terça-feira, 19 de junho de 2018

PETPARTICIPAÇÕES: O PENSAMENTO DAS MULHERES NEGRAS NO DESENVOLVIMENTO DE UMA IDEIA DE FILOSOFIA AFRICANA POLÍTICA, ENQUANTO CRÍTICA AO EUROCENTRISMO

A imagem pode conter: 1 pessoa, textoNo dia 22/05/18 o grupo PETGEO esteve presente na palestra promovida pelo grupo PETCONEXÕES baixada, no Instituto Multidisciplinar, com objetivo de pensar outras temáticas a partir das margens, enxergando o grupo supracitado como ferramenta para pensar e falar a partir do lugar daqueles que se diferem do discurso tido como hegemônico, o Eurocentrismo. 
A palestra contou com a presença da Filósofa Katiúscia Ribeiro, Mestra em Filosofia e Ensino e Doutoranda do programa de pós graduação em Filosofia da UFRJ. Katiúscia trouxe reflexões acerca da filosofia Africana, cujo objetivo é refletir sobre a ontologia do sujeito por uma realidade que se difere do locus ocidental eurocêntrico de enunciação. Essa filosofia permite pensar a vida a partir de uma outra perspectiva que não seja a Ocidental,mas sim a partir de perspectivas "Suleadoras", contra hegemônicas, no trilhar de um caminho referenciado ao Sul e não ao Norte, tomando a África como centro do diálogo e da existência, esta que por sua vez, só é possível graças às "matrigestoras", mulheres negras, que mesmo estando em um “não lugar” imposto pelo processo de escravidão, conseguiu ser potência, gerou potências, rompeu com uma ciência rígida, desligada do místico, e principalmente, rompeu com uma ciência criada por homens, predominantemente brancos. 
A filosofia Africana busca uma visão do todo e enxerga o homem a partir desse todo, indo contra a tendência eurocêntrica de separação entre razão e emoção, entre homem e o cosmo. Propõem uma visão integrada de corpo com a mente, uma busca por transcendência, indo contra a tendência.
   Filósofa Katiúscia Ribeiro e Professora Fernanda Felisberto
Segundo ela, na filosofia africana a mulher é matrigestora, é "mulher potência", é a força dessas mulheres que movimenta o seu lugar no universo. É um corpo que está para além da racionalidade física. 
Em sua fala pudemos compreender a problemática da Colonialidade do poder e do saber promovidos pelo discurso único do ocidente, e o exercício de resistência constante de romper com essa "azili ocidental", que segundo ela é como se fosse um "sistema operacional que formata a realidade de um povo" para conquistar uma "azili operante"com sistemas plurais, diversos, e não uma única forma de ser, sentir e pensar.  Na fala da filósofa: “O problema não é só o que o ocidente fez, mas também o que ele não nos deixa enxergar. Não queremos uma única perspectiva de viver o mundo e enxergar uma única realidade.” Fala-se aqui do pluriverso (ESCOBAR, 2011) em contraponto a noção de universo, em defesa dos múltiplos pensamentos, das epistemes, das diversas culturas e modos de vida. 
A atividade foi muito enriquecedora e o grupo Pet Geografia gostaria de agradecer ao Pet Conexões Baixadas por momentos inspiradores para novas práticas e reflexões como esse na Universidade.

     


Por: Thayná Cagnin Maia - Francine Santos - Bolsistas do grupo PETGEO.IM - UFRRJ

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CINEPET:

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19-06 ÀS 14:00

PETPARTICIPAÇÕES - CURSO DE LETRAMENTOS E DIREITOS HUMANOS


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No dia 09/05 quarta-feira, no Bloco Multimídia do Instituto Multidisciplinar UFRRJ-Campus Nova Iguaçu, ocorreu o curso de extensão sobre o tema: LETRAMENTOS E DIREITOS HUMANOS. Promovido através do curso de Letras (português-literatura) o curso tinha como enfoque a “Autoria, capitalismo editorial e racismo”, tendo como principais mediadoras a professora Rosangela Malachias (UERJ/FEBF) e a professora Fernanda Felisberto (UFRRJ/IM, professora tutora do PET-Conexões da Baixada).  O evento que em sua maioria era composto pelo alunato de Letras, tinha também alunos de outros cursos como História e Geografia, contudo o grupo PET-GEO/IM e a tutora Anita Loureiro esteve no evento e pode vivenciar momentos e debates importantes a respeito das narrativas produzidas pelas escritoras negras que eventualmente encontram pouco ou nenhum espaço para publicar e difundir suas obras isto sendo resultado de séculos de “racismo estrutural no Brasil”. Com o curso dividido em dois momentos as professoras Rosangela e Fernanda trouxeram discussões de temas como: “Motivação a práxis: Trabalho, pesquisa e ativismo”; “Racismo estrutural e suas implicações”; “Exclusão de possibilidades de cidadania pelos negros”; “Racismo institucional”; “Retirada da humanidade das populações negras”; “Movimento negro na recusa do mito da democracia racial”; “Perspectiva das prisões no acesso a leitura, onde mulheres nos cárceres escreviam cartas pedindo mais acesso a leitura”. Mais para de ambas as partes, foi exibido um documentário sobre os “Cadernos Negros” grupo de São Paulo que publica livros contos e poesias de escritores negros. No fim do evento ocorreu o momento de debate onde o público pode debater as questões que surgiram durante o curso além de poderem contribuir com o mesmo.


