No dia 06 de setembro o Grupo PETGEO-UFRRJ/IM realizou a leitura e debate do texto "Geografia de gênero: do (não) lugar de travestis e outros abjetos na cidadade" de Pedro MacDowell, iniciando as leituras de Geografia de Gênero propostas para o mês de setembro.
O texto supracitado aborda a questão de gênero e usa como
estudo de caso a cidade de Brasília e algumas situações específicas.
O artigo, separado em três partes, começa abordando a
espacialidade dos corpos e a corporalidade dos espaços. O autor trata, por
exemplo, da diferenciação dos "corpos abjetos", que são dotados de um
tipo de vazio, nas palavras do autos: "são inteligíveis, não tem uma
existência legítima" (...) "são da ordem do "inóspito" e do
inabitável". Nessas primeiras discussões o autor fala da ressignificação
dos espaços pelos corpos e também da ressignificação dos corpos pelo espaço, em
um tipo de relação dialética. Para nós, o que insurge nesta parte é a relação
de empoderamento dos sujeitos em determinados recortes espaciais. Isso
significa que nossa leitura é pautada em relações de poder, onde o espaço se
transforma em território, segundo leituras passadas, como Souza (2004), por
exemplo.
Adiante, ainda nesse primeiro tópico, o autor fala da
diferenciação para corpos héteros, por exemplo, que ele chama de "corpos
que pesam (importam)", se baseando em Judith Butler (1993). Dentro da
análise, nessa perspectiva, o autor aborda, então, os corpos abjetos como
não-sujeitos, que situam-se em não-lugares. Dentro da discussão do grupo, na
reunião, pensamos as diferentes relações que existem, não só com relação a
gênero, mas de tudo que destoa do caráter patriarcal, heteronormativo,
eurocêntrico, etc. Essa discussão o autor expõe muito bem no texto, quando fala
de homens héteros que profanam palavras de ódio a travestis, mas que os
não-sujeitos co-existem nessas relações, caso o homem hétero seja negro, por
exemplo. Isso pautado dentro de uma discussão conceitual sociológica, para os
padrões da sociedade e dos sujeitos à cima dessa escala de poder. Assim,
segundo o autor, "o abjeto não está exclusivamente ligado ao gênero dos
corpos, mas a um lugar onde se cruzam muitos referentes que variam histórica e
espacialmente".
No tópico dois do seguinte texto, o mesmo aborda a relação
dos abjetos com o lugar, compreendendo a existência das especificidades, mas
não sendo esse seu objeto de estudo.(inclusive ele indica o autor: Benedetti (2005)
e Bento (2006) para tal discussão)
Assim, o autor assume os corpos abjetos, todos eles
(transexuais, travestis e transgêneros), como não-sujeitos perante a norma
matricial. Desta forma, segundo o autor, não há uma diferenciação pelo senso
comum destes (não)sujeitos. Onde a presença desses sujeitos em lugares públicos
durante o dia possivelmente irá gerar reações contrarias, enquanto à noite
teriam outras perspectivas para os sujeitos, sendo durante esse horário lugares de encontro e sociabilidade e aos
olhos da sociedade hegemônica como lugar "impuro" associando
múltiplos significados ao espaço. Essa
ideia também pode ser aprofundada com o conceito de territórios cíclicos (SOUZA
1995).
Por fim, a obra de Pedro Lemos MacDoWell nos
promove compreensão de como a relação corpo e espaço pode nos revelar situações
diversas dentro da sociedade. Essa relação é dialética, como afirma Lefvebre
(apud Soja, 1993, 102), "O espaço político e ideológico é permeado pela
mesma gramática que constitui os corpos; os espaços são (res)significados pelos
corpos que os habitam, e os corpos são (res)significados pelos espaços em que
habitam". Podemos compreender, com base em MacDoWell que os corpos
carregam valores dentro da sociedade, sendo a mesma estruturada por uma matriz
patriarcal, heteronormativa a qual constitui as ideias de corpos válidos e
corpos abjetos, onde os corpos abjetos seriam
todos aqueles a qual se diferem dessa matriz. Podemos compreender com a
obra o (não)lugar do corpo das travestis em Brasília, onde o autor nos mostra o
discurso a qual os corpos desses sujeitos carregam, suas espacialidades, suas
corporalidades perante os espaços e as dificuldades enfrentadas cotidianamente
nas suas existências. Os corpo travestis perante a sociedade transgridem e por
ela são renegados, porém mesmo que não "permitidos", esses corpos
(r)existem.
Por: Grupo PETGEO-UFRRJ/IM
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