segunda-feira, 11 de setembro de 2017

PET-DEBATES: Desenvolvimento, tecnociência e poder – A Globalização da Natureza e a Natureza da Globalização, de Carlos Walter Porto-Gonçalves.


No dia 23 de agosto de 2017 o grupo PET-Geografia do IM se comprometeu a iniciar a leitura e discussão dos textos presentes nas bibliografias utilizadas pelas pesquisas em andamento, as quais estão sendo elaboradas pelos integrantes e são relacionadas aos conflitos territoriais e resistência Caiçara em São Gonçalo, município de Paraty. Cada pesquisa faz parte de um eixo temático, e neste dia o eixo era referente ao tema “técnica”, sob o contexto da região estudada.

Para além do progresso
Neste momento inicial, o autor afirma que, dentro das contradições do mundo moderno-colonial, o desafio ambiental está presente, visto que a ideia de progresso e desenvolvimento se tornou sinônimo de dominação da natureza. Portanto, o ambientalismo trouxe consigo uma questão importante para se pensar acerca do modo de produção e consumo hegemônico, isto é, percebeu-se que “há limites para a dominação da natureza”.

Contudo, o é salientado no texto que os ambientalistas são acusados de quererem voltar ao passado, devido à renegação dos princípios de progresso e desenvolvimento. Sabe-se que estes princípios são provenientes das produções filosóficas vindas do Iluminismo, tendo como vertentes posteriores, os princípios liberais, ou seja, dos capitalistas, ou de marxistas produtivistas, tais como os que defendiam o desenvolvimento soviético.

Limites do Desenvolvimento, os Limites da Técnica e Temporalidades e Territorialidades em tensão
Neste momento o autor resgata as ideias de dominação da natureza e relembra que são tratadas quase como uma “luta” entre o ser humano e a natureza, para que assim, o homem tenha que superá-la. No entanto, é mostrado que essa ideia é equivocada, pois “sofremos, reflexivamente, os efeitos da própria intervenção que a ação humana provoca por meio do poderoso sistema técnico que moderno-colonialmente se impõe” (PORTO-GONÇALVES, 2006, p.69).

Portanto, o autor sugere que ao invés de haver esse conflito entre “Homem x Natureza”, dever-se-ia repensar os efeitos do sistema técnico vigente sobre a natureza. Permitindo-se citar a observação do geógrafo Milton Santos, que atenta ao fato de que:

"não há sistema técnico dissociado de um sistema de ações, de um sistema de normas, de um sistema de valores, e, assim, sinaliza para que não o reifiquemos afirmando uma ação do sistema técnico como se ele se movesse  por si mesmo, sem ninguém que o impulsionasse" (SANTOS, 1996).

Adiante, Porto-Gonçalves define o que seria o “desafio ambiental” com uma questão a se pensar sobre o risco que, a lógica mercantil e desigual submetida pela humanidade e seus modos de produção e consumo atuam sobre a natureza. Logo em seguida, são utilizados como auxílio, alguns dados da ONU do ano de 2002, referentes ao consumo de recursos naturais, o que demonstra que o 86% do consumo privado de recursos naturais no mundo está nas mãos de 20% dos mais ricos do mundo, enquanto somente 14% está sob o poder dos demais. Em seguida, outro gráfico é exposto, porém dessa vez referente ao consumo de aparelhos de telefone entre ricos e pobres no mundo: 74% do consumo pertence aos 20% mais ricos, 21% do consumo pertence aos 60% da média entre os mais ricos e mais pobres, e 5% pertence aos 20% mais pobres. Portanto, é explicitado a expressiva desigualdade social que o mundo apresenta.

Logo mais, o autor complementa o raciocínio exposto com a questão da importância da vida com o equilíbrio dinâmico do planeta, o que implica questões de ordem ética e política. Compreende-se assim, que prática como a intensa exploração de recursos naturais e do trabalho geram grandes problemas que podem comprometer a vida no e do planeta.
Por fim, o autor sugere que olhemos para as práticas produtivas de forma que sejam dotadas de temporalidades, e portanto, não deixa de citar a importância de saberes dos povos tradicionais com a natureza, apresentando assim, alternativas para um modo produtivo e que dialogue com a vida. 


Por: Marcus Vinicius C. Aguiar - bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ

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