segunda-feira, 6 de abril de 2020

Professores e o trabalho em casa: O trabalho remoto e o ensino à distância na periferia




Professores e o trabalho em casa: O trabalho remoto e o ensino à distância na periferia

Eloá Lacerda

A demanda de trabalhar de casa tem se intensificado cada vez mais desde o anúncio da pandemia de coronavírus. Apesar de certa resistência de diversos setores em resguardar seus/suas funcionários/as no início desse período, fica cada vez mais evidente que não há maneira mais eficaz de prevenir o contágio e propagação da doença. No entanto, isso tem gerado diversas problemáticas, em diferentes instâncias. Nesse texto, iremos nos ater a falar dos percalços enfrentados pelos/as professores/as nos dias de hoje.
O que tem acontecido de maneira intensificada é a sobrecarga de professores/as na função de trabalhar de casa. E são várias dificuldades intrínsecas, uma vez que, nessa condição, não basta toda preparação que normalmente já existe para a execução de uma aula. Mas, além disso, há uma exigência de dedicação que inclui refazer uma aula para que ela se adapte à realidade que estamos enfrentando: adequar as aulas remotas, aprender a dominar essa tecnologia, editar os vídeos, preparar conteúdo extra, se familiarizar com uma sala de aula online, além de postar a matéria, passar exercícios e corrigi-los. E, claro, conciliar com toda uma rotina de estar apenas dentro de casa, que já se exige responsabilidades de diversas ordens.
Ocorre que pelo fato de todo esse trabalho ser feito dentro de casa, há uma grande subestimação do que tem sido feito. Isso nos leva a qualificar intensamente toda aula já planejada para que mostre que há serviço sendo feito. Há relatos de maior controle sobre o conteúdo e sobre a forma como os/as professores/as o ministram. Há diretores/as e coordenadores/as que estão assediando moralmente professores/as, com cobranças abusivas que passam pela imposição de valores conservadores e julgamento da aparência pessoal de professores/as e até mesmo de sua forma de vestir ou falar. Há professores/as tendo que adequar suas aulas forçadamente ao indicado pela direção escolar, que pouco entende do conteúdo a ser ministrado. Há relatos de professores/as que estão trocando o dia pela noite para poderem ter silêncio em suas residências para gravação de aulas remotas e há o conflito inter-geracional e constrangimento com quem não domina a tecnologia da informação. Sem dúvida, professores/as estão vivenciando um momento de muito estresse e que compromete a saúde e a qualidade do que oferecem aos/às estudantes.
 Nesse sentido, as Instituições de ensino, especificamente do regime privado, têm exacerbado as cobranças, a fim de manter as escolas funcionando, sob níveis de exigência que se encontram fora da realidade de muitas pessoas. Parte dessa cobrança, dentre outras razões, se dá pelo fato de que alguns responsáveis (pais/mães/outres) têm se recusado a pagar a mensalidade dos/as filhos/as, ou até mesmo pedindo desconto enquanto seus/suas filhos não estão indo à escola. Dessa parcela que pede a isenção de mensalidade ou redução do valor, parte ocorre pelo fato de que não reconhecem o imenso esforço de professores/as em manter o conteúdo previsto à distância. Há um pensamento, obviamente dentro de uma minoria, que estar em casa configuraria férias.
Ademais, há também a realidade daqueless que diante da situação enfrentada, acabaram sem ter condições de manter o compromisso anteriormente assumido com a escola, pelo menos sob o mesmo valor. Alguns/mas são autônomos/as, outros/as enfrentam o desemprego/desocupação causados pela necessidade do isolamento social, e agora se encontram em situação de vulnerabilidade.
Enquanto nas escolas da rede privada a cobrança de responsáveis e empregadores da educação cobram uma reinvenção imediata da função docente, a Educação à distância (EaD) se torna insustentável nas escolas e universidades públicas, uma vez que a principal preocupação dessas famílias é se terão o que comer nesse momento, descartando muitas vezes a possibilidade de ter acesso à tecnologia dentro de casa.
