quinta-feira, 8 de setembro de 2016

PET-DEBATES: Geografia do gênero: do (não) lugar de travestis e outros abjetos na cidade" - Pedro MacDowell

No dia 06 de setembro o Grupo PETGEO-UFRRJ/IM realizou a leitura e debate do texto "Geografia de gênero: do (não) lugar de travestis e outros abjetos na cidadade" de Pedro MacDowell, iniciando as leituras de Geografia de Gênero propostas para o mês de setembro.

O texto supracitado aborda a questão de gênero e usa como estudo de caso a cidade de Brasília e algumas situações específicas.
O artigo, separado em três partes, começa abordando a espacialidade dos corpos e a corporalidade dos espaços. O autor trata, por exemplo, da diferenciação dos "corpos abjetos", que são dotados de um tipo de vazio, nas palavras do autos: "são inteligíveis, não tem uma existência legítima" (...) "são da ordem do "inóspito" e do inabitável". Nessas primeiras discussões o autor fala da ressignificação dos espaços pelos corpos e também da ressignificação dos corpos pelo espaço, em um tipo de relação dialética. Para nós, o que insurge nesta parte é a relação de empoderamento dos sujeitos em determinados recortes espaciais. Isso significa que nossa leitura é pautada em relações de poder, onde o espaço se transforma em território, segundo leituras passadas, como Souza (2004), por exemplo.

Adiante, ainda nesse primeiro tópico, o autor fala da diferenciação para corpos héteros, por exemplo, que ele chama de "corpos que pesam (importam)", se baseando em Judith Butler (1993). Dentro da análise, nessa perspectiva, o autor aborda, então, os corpos abjetos como não-sujeitos, que situam-se em não-lugares. Dentro da discussão do grupo, na reunião, pensamos as diferentes relações que existem, não só com relação a gênero, mas de tudo que destoa do caráter patriarcal, heteronormativo, eurocêntrico, etc. Essa discussão o autor expõe muito bem no texto, quando fala de homens héteros que profanam palavras de ódio a travestis, mas que os não-sujeitos co-existem nessas relações, caso o homem hétero seja negro, por exemplo. Isso pautado dentro de uma discussão conceitual sociológica, para os padrões da sociedade e dos sujeitos à cima dessa escala de poder. Assim, segundo o autor, "o abjeto não está exclusivamente ligado ao gênero dos corpos, mas a um lugar onde se cruzam muitos referentes que variam histórica e espacialmente".

No tópico dois do seguinte texto, o mesmo aborda a relação dos abjetos com o lugar, compreendendo a existência das especificidades, mas não sendo esse seu objeto de estudo.(inclusive ele indica o autor: Benedetti (2005) e Bento (2006) para tal discussão)
Assim, o autor assume os corpos abjetos, todos eles (transexuais, travestis e transgêneros), como não-sujeitos perante a norma matricial. Desta forma, segundo o autor, não há uma diferenciação pelo senso comum destes (não)sujeitos. Onde a presença desses sujeitos em lugares públicos durante o dia possivelmente irá gerar reações contrarias, enquanto à noite teriam outras perspectivas para os sujeitos, sendo durante esse horário  lugares de encontro e sociabilidade e aos olhos da sociedade hegemônica como lugar "impuro" associando múltiplos  significados ao espaço. Essa ideia também pode ser aprofundada com o conceito de territórios cíclicos (SOUZA 1995).

Em sua terceira parte, se é tratado a violência como elemento presente na vida dos sujeitos considerados como abjetos. A cidade de Brasília, em que se passa a pesquisa, tem o ato de  violência  legitimado em função não apenas do imobiliário, mas também simbólico desses espaços, sendo exercidas como sendo práticas "purificadoras", culpando os ditos corpos abjetos de estarem exercendo o papel de impureza dentro dessa paisagem.


Por fim, a obra de Pedro Lemos MacDoWell nos promove compreensão de como a relação corpo e espaço pode nos revelar situações diversas dentro da sociedade. Essa relação é dialética, como afirma Lefvebre (apud Soja, 1993, 102), "O espaço político e ideológico é permeado pela mesma gramática que constitui os corpos; os espaços são (res)significados pelos corpos que os habitam, e os corpos são (res)significados pelos espaços em que habitam". Podemos compreender, com base em MacDoWell que os corpos carregam valores dentro da sociedade, sendo a mesma estruturada por uma matriz patriarcal, heteronormativa a qual constitui as ideias de corpos válidos e corpos abjetos, onde os corpos abjetos seriam  todos aqueles a qual se diferem dessa matriz. Podemos compreender com a obra o (não)lugar do corpo das travestis em Brasília, onde o autor nos mostra o discurso a qual os corpos desses sujeitos carregam, suas espacialidades, suas corporalidades perante os espaços e as dificuldades enfrentadas cotidianamente nas suas existências. Os corpo travestis perante a sociedade transgridem e por ela são renegados, porém mesmo que não "permitidos", esses corpos (r)existem. 



Por: Grupo PETGEO-UFRRJ/IM

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