Por: Tales Gaspar de Mattos Reis - Bolsista do grupo PETGEO-IM.UFRRJ

segunda-feira, 18 de junho de 2018

PETPARTICIPAÇÕES - IX SEMAGEO DA GEOGRAFIA



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Entre os dias 4 e 8 de julho, o grupo PETGEO esteve interado com a IX Semana da geografia, um evento organizado pelo curso de Geografia do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. A SEMAGEO vem ocorrendo desde 2010 com diversas propostas temáticas, em busca de promover a reflexão e proporcionar de atividades voltadas para o ensino, pesquisa e extensão, buscando difundir um conhecimento geográfico capaz de estabelecer o diálogo entre Universidade e Sociedade. 
A IX SEMAGEO teve como tema: "CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA PARA UMA UNIVERSIDADE PLURAL, ABERTA E SOCIALMENTE CONECTADA", fortalecendo o debate de uma Universidade que tenha sobretudo o papel de transformar, e como a geografia enquanto uma disciplina crítica, que pensa as relações e transformações no espaço, se coloca frente a todos os desafios que vêm se levantando, sobretudo para o desmonte de uma educação pública e de qualidade. "A proposta do evento é, portanto, neste contexto de crise societária, reafirmar o compromisso social da universidade, especialmente da ciência geográfica, ao discutir e atuar nessa realidade". 
O primeiro dia do evento (04/06) consistiu em uma mesa composta pelos professores Francisco Chagas do Nascimento Jr (Professor do IM e coordenador do Pré-Enem Social – Ethos), Ronaldo Pimenta de Carvalho Jr (Coordenador de Geografia do Pré-vestibular CEDERJ), Fransérgio Goulart (Historiador, Assessor político do centro de direitos humanos de Nova Iguaçu e militante do Fórum Social de Manguinhos) e Felipp Castelano (Estudante de Letras da UFRRJ, Coordenador de Assuntos para a Juventude de Queimados e Coordenador do projeto Pré-Vestibular Social Prof Fábio Castelano). O assunto girou em torno da temática do acesso às universidades públicas e a oferta de oportunidade promovidas pelos pré-vestibulares sociais ou comunitários. Ainda nesse dia, na parte da tarde, houve um espaço providenciado para apresentações culturais organizado pelo estudante do curso de Geografia, Thiago Cardoso e a Comissão de Cultura da IX SEMAGEO. Apresentaram-se no Hall do IM artistas de diversos estilos, como a Drag Queen Karoline Absinto, a Trupe de Teatro M.E.R.D.A, o Coral de Alunos da Escola Estadual Aydano de Almeida, o Griot Macedo e a banda 5.3 – A Última Estação.
 O segundo dia (05/06) recebemos no auditório, uma mesa em que o tema foi Meio Ambiente, em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente, na qual apresentaram-se o professor Nelson Ferreira Fernandes (Departamento de Geografia da UFRJ; Coordenador do Laboratório de Monitoramento e Modelagem Pedogeomorfológica – LAMPEGE), Paulo Roberto Russo (Geógrafo, Analista Ambiental e Coordenador Geral de Gestão Socioambiental do ICMBio) e Juliana Cristina Fukuda (Bióloga, Analista Ambiental Área de Proteção Ambiental de Guapimirim/Estação Ecológica da Guanabara ICMBio).

Além de outras interações como a participação em oficinas, palestras e atividades culturais, o grupo PET teve espaço para apresentar, no terceiro dia, um de seus artigos que se encontra no livro mais recente do grupo. O artigo "Entre a dominação e a resistência: uma análise sobre o turismo e a restrição de direito em São Gonçalo - Paraty" foi apresentado no terceiro dia, juntamente com outros trabalhos de estudantes do curso.