Diante disso, de toda realidade alterada, tornou-se um esforço coletivo que todos/as se adaptem à realidade que estamos vivendo. Professores/as precisam ser mais do que transmissores de conhecimento, embora nunca seja só isso. Precisam conciliar em seu tempo para garantir que além da reprodução de sua aula (considerando seu alto número de turmas), sobre tempo para aprender sobre como será possível reproduzir a ambiência de uma sala de aula "online", já que essa é a demanda que tem sido feita por empregadores/as. Além disso, há estudantes que também precisam lidar com isso, e criar certa maturidade para aprender, apesar da distância e da maior distração que o conforto de casa oferece. E, por sua vez, famílias que precisam assumir um papel de mediadoras nessa situação, muitas vezes sem ter condições ou mesmo sem tempo de fazer isso, já que além de estarem cumprindo as tarefas domésticas, possivelmente, muitos estão também fazendo trabalhos em casa.
Considerando a educação como um todo e a pressa que as instituições de ensino privadas têm tido em relação ao ensino à distância, se evidencia um grande lastro que reforçará a exclusão de estudantes em estado de isolamento social que não possuem condições de acesso às plataformas digitais. Algumas instituições públicas assumem o risco de evidenciar a falta de condições para garantirem a EaD em um país cuja desigualdade social é algo que não se pode ignorar. Segundo nota emitida pela direção do Colégio Pedro II, campus Tijuca:
“O acesso à educação de qualidade é um direito que dificilmente se realizará numa lógica de EaD emergencial. Se algum conteúdo for ministrado ao longo desse período de recolhimento compulsório, terá que ser, inevitavelmente, revisitado no retorno ao contato social. E, nas atuais circunstâncias, a EaD reforçará a exclusão de estudantes em vulnerabilidade social, portadores de necessidades educacionais específicas e daqueles que já podem estar sofrendo as consequências mais graves da pandemia covid-19. Não se trata de um ato heroico a obrigatoriedade do ensino a distância nesse momento, mas sim de um ato excludente.”
São várias, portanto, as problemáticas circunscritas a esse processo. A princípio porque esse investimento em EaD tem sido feito pelo ensino privado, criando uma disparidade em relação àqueles que dependem do ensino público. Mas, ainda mais profundo, mesmo dentro da realidade de quem está no ensino privado, não são todos/as que possuem acesso às plataformas digitais, ou que possuem um computador em casa, tampouco que esse computador seja de uso exclusivo. Há famílias em que todos precisam usar o mesmo equipamento para trabalhar, estudar e se informar e isso se agrava quando a família é mais numerosa. Há, obviamente, os casos em que nem se quer existem os equipamentos e o acessos à internet, já que sabemos que nos segmentos populares, muitas famílias recorrem à escola para garantir aquilo que seria básico, mas que não conseguem ter em suas casas – seja alimentação ou recursos educacionais. Segundo BANDEIRA e PASTI (2020),
A luta pelo reconhecimento da internet como bem essencial, no entanto, não é uma defesa de que as atividades escolares adotem a educação à distância como única solução para os tempos de pandemia. A educação não se resume a uma mera transmissão ou depósito de conteúdos. A substituição acrítica e acelerada dos processos presenciais em curso por práticas de EaD (ensino à distância) pode causar uma série de problemas no curto, médio e longo prazos.
A desigualdade de acesso à internet e a equipamentos adequados pode aprofundar os abismos da desigualdade educacional no país. Além disso, muitas instituições desconsideram as condições familiares e sociais que impactam a diversidade de capacidades de estudo — desde a saúde física e mental em tempos de isolamento e pandemia aos espaços e condições de estudo domésticas, passando pelas tarefas diversas dos estudantes e docentes e suas condições de habitação. (BANDEIRA e PASTI, 2020. Grifos nossos)
Tem sido uma realidade muito atípica o que estamos enfrentando. Além de toda problemática que fora citada, há também uma preocupação em como a adoção precipitada de modelos de educação à distância ou mesmo o controverso homeschooling poderá potencializar quem aposta nesses modelos como forma de substituição da sala de aula, e se aproveitar desse momento para implementar seus objetivos.
É uma conjuntura para estudarmos as possibilidades, de forma que não se tome decisões que acirrem ainda mais as desigualdades na dimensão que estamos tendo. Utilizar a EaD sem considerar os níveis de desigualdade e sem estarmos preparados para isso, é acentuar cada vez mais o problema. E isso está intimamente ligado ao modelo de educação que desejamos desenvolver – dialógica, crítica e sensível. Se por um lado lutamos cotidianamente para garantir uma educação crítica, sensível com relação à realidade do outro, libertadora, incentivadora; por outro lado assistimos a um cenário que induz a uma educação acrítica, com um vínculo obsessivo da obrigatoriedade pragmática.

