na reunião, pensamos as diferentes relações que existem, não só com relação a gênero, mas de tudo que destoa do caráter patriarcal, heteronormativo, eurocêntrico, etc. Essa discussão o autor expõe muito bem no texto, quando fala de homens héteros que profanam palavras de ódio a travestis, mas que os não-sujeitos co-existem nessas relações, caso o homem hétero seja negro, por exemplo. Isso pautado dentro de uma discussão conceitual sociológica, para os padrões da sociedade e dos sujeitos à cima dessa escala de poder. Assim, segundo o autor, "o abjeto não está exclusivamente ligado ao gênero dos corpos, mas a um lugar onde se cruzam muitos referentes que variam histórica e espacialmente".

No tópico dois do seguinte texto, o mesmo aborda a relação dos abjetos com o lugar, compreendendo a existência das especificidades, mas não sendo esse seu objeto de estudo.(inclusive ele indica o autor: Benedetti (2005) e Bento (2006) para tal discussão)
Assim, o autor assume os corpos abjetos, todos eles (transexuais, travestis e transgêneros), como não-sujeitos perante a norma matricial. Desta forma, segundo o autor, não há uma diferenciação pelo senso comum destes (não)sujeitos. Onde a presença desses sujeitos em lugares públicos durante o dia possivelmente irá gerar reações contrarias, enquanto à noite teriam outras perspectivas para os sujeitos, sendo durante esse horário  lugares de encontro e sociabilidade e aos olhos da sociedade hegemônica como lugar "impuro" associando múltiplos  significados ao espaço. Essa ideia também pode ser aprofundada com o conceito de territórios cíclicos (SOUZA 1995).

Em sua terceira parte, se é tratado a violência como elemento presente na vida dos sujeitos considerados como abjetos. A cidade de Brasília, em que se passa a pesquisa, tem o ato de  violência  legitimado em função não apenas do imobiliário, mas também simbólico desses espaços, sendo exercidas como sendo práticas "purificadoras", culpando os ditos corpos abjetos de estarem exercendo o papel de impureza dentro dessa paisagem.


Por fim, a obra de Pedro Lemos MacDoWell nos promove compreensão de como a relação corpo e espaço pode nos revelar situações diversas dentro da sociedade. Essa relação é dialética, como afirma Lefvebre (apud Soja, 1993, 102), "O espaço político e ideológico é permeado pela mesma gramática que constitui os corpos; os espaços são (res)significados pelos corpos que os habitam, e os corpos são (res)significados pelos espaços em que habitam". Podemos compreender, com base em MacDoWell que os corpos carregam valores dentro da sociedade, sendo a mesma estruturada por uma matriz patriarcal, heteronormativa a qual constitui as ideias de corpos válidos e corpos abjetos, onde os corpos abjetos seriam  todos aqueles a qual se diferem dessa matriz. Podemos compreender com a obra o (não)lugar do corpo das travestis em Brasília, onde o autor nos mostra o discurso a qual os corpos desses sujeitos carregam, suas espacialidades, suas corporalidades perante os espaços e as dificuldades enfrentadas cotidianamente nas suas existências. Os corpo travestis perante a sociedade transgridem e por ela são renegados, porém mesmo que não "permitidos", esses corpos (r)existem. 



Por: Grupo PETGEO-UFRRJ/IM