No último dia, houve uma mesa voltada para a Geografia Humana, onde foram discutidas as relações de gênero no trabalho com a professora e socióloga Moema de Castro Guedes (Departamento de Ciências Sociais UFRRJ/ PPGCS-UFRRJ), as relações sociais, de gênero e questionamentos às epistemologias hegemônicas no meio acadêmico com a professora Julia Cossermelli de Andrade (Departamento de Geografia UERJ, Coordenadora do Laboratório Viramundo – Geografias Populares), e a regionalização e formação histórica da Baixada Fluminense com a professora Lúcia Helena Pereira da Silva (Departamento de História UFRRJ/IM). Após a mesa redonda, na parte da tarde, foi promovida pela Coletiva Vandana Shiva – Cultura, Existência e Cotidiano uma oficina com a temática de estudos sobre o Corpo, apresentada pela professora Anita Loureiro de Oliveira (Departamento de Geografia UFRRJ/IM PPGEO/UFRRJ/IM) e pelos demais participantes da Coletiva.

A IX edição da SEMAGEO, utilizou-se, portanto, de um favorecido espaço de troca de ideias e estimulou os participantes ao debate, visando, enfim, o tema principal do evento “CONTRIBUIÇÕES DA GEOGRAFIA PARA UMA UNIVERSIDADE PLURAL, ABERTA E SOCIALMENTE CONECTADA”.     

 




















Para  ter acesso a fotos, certificados, programações e saber mais sobre o evento acesse ao site: https://semageoufrrjim.wixsite.com/semageo


Por: Marcus Vinícius Aguiar - Francine Santos - Bolsistas do Grupo PETGEO-IM.UFRRJ

   

terça-feira, 22 de maio de 2018

CINEPET - Estrelas Além do Tempo




No dia 21 de maio, às 14:00, o grupo PetGeo realizou sua atividade de cine debate com o filme "Estrelas Além do Tempo". O nosso objetivo nesse CinePet foi promover um debate, através da exibição do filme, sobre o algumas formas de discriminação que aparecem, tais como o racismo e machismo.  

O filme se passa durante o período da Corrida Espacial entre os EUA e URSS, e 3 americanas negras funcionárias da NASA protagonizam a história. É nítido que entre muitos, elas se destacaram fazendo com o que os EUA vencesse a corrida, porém em diversos momentos é mostrado o racismo (que ainda era coinstitucional no estado da Virgínia). Por diversos momentos observamos formas de segregação que os negros sofriam, como os assentos separados em ônibus, os banheiros coletivos para brancos eram diferentes dos para negros, e inclusive nas bibliotecas públicas tinham áreas onde os negros não podiam sequer circular, além de escolas onde só poderiam estudar brancos. Dentro da NASA a situação não era muito diferente, fazendo com que mesmo a funcionária que era vista como uma das melhores em sua área, tivesse que ir ao banheiro em outro prédio por conta de não ter banheiros pra negros no prédio para o qual ela havia sido levada para trabalhar temporariamente.

Após o filme, as alunas Queila Romualdo e Fernanda Lima coordenaram o debate acerca das questões mencionadas acima, e podemos então revelar algumas críticas positivas e negativas sobre o filme. Positivamente, o filme cumpre o objetivo de valorizar mulheres que foram de grande importância durante o processo da Corrida Espacial, e mostrar como era a luta para ultrapassar as barreiras do racismo e do machismo pelo o qual passavam por serem mulheres negras. Negativamente, o filme trás a ideia de que o homem branco e chefe de uma das personagens, é o "grande salvador" da história, dando entender que ele tomava algumas atitudes por ser contra o racismo, quando na verdade ele só as tomava quando era em prol do seu trabalho.


Por Leonardo Aragão - Bolsista do grupo PETGEO-IM.UFRRJ 

Katiúscia Ribeiro e a filosofia africana: Perspectivas Suleadoras da afrocentralidade do pensar



No dia 22-05 o grupo PETGEO participou da palestra promovida pelo grupo PET conexões baixada, direcionado pela professora Fernanda Felisberto. A convidada Katiúscia Ribeiro, trouxe reflexões acerca da filosofia Africana, que segunda ela nos permite pensar a vida a partir de uma outra perspectiva que não seja a Ocidental, mas sim a partir de perspectivas "Suleadoras", contra hegemônicas, no trilhar de um caminho referenciado no Sul e não ao Norte, tomando a África como centro do diálogo e da existência, esta que por sua vez só é possível graças às "matrigestoras", mulher, negra, que mesmo estando em um não lugar  consegue ser potencia, gerando potências, rompendo com uma ciência rígida, desligada do místico, e principalmente rompendo com uma ciência criada por homens, predominantemente brancos. Na filosofia africana a mulher é matrigestora, a filosofia parte da mulher.        