Referências Bibliográficas:
BANDEIRA Olívia; PASTI, André. Como o ensino a distância pode agravar as desigualdades agora. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/ensaio/debate/2020/Como-o-ensino-a-dist%C3%A2ncia-pode-agravar-as-desigualdades-agora. Acesso em: 05/04/2020.
Nota da Direção do Colégio Pedro II, Campus Tijuca II: Por que não é possível Educação a Distância (EaD) agora? Disponível em: http://www.cp2.g12.br/blog/tijuca2/2020/03/20/nota-da-direcao-do-campus-tijuca-ii-sobre-educacao-a-distancia-ead/. Acesso em: 05/04/2020

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Pandemia, Saúde mental e isolamento social


A saúde mental frente ao isolamento social  



                                  Thayla Rocha Madeira  



Diante do cenário em que a pandemia se instalou e do número de casos que aumenta progressivamente, o isolamento social horizontal tornou-se uma das principais medidas preventivas no combate ao avanço da COVID-19. Partindo dessa realidade, não somente tornou-se imprescindível debater as maneiras de prevenção à doença provocada pelo vírus, mas também analisar o possível impacto social que o isolamento gerou, trazendo aspectos relacionados às consequências na saúde mental da população e suas ações imediatas na busca de um autocuidado. 

Para Han (2017 apud CORBANEZI, 2018, p.1) as doenças psicossomáticas fazem parte do modus operandi do sistema capitalista e essa realidade vem de uma constante busca de produção, consumo e permissividade, que trazem, assim, sérias consequências para a saúde mental da população. De acordo com Han, “[...] sofrimentos psíquicos como síndrome de burnout, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e depressão são apreendidos pelo autor em sua relação direta com o modo operatório do capitalismo contemporâneo” (idem).  Nesse sentido, podemos avaliar que o desenvolvimento dessas doenças é consequência de uma organização política e econômica mundial, pois vivemos numa sociedade que busca incessantemente o excesso de produção, rendimento e comunicação como analisa Han (2020). Partindo desse pensamento o autor nos ajuda a enxergar um panorama depreciativo em tempos de isolamento social, pois além do rompimento brusco da rotina como ressalta Correia (2020), temos o bombardeio constante de informações nesse período de pandemia. 

Ao analisarmos a realidade na qual se apresenta uma pandemia instaurada aliada ao isolamento social, Correia (2020) aponta grupos mais vulneráveis a sofrerem com estresse, raiva ou medo, contudo nos apresenta também que além da mudança brusca de rotina as pessoas agora estão vivendo talvez um conflito de sentimentos entre a solidão e o aumento da consciência comunitária, o que nos traz a vista novas possibilidades de renovação das relações humanas no futuro. 

É possível refletir que o isolamento social associado à busca constante por um desempenho como traz Han (2020), reflete num cenário complexo no campo da saúde mental, pois as pessoas teriam uma propensão maior para o adoecimento. Aliado a isso, Han (2020) aponta, que mesmo não devendo diminuir o risco da doença, existe em alguns casos um pânico exacerbado relacionado à epidemia e podemos observar que isso se deve principalmente pela enxurrada de informações - confiáveis ou não - sobre o tema.

Como forma de auxiliar e instruir as pessoas em isolamento, a Organização Mundial da Saúde (2020) sugere alguns cuidados que podem auxiliar nesse tempo:  

·         Se as autoridades de saúde recomendaram distância física para conter o surto, você pode manter a proximidade digital com e-mails, redes sociais, telefone, teleconferências etc.  

