Mesas debate do dia 04 de dezembro de 2018:
(1) Crise Societária e vida metropolitana: Habitar a metrópole
(2) Narrativas e resistências na metrópole: Sujeitxs Corporificadxs em ação
(3) Educação, Cultura e Cotidiano na metrópole
Mesa 1: Crise Societária e vida metropolitana: Habitar a metrópole
A pesquisadora da ENSP-FIOCRUZ Roberta Gondim, iniciou a mesa abordando o tema da Saúde coletiva de base territorial como embasamento para pensar a perspectiva da Necropolítica trabalhada por Achille Mbembe, que seria esse poder soberano de fazer viver ou deixar morrer, onde vidas humanas são racializadas com intuito de retirar-lhe sua humanidade para assim, legitimar sua morte, a morte de vidas negras. Esse necropoder que rege a metrópole nesses tempos crises. Buscou-se em sua fala problematizar o Estado de exceção que opera na “necrópole” e pensar a vulnerabilização social de grupos sociais e o quanto alguns indivíduos e determinados lugares são impactados de maneira elevada a certos tipos de doenças, como por exemplo pela hepatite, onde a forma de controle e os remédios para doença caso não seja seguido a risca, há grandes chances da doença retornar, porém muito mais resistente à anterior. Contudo, até essas formas de prevenção da doença é para um público específico, Gondim evidenciou que moradores da Zona Sul por exemplo, não tomam tal medicamento justamente por conta do risco do retorno mais resistente da doença. A pesquisadora colocou a omissão proposital dos agentes do Estado frente aos sijeitos subalternizados.
No segundo momento, a fala foi direcionada ao professor José Borzacchiello da Silva (PPGG-UFCE), que discorreu sobre a vida na metrópole, esta enquanto lugar da diferença, da segregação e do isolamento, além de ser centro funcional de múltiplas atividades. Direcionou a sua fala com o seguinte tema: Mudar a vida, mudar a métropole. Com uma perspectiva mais conceitual e voltada para a compreensão da metrópole nos países do Sul, ditos periféricos, evidenciou o processo de fragmentação da metrópole nesses países, e a insurgência de “novas centralidades”. Buscou refletir sobre como essas novas centralidades se constituem nos espaços, como se dá esse processo de descentralização, e por fim, buscou trazer para o debate lutas possíveis que são capazes de “mudar a metrópole”, como a importânciados movimentos sociais, a necessidade de investimentos em políticas de inclusão, e nos espaços cotidianos, colocou a importância dos territórios solidários, as táticas dos sujeitos subalternizados, as favelasenquanto lugares criativos, de solos férteis para criação e recriação para r-existir na metrópole, já que o Estado se porta como insuficiente para gerir uma equidade social, e na maioria das vezes atuando como “agente desterritorializador”, ainda que de maneira sorrateira, como em permitir que agentes empresariais regulem o valor da terra e o custo de vida nos grandes centros, impossibilitando a permanência dos pobres nestes lugares.
Angela de Morais Santa’anna, integrante do movimento Luta pela Moradia, encerrou a mesa com uma fala extremamente forte e ao mesmo tempo emocionante. Envidenciou a luta do trabalhador, do negro, do pobre em permanecer nos grandes centros, e as ocupações enquanto possibilidade de acolhimento desses sujeitos, além de ser ação política de demonstrar que os espaços devem ser ocupados por todos, e que todos tem direito a moradia digna e de qualidade. Sendo assim, os prédios vaziosdevem dar espaços para os sujeitos que não tem casa para habitar, cumprindo sua função social, que não é especular, é ter gente dentro pra morar. Angela fez questão de dizer que “Foi com o nosso dinheiro que eles foram construídos”, e que sendo assim é direito nosso ocupá-los.