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quinta-feira, 17 de maio de 2018

PET - DEBATES: Geografia e pensamento descolonial: notas sobre um diálogo necessário para a renovação do pensamento crítico - Valter do Carmo Cruz


     Dando continuidade ao seu ciclo de leituras e debates, o grupo PET-Geografia da UFRRJ debateu, no dia 18 de abril de 2018, o artigo acima titulado do autor Valter do Carmo Cruz, em um movimento para suprir a demanda (levantada em nossa reunião de planejamento) de temáticas relacionadas ao pensamento descolonial. O referido artigo é um capítulo do livro “Geografia e giro descolonial: experiências, ideias e horizontes de renovação do pensamento crítico”, organização de Valter do Carmo e Denílson Araújo de Oliveira (editora Letra Capital, 2017).
     A importância da temática converge com a identidade do nosso grupo, pois pautamos nossas ações na tentativa máxima de construir pesquisas com base em experiências horizontais, dialógicas, partindo de outros lugares de enunciação por meio da construção de uma ciência mais sensível, humana, compromissada com a emancipação dos laços hegemônicos da sociedade moderno-colonial.
     O texto é muito interessante para quem quer começar a ler sobre o pensamento descolonial, porque o autor escreve de forma clara e didática acerca de algumas concepções e conceitos básicos da literatura desse movimento, sendo caracterizado por sua posição crítica às formas de poder estabelecidas por opressões, materializadas no cotidiano pela colonialidade do ser, da política, da cultura, dos saberes e da natureza. Cruz começa o escrito afirmando que a história da colonização não acabou como querem fazer parecer alguns movimentos e linhas teóricas, pois muitas das nossas relações na contemporaneidade são expressas com base no poder colonial. Para o melhor entendimento de tais categorias, o autor explica que usamos o termo “colonização” para indicar a forma de periodização (relações pretéritas) e “colonialidade” para se referir ao que se apresenta no tempo presente como herança. Ou seja, a colonialidade está presente no nosso dia-a-dia em variadas formas (objetivas e subjetivas) como processos oriundos da colonização.
     No campo da produção do conhecimento, isso se revela pela imposição do método científico arraigado pelas concepções positivistas, caracterizado por padrões dicotômicos e hierárquicos, que se manifesta como saber privilegiado e verdade absoluta, principalmente com a consolidação do capitalismo na evolução do meio técnico-científico, tendo uma referência geográfica única, o norte global. Esse é um movimento que gera profundas violências epistêmicas, ou epistemicídios, pois o que não é produzido dentro da academia e a partir do norte, é desconsiderado, subjugado, silenciado e invisibilizado. Cruz afirma que as nossas referências teóricas são formuladas por bibliotecas hegemônicas, e que devemos pensar e valorizar as bibliotecas descoloniais, que trazem as experiências teórico-metodológicas a partir do Sul.
    A partir da análise geográfica, Valter Cruz, referenciado por Doreen Massey, afirma que a colonialidade está presente na configuração dos lugares, sendo vistos a partir do olhar linear-desenvolvimentista, como se todos os espaços estivessem em uma linha cronológica de adaptação aos imperativos modernos, discurso legitimado justamente por trazer o “desenvolvimento” como motor das mudanças, não importando o massacre que isso pode gerar para diversas vidas, como é o caso das diversas famílias removidas de lugares estratégicos ao acúmulo de capital na cidade do Rio no contexto dos megaeventos. Assim, os lugares são vistos sem suas peculiaridades, cotidianidades e essências, são considerados apenas pela posição que ocupam na fila da história. A superação dessa forma de compreensão do tempo-espaço implica sérios e profundos compromissos epistemológicos, políticos e éticos, pautados em narrativas descoloniais que consideram o espaço como esfera da possibilidade da existência da multiplicidade.
     Para tanto, Cruz nos oferece alguns suportes teórico-metodológicos baseados em alguns desafios, a saber: 1) construir um pensamento descolonial enraizado nas especificidades e singularidades da formação socioespacial brasileira; 2) construção de um pensamento descolonial que efetivamente realize um giro espacial/territorial; 3) ultrapassar o debate epistêmico e teórico abstrato e fecundar essas ferramentas teóricas e epistemológicas que o pensamento descolonial vem produzindo; entre outros.
     Nosso intuito com esse breve relato foi o de despertar a curiosidade do leitor e da leitora para a consulta do artigo inteiro. É um texto que apresenta uma grande contribuição para as bibliotecas descoloniais em diálogo com a Geografia. Que possamos construir um novo modelo de ciência pautado no diálogo nas/com as experiências do Sul, mais humana, plural, democrática e emancipatória!