·         Fique em contato e mantenha sua rede de amigos e conhecidos; 

·         Ainda que isolado, tente ao máximo manter sua rotina e crie novas.  

·         Durante esse período de estresse, esteja atento a seus sentimentos e demandas internas. 

·         Envolva-se com atividades saudáveis e aproveite para relaxar.  

·         O exercício constante, o sono regular e uma dieta balanceada ajudam.  

·         Mantenha tudo em perspectiva.  

·         Os agentes de saúde em todos os países estão atuando para que os mais afetados pela pandemia recebam assistência e cuidados. 

·         Uma enxurrada constante de notícias sobre o surto pode levar qualquer um à ansiedade e ao estresse.  Siga as notícias confiáveis e evite boatos e “fake news” que vão somente causar mais desconforto e dissabor. 



Referências Bibliográficas 

AMADEUS, Michael. Covid-19: OMS divulga guia com cuidados para saúde mental durante pandemia. ONU News, Brasil, 18, março de 2020. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2020/03/1707792 

CORBANEZI, Elton. Sociedade do Cansaço. Mato Grosso, Resenhas, pp. 335-342. Tempo  Social, revista de sociologia da USP, v. 30, n. 3. 



CORREIA, Ana Carolina. Coronavírus: saúde mental em tempos de isolamento. Coordcom UFRJ, Rio de Janeiro, 25, março de 2020. Disponível em: https://ufrj.br/noticia/2020/03/25/coronavirus-saude-mental-em-tempos-de-isolamento 



HAN. Byoung-Chul. O coronavírus de hoje e o mundo de amanhã, segundo o filósofo Byung-Chul Han. El País, Brasil, 22, março de 2020. Disponínel em:https://brasil.elpais.com/ideas/2020-03-22/o-coronavirus-de-hoje-e-o-mundo-de-amanha-segundo-o-filosofo-byung-chul-han.html 



RODRIGUES, Vera B.; MADEIRA, Milton – Suporte social e saúde mental: revisão da literatura. Revista da Faculdade de Ciências da Saúde. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa. ISSN 1646-0480.6 (2009) 390-399. 




segunda-feira, 30 de março de 2020

Geografia, cotidiano e saúde em tempos de pandemia - Bate-papo com prof. Francisco Chagas no YouTube: o vírus da globalização e a normalidade da crise






Bate-papo com prof. Francisco Chagas no YouTube: o vírus da globalização e a normalidade da crise