Angela citou em sua fala uma frase de Josué de Castro qye diz: “as sociedades estarão radicalmente divididas em apenas dois grupos de indivíduos: o dos que não comem e o dos que não dormem; não dormem com medo dos que não comem", contestandoassim a “pseudo sensação de paz” que se esgota cotidianamente, que podemos perceber quando um trabalhador deve se desprender da baixada fluminense para o centro da cidade, e se sentir recompensado pelo trabalho, ou quando o governo contabiliza que os espaços pobres foram os que mais tiveram casos de zica vírus e mesmo assim essas cenas permanecerem se repetindo, sendo os mesmos corpos marcados para morrer, os mesmo espaços da Necrópole com riscos iminentes da morte. Enfatizou que precisamos pensar:“quem a gente quer nessa metrópole?”
Mesa 2: Narrativas e resistências na metrópole: Sujeitxs Corporificadxs em ação
Joseli Maria Silva trouxe para o exercício de reflexão a temática de pensar o espaço e a corporiedade, um olhar atento a outras escalas, sujeitos e métodos. Pensar a morte e o envelhecimento de corpos transgressores da ordem patriarcal, corpos esses que eram de travestis e transexuais femininas, para isso ela reforça a necessidade de novos métodos de pesquisa, uma prática de pesquisa não predatória. Em sua fala foi evidenciado que sua prática é baseada no fazer COM e não no fazer SOBRE.
Partindo de uma outra forma de ver e fazer ciência, Joseli constrói uma geografia atenta ao olhar cotidiano, ao corpo e as sexualidades, para buscar entender a corporiedade complexa dxs sujeitxs no espaço. Uma força de construir uma ciência geográfica que se oponha a perspectiva da suposta neutralidade, objetividade e racionalidade acima de tudo da forma de fazer ciência cunhada pela modernidade. Conforme Joseli, essa Geografia Marginal enfrenta muitas adversidades para ser vista como legítima por essa prática masculina de geografia.
Joseli buscou compartilhar de narrativas de corpos com marcas específicas que são fadados a morte, pois o ato de transgressão binária é visto como algo que precisa ser eliminado pela racionalidade da dominação patriarcal que perdura em nossas sociedades, pois os longos processos de socialização da nossa cultura cria uma visão que busca a todo tempo negar a aceitação desses corpos pois são vistos como trangressores da suposta normalidade. Esses corpos, o de travestis e transexuais femininas são corpos que constantemente são alvos de intervenção disciplinar, dizia Joseli.
Dando prosseguimento as narrativas, Geny Guimarães dialogando com a fala anterior procurou enfatizar a busca de outros métodos de pesquisa quando não conseguimos nos adaptar aos métodos canônicos, esses pensados por homens, brancos, europeus e heteronormativos. Essa insuficiência e tentativa de silenciamento presentes no discurso científico serve como instrumento de força para se pensar outras questões e outros métodos. E com isso sua fala buscou compartilhar sua trajetória de pesquisa enquanto geógrafa que problematiza e se preocupa com as questões raciais, trazendo o tema: Espacialidade dos corpos negros no Rio de Janeiro.
Com isso em sua fala Geny buscou problematizar a prática de apagamento geográfico nas paisagens da historicidade da formação e dos sujeitos fundantes daquele local, no caso a região portuária do Rio de Janeiro. Pensar a dimensão racial do espaço com outros métodos e metodologias a fim de superar essa formação histórica baseada em paradigmas eurocentrados. Dialogando com a fala de Joseli, pensar o peso que os corpos tem nas nossas ações e vivências.
Raquel de Padua deu prosseguimento a mesa reforçando a necessidade de criação de novos métodos de pesquisa e reconhecimento de outras epistemes, essas que sempre existiram, mas nunca se buscou ouvir nem dialogar. Nesse sentido, falava-se do esforço urgente que precisamos ter de reconhecer outras formas de habitar e pensar o(s) mundo(s) e nos abrir para a construção de uma episteme mais plural. Por fim, pensar em crise societária requer pensar de maneira complexa e entender que xs sujeitxs irão ser afetados de maneiras distintas, mas diante da crise, apesar do pessimismo difícil de ser superado, não podemos deixar com que nossas utopias sejam perdidas. O momento urge por formas de resistências a esses tempos sombrios.
Relatos feitos por: Francine lins e Thayná Cagnin - Bolsistas PETGEO.
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