“Se o tempo é a dimensão da mudança, o espaço é a dimensão da multiplicidade contemporânea.” (MASSEY, 2005)





Por: Gabriel Martins -  Colaborador do grupo PETGEO-IM/UFRRJ

sábado, 21 de abril de 2018

PET-DEBATES: Corpo, corporeidade e espaço na análise geográfica de Joseli Maria Silva.


O texto ”Corpo, corporeidade e espaço na análise geográfica” foi sugerido para ser debatido no grupo PET-GEOGRAFIA/UFRRJ- IM pela percepção dos e das integrantes,  da necessidade de se debater os estudos de corpo na ciência geográfica. O debate foi realizado no dia 11 de abril de 2018.             Na introdução do livro (maneiras de ler: geografia e cultura) que se encontra este artigo, aborda-se "novas fontes de saberes sobre os lugares", no sentido da pluralidade temática existente no estudo das diversidades culturais e suas relações com o espaço geográfico. Busca-se com essas contribuições "compreender a análise geográfica que envolve o campo simbólico". (P.9) Uma maneira interpretar a realidade.
A introdução do texto nos deixa clara a força que o espaço contém na construção dos significados, quando a autora nos relata sua experiência em que sua corporeidade foi vista como de uma travesti, pois estava em um lugar predominantemente formado por travestis. Após esse relato, ela nos conta como o texto vai ser desenvolvido e separado em duas seções, na primeira, a emergência do corpo enquanto eixo investigativo na ciência geográfica, e a segunda abordará sobre a contribuição da análise das sexualidades para compreensão da relação entre corpo e geografia.
Nesse sentido, a presente pesquisa utilizará como aporte metodológico a leitura da dimensão do corpo na análise geográfica a fim de possibilitar uma compreensão sobre as relações de poder, de pessoas e lugares referenciados ao longo do texto. É nos trazido que no campo da geografia, as vertentes que realizaram esforços em problematizar essa relação entre corpo e espaço foram as feministas, queer, nova geografia cultural e fenomenologia.
A autora Joseli traz as contribuições da geógrafa europeia Kirsten Simonsen (2000) sob o título ‘The Body as Battlefield'. “Ela realiza sua análise reunindo as contribuições de geógrafos em três eixos: ‘As geografias do armário’, ‘Outros corpos’ e ‘Transcendendo dualismos”. (p.30). O primeiro eixo de abordagem geográfica exposto por Simonsen (2000) explora a forma como os corpos são constituídos e usados, tendo como preocupação a inscrição do poder e a capacidade de resistência dos corpos envolvendo as questões de performatividade, a política do corpo e o corpo como um local de contestação. O segundo eixo baseado nas ideias do feminismo, do pós-estruturalismo e do pós-colonilismo aborda a necessidade de reconhecer as diferenças e as relações de poder corporificadas, ligadas à sexualidade, racialidade e origem étnica. O terceiro eixo tem tido a preocupação de descontruir as dicotomias mente/corpo, mas também outras. Isso fica claro em: "As reflexões em torno do desmantelamento da dicotomia corpo-mente, além de possibilitar estudos sobre a representação cultural dos corpos em diferentes contextos, também permitiu a emergência das ideias de instabilidade e fluidez das identidades corporais, ultrapassando a ideia de corpo, entendido tradicionalmente como algo fixo, para a ideia de corporeidade, a fim de produzir a perspectiva de mutabilidade e movimento." (P.31)
Em seguida a autora nos traz um esclarecimento necessário, que dialoga com proposta de Milton Santos sobre o papel ativo da geografia (2000): "O conceito de “conhecimento situado” tem sido um caminho teórico-metodológico bastante promissor nas geografias feministas, evidenciando que a pesquisa concreta se faz por cientistas que tem cor, gênero, corpo, sexualidade, posição política e assim por diante. A posicionalidade de quem questiona o mundo é fundamental para conceber as perguntas passíveis de serem realizadas e, sendo assim, os resultados de uma trajetória de pesquisa deve conter a auto-avaliação de como a posicionalidade da pessoa que investiga influência nos resultados obtidos." (P.31). Visto isso, a ideia de posicionalidade é de extrema importância para esse trabalho. O posicionamento feminista enquanto pesquisadora influenciará na busca por uma superação de invisibilização das relações de gênero que permeiam o espaço e que resultam em diferentes formas de vivenciá-lo.