            Hoje, sexta-feira, 27 de março, em meio às medidas de isolamento para conter a disseminação do Covid-19, ocorreu um bate-papo no YouTube conduzido pelo Professor Francisco Chagas do Nascimento Jr. do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ. A proposta, que se iniciou como uma “aula online”, o surpreendeu, pois nasceu da inquietude dos estudantes de Geografia da referida universidade quanto à implicação da globalização no rápido processo de disseminação do vírus pelo mundo. Graças à articulação e esforços dos estudantes Luana Vieira e Luciano Paixão, e da Professora Roberta Arruzzo, pudemos ter a honra de enriquecer e geografar esta manhã de sexta.
            A discussão girou em torno de uma ideia central: no mundo atual, as crises tornaram-se estruturais e vivemos, na realidade, uma crise estrutural civilizatória. Nosso modelo de desenvolvimento econômico e social, calcado no capitalismo globalizado, é também nosso atual período histórico produtor e fomentador de crises; de tal modo, este período é intrínseco à crise e existem necessariamente ao mesmo tempo, tornando-se normalidade.
É neste sentido que Milton Santos (1999) nos ajuda a distinguir as crises do modelo atual das anteriores, porque “os dados motores e os respectivos suportes, que constituem fatores de mudança, não se instalam gradativamente como antes, nem tampouco são o privilégio de alguns continentes e países, como outrora”. Num mundo dito globalizado, as técnicas contemporâneas permitem que as redes, os fluxos e as dinâmicas se deem de forma concomitante, com uma frequência e com uma força nunca vista, ainda que não se manifeste exatamente da mesma maneira em todos os lugares do globo.
Ao produzir ordem, mas também desordem, onde a primeira se retroalimenta da segunda, os fatores hegemônicos subjugam países, pessoas, empresas, instituições, e lugares à sua lógica de produção – utilizando e sugando diferentemente tais possibilidades, realizando diferentemente a velocidade do mundo.
É assim que, numa crise global de saúde, onde o neoliberalismo vem projetando um terreno de total desconstrução do Estado de bem-estar social, os países periféricos têm sua população largada à própria sorte. Como se já não bastasse a ausência do Estado nas periferias urbanas cotidianamente, em tempos de crise pandêmica, o isolamento para contenção do vírus força os trabalhadores autônomos, de economia popular, a pararem suas atividades e sua única fonte de amparo. Desse modo, se dinheiro, alimento e saúde, e muitos outros recursos já eram incertos e escassos, agora a população é obrigada a conviver com a falta em sua totalidade.
            A crise, sendo intrínseca ao sistema capitalista, gera ainda mais lucro quando não há crescimento econômico. Com o Estado cada vez menor para a livre atuação do mercado, a ideologia neoliberal se mostra cada vez mais incapaz de ocupar seu lugar, pois o foco não é fazer a economia crescer de forma duradoura para assim distribuir e atender às necessidades do povo, mas sim concentrar e acumular as riquezas.
Parece óbvio que o interesse hegemônico seja subordinar e acumular, porém o sistema também se reproduz instrumentando discursos para um modelo de sociedade servil e apática. Enquanto se precarizam as condições de vida da população e se privatizam cada vez mais serviços básicos pelos insistentes discursos de nossos governantes frente a nenhum crescimento econômico, este mesmo país gera acumulação para, e somente para, as corporações, sobretudo bancos, em meio à crise civilizatória.
A crise do coronavírus não é excepcional, é um vírus que nos atinge em espectro global, graças à globalização. Com um mundo cada vez mais integrado para as cadeias produtivas, epidemias deixam de ter meros impactos locais ou regionais para se tornarem tão globalizadas quanto todos os outros aspectos do mundo contemporâneo, de rápida difusão e assentada sobretudo nas redes e na urbanização latente e desigual. A grande questão é que, em função do nosso ponto de partida, das condições territoriais e do meio, a pandemia se torna ainda mais temerosa, numa situação injusta e desonesta, onde os trabalhadores e suas famílias se perguntam, aglomerados em pequenos cômodos, ausentes de saneamento básico, se aceitarão o risco de serem infectados ou se morrerão de fome.
27/03/2020 


Referência


SANTOS, Milton. A normalidade da crise. Folha de São Paulo, 1999. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2609199903.htm. Acesso em 28/03/2020.


síntese produzida por Maria Eduarda Bastos

PET GEOGRAFIA, SAÚDE E COTIDIANO EM TEMPOS DE PANDEMIA



O PETGEOGRAFIA UFRRJ/IM SAÙDE E O COVID-19



Em 2020 o tema escolhido pelos/as estudantes foi "Geografia e Saúde". Bem antes das notícias sobre o COVID-19 começarem a circular, o grupo PET traçou em 2019 o planejamento do ano seguinte com o objetivo de pensar o corpo como escala de análise geográfica e, mais do que isso, como uma síntese da relação sociedade-espaço. Assim, o tema Geografia e saúde pode ser pensado em variadas escalas - em termos globais, considerando a relação sociedade e natureza e a própria noção de ambiente saudável e na escala local, quando pensamos que somos parte de um todo e que nossa ação individual tem impactos na vida social.

Há alguns anos, o PET-Geografia e a COLETIVA Vandana Shiva (Grupo de Pesquisa em Geografia, Cultura, Existência e Cotidiano) têm se interessado pelo desenvolvimento de pesquisas coletivas, especialmente em termos de aprofundamento teórico-conceitual e metodológico de uma geografia dialógica, sensível e criativa. 

CORPO-TERRITÓRIO tem sido uma noção fundamental para a formação dos/as discentes e para o desenvolvimento de pesquisas orientadas por esse