                Na segunda seção do texto, Joseli nos traz a abordagem do corpo às questões relativas à sexualidade na análise geográfica, e nos contempla com sua analise foucaultiana, mas também reconhecendo os seus limites, pois mesmo sendo homossexual, Foucault ainda era homem, branco, europeu, e por conta disso ocupava uma posição privilegiada na sociedade. Outra referencia importante que falada nessa segunda parte é Judith Butler, que segundo a autora “suas obra (2005, 2006) foi de fundamental importância para construir uma base teórica que fosse capaz de refutar os argumentos  ‘da natureza’ em torno da morfologia das genitálias que definia as diferenças sociais de gênero e as normas a serem impostas das práticas sexuais”.
                A ideia de sexualidade de Foucault irá refletir à cultura e aos costumes de um determinado espaço-tempo, não sendo um "instinto natural". Logo em seguida é trazido a visão sobre o corpo e as relações de poder envolvidas nessa construção:
"As ideias do corpo foucaultiano na geografia permitiram a concepção de corpo como algo que não é fixo e nem mesmo passivamente submetido ao poder. O corpo, alvo do poder, pode ser também o lugar de subversão de toda a disciplina que o impõe. As marcas físicas como a anatomia sexual, a cor da pele e outras só podem ser compreendidas por meio do jogo de forças que constituiu o saber/poder sobre elas, suas significações e sentidos" (p.33)
 "Não há como escapar das relações de poder, mas ela nunca ocorre de forma dual e oposicional, pois a partir do momento em que há uma relação de poder, há uma possibilidade de resistência. Jamais somos aprisionados pelo poder: podemos sempre modificar sua dominação em condições determinadas e segundo uma estratégia precisa” (FOUCAULT, 1984c, p. 241)."(p.33)
"A corporeidade assim, se dá na articulação dos embates entre alma e corpo que criam dispositivos estratégicos entre ambos, constituindo futuros incertos. A corporeidade se faz de extrema maleabilidade e tem sido utilizada na Geogafia para superar o sentido biológico e essencializado, tradicionalmente atribuído ao corpo. McDowell (1999) argumenta que o corpo, não pode ser concebido como entidade fixa e acabada, mas plástica, maleável e, portanto, passível de adotar inúmeras formas em vários momentos, compondo assim várias geografias." (p.33).
"A aceitação da identidade de gênero baseada na anatomia corporal é uma “falácia” que se constrói como realidade. Ser um homem ou uma mulher não é um fato natural, mas uma representação cultural em que a “naturalidade” se faz por meio de um conjunto de atos impostos por um discurso, que produz um corpo através de categorias de sexo e a finalidade dessa criação é justamente criar uma identidade coerente para uma realidade estável" (p.33). Neste ponto, a autora aborda sobre a construção social dos gêneros.
                Outro ponto importante nessa discussão é a restrição que certos corpos sofrem dependendo do espaço e que estão inseridos, enquanto outros são “corpos neutros”:
"A corporeidade sexuada está intimamente relacionada com o espaço provocando acolhimento, indiferença ou exclusão. Por exemplo, as demonstrações de afetos heterossexuais são “ações neutras” e perfeitamente toleradas em espaços públicos, mas as manifestações homoeróticas, por exemplo, são interditadas, sendo permitidas nos espaços privados ou em locais claramente identificados como permissíveis ao afeto homossexual" (p.34).
"As geógrafas Lynda Johnston e Robyn Longhurst (2010) dedicaram um capítulo de seu livro sobre o corpo, intitulado “Geografias íntimas”. Segundo elas a geografia pode analisar o corpo como espaço e o corpo no espaço, argumentando que nossos corpos fazem diferença em nossas experiências de espaço e lugar”.
"A relação entre corpo e espaço foi tema central do livro “Pleasure zones: bodies, cities, spaces”. No prefácio elaborado por Jon Binnie, Robyn Longhurst e Robin Peace o corpo está claramente identificado com a perspectiva butleriana. Os geógrafos afirmam que embora o corpo apresente uma materialidade, tal materialidade é sempre constituída pelo discurso, assim como o espaço. Assim, tal como o corpo, o espaço também é produzido discursivamente. A materialidade do espaço apresenta toda força do discurso heteronormativo, mas também não é passível ao exercício do poder regulatório podendo apresentar fissuras pelas quais emergem as forças de subversão das normas estabelecidas." (p.35)
Essas citações nos permite pensar o corpo enquanto território e ferramenta de luta contra as opressões, podendo assim classifica-lo como de suma importância para análise geográfica. Portanto, os estudos envolvendo corpo e geografia são emergenciais para podermos pensar juntas e juntos como produzir um espaço plural, comum a todxs e justo.

Link de acesso:
https://laboter.iesa.ufg.br/up/214/o/MANEIRAS_DE_LER_GEOGRAFIA_E_CULTURAL.pdf (A partir da página 28)



Por: André Luiz Bezerra - Bolsista do grupo PETGEO-IM.UFRRJ 

quarta-feira, 11 de abril de 2018

PET-DEBATES: Racismo Ambiental: expropriação do território e negação da cidadania de Tania Pacheco.


No dia 4 de março de 2018, o grupo Pet promoveu o debate do texto “Racismo Ambiental: expropriação do território e negação da cidadania” da autora Tania Pacheco. O grupo em suas reuniões tem buscado realizar discussões com enfoques em diferentes eixos temáticos, estes por sua vez, escolhidos pelos próprios integrantes. O presente texto se insere no eixo sobre Racismo ambiental. Por ser a primeira discussão referente a este tema, buscamos colocar este texto introdutório a fim de sanar quaisquer dúvidas sobre o que de fato o racismo ambiental busca retratar. Inicialmente, a autora traz um conceito sobre o que ele é e como ele se dá. Diz que:
Chamamos de Racismo Ambiental às injustiças sociais e ambientais que recaem de forma implacável sobre etnias e populações mais vulneráveis.O Racismo Ambiental não se configura apenas através de ações que tenham uma intenção racista, mas, igualmente, através de ações que tenham impacto “racial”, não obstante a intenção que lhes tenha dado origem. (…) O conceito de Racismo Ambiental nos desafia a ampliar nossas visões de mundo e a lutar por um novo paradigma civilizatório, por uma sociedade igualitária e justa, na qual democracia plena e cidadania ativa não sejam direitos de poucos privilegiados, independentemente de cor, origem e etnia (Pacheco, 2007, p.1).
A autora busca sobretudo ampliar a visão sobre o tema, para ela, a discussão vai além de cor, origem e etnia, o território exerce um papel significativo, pois o lugar onde uma dada população está inserida vai determinar as ações que se darão sobre ela, e essas ações terão total influência do atual modelo de desenvolvimento que nossa sociedade está pautada. Afirma que a maioria das denúncias sobre o racismo ambiental se dá fora dos holofotes da mídia e longe dos centros urbanos. Vide alguns exemplos de contaminação do solo por resíduos tóxicos:
No Amapá, o Conselho das Comunidades Afrodescendentes conseguiu vencer a luta contra os resíduos de manganês deixados pela ICOMI na Serra do Navio, após quase 30 anos de exploração do minério; na Bahia, habitantes de bairros negros ainda se vêem às voltas com crianças que nascem mortas ou inteiramente deformadas, em conseqüência da contaminação provocada pela Companhia Brasileira de Chumbo ao longo de décadas; no Ceará, os Jenipapo-Kanindé continuam sua luta contra a empresa Ypióca, que explora a água da sua sagrada Lagoa Encantada para alimentar seus 4.000 hectares de monocultura de cana e produzir cachaça e polui com vinhoto o lençol freático da reserva. Litoral abaixo, a carcinicultura expulsa povos indígenas, caiçaras, pescadores tradicionais e marisqueiras, destruindo manguezais e contaminando solo e trabalhadores com produtos tóxicos. (Pachedo, 2007, p. 2)
Em suma, a autora procurou demonstrar uma série de exemplos sobre as injustiças que acontecem no campo, como a privação do território, desmatamento e desertificação, e injustiças que ocorrem no urbano como a falta de acesso a emprego, moradia, a saúde e educação para aqueles localizados nas zonas periféricas. No decorrer da discussão os componentes do grupo trouxeram diversos exemplos de injustiças que ocorrem no lugar onde vivem, buscaram trabalhar o tema mediante suas experiências cotidianas. Vale ressaltar, que a maioria dos integrantes são moradores da Baixada Fluminense, e é difícil falar sobre racismo ambiental e não pensar nos diversos problemas que a Baixada vem sofrendo há anos.    


Link de acesso: https://racismoambiental.net.br/textos-e-artigos/racismo-ambiental-expropriacao-do-territorio-e-negacao-da-cidadania-2/


Por: Francine Santos - Bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ


quinta-feira, 5 de abril de 2018

LANÇAMENTO DO LIVRO - Geografia e diálogo de saberes: Territorialidades caiçaras em Paraty


  No dia 28 de março, o grupo PETGEO-IM/UFRRJ teve a satisfação de realizar o lançamento de mais um de seus trabalhos. O livro, organizado pela professora Anita Loureiro, reúne artigos referente as pesquisas realizadas com a comunidade caiçara de São Gonçalo - Paraty. Os artigos são compostos pelos integrantes do grupo e contam com a participação dos professores convidados Cláudio Severino e Rodrigo Coutinho.
 No primeiro momento, os integrantes de cada artigo apresentaram as ideias principais de suas pesquisas, enfatizando a importância de cada uma delas. Para o debate, tivemos a presença da professora de Turismo Tereza Cristina e de  dois nomes que tiveram total relevância em nosso trabalho,  Wagno Martins e  Mauricéia Pimenta,  ambos caiçaras e integrantes do Turismo de Base comunitária da região.   Foi  um dia de reencontro, de troca e principalmente de mais aprendizados com quem vive e respira resistência.    



Por: Francine Santos - Bolsista do grupo PETGEO-IM/UFRRJ

segunda-feira, 2 de abril de 2018

PET-SAÍDAS: Rolezim da Moradia no Museu do Amanhã




No dia 25 de março o grupo PETGEO-UFRRJ/IM participou do evento “Rolezim da Moradia no Museu do Amanhã” junto com os Moradores de ocupações, militantes de movimentos sociais e todxs aqueles que defendem o direito à moradia popular e digna, se unirão em uma caminhada que saiu do terreno do Projeto de Moradia Quilombo da Gamboa (Rua da Gamboa, nº345) em direção ao Museu do Amanhã.

O Evento contou com a presença de membros de outras resistências, como um pessoal de Niterói e também de Jacarepaguá. Passamos por lugares simbólicos da luta por moradia, bem como por lugares que marcam a opressão vivida pelo povo negro em centenas de anos de escravização e racismo.
Em cada parada podemos escutar pequenas falas, algumas apresentações musicais e de poesias. Em frente ao Museu do Amanhã tiveram mais atividades culturais, com a participação de Carlos da Fé, Genaro da Bahia, Pingo do Rap, entre outrxs.

Nesta caminhada, com faixas, bandeiras e cartazes, manifestamos nossa indignação com o poder público, que através do projeto Porto Maravilha, tem destinado inúmeros terrenos e bilhões de reais para atender os interesses de investidores nacionais e internacionais, enquanto a população pobre segue à margem de direitos fundamentais, como é o direito à moradia.
“O Museu do Amanhã é um símbolo deste projeto racista e excludente! Com custo inicial projetado em 130 milhões de reais, o museu consumiu ao final mais de 300 milhões de reais, sendo que parte deste dinheiro foi desviada das obras de urbanização do Morro do Pinto. Por ano, são gastos ainda mais de 24 milhões de reais para gestão do museu que é feita pela Fundação Roberto Marinho.
A prioridade dada pelo poder público na construção do Museu do Amanhã é uma clara demonstração do racismo institucional exercido pela prefeitura do Rio de Janeiro.
Para comprovar isso, basta comparamos os recursos destinados a este equipamento em relação aos feitos com a produção de Habitação de Interesse Social na região, ou mesmo com o gasto feito com outros lugares ligados a história da cultura negra, recentemente reconhecida como Patrimônio da Humanidade através do tombamento do Cais do Valongo.
• Com o dinheiro gasto apenas para a construção deste Museu seria possível financiar a construção de mais de 3.200 moradias populares através do programa Minha Casa Minha Vida!
 • Com o dinheiro gasto com gestão do Museu do Amanhã seria possível construir mais 250 moradias por ano!
Além disso, a prefeitura recebeu 3,4 bilhões do FGTS para o projeto de requalificação do Porto Maravilha, em contrapartida a CEF exigiu a elaboração de um Plano Popular de Habitação. Após pressões dos movimentos populares e moradores da cidade um plano foi votado para produção de 10 mil moradias populares para redução minimamente do déficit habitacional de cerca de 220 mil na cidade do Rio. Porém, esse plano foi engavetado e nada foi feito.
Portanto, a luta por política pública de habitação popular é urgente e queremos que seja priorizada pela prefeitura do Rio de Janeiro.” (Trecho extraído do evento "Rolezim da Moradia no Museu do Amanhã").

Através dessa atividade, o grupo que já tem pesquisas sobre a questão de moradia na Zona Portuária do Rio de Janeiro, pôde então demonstrar mais uma vez o nosso total apoio a causa. 




Por Beatriz Maravalhas - Bolsista do Grupo PETGEO-IM/UFRRJ 

Fotos:União por Moradia Popular do Rio de Janeiro

PET-Leituras: A Natureza do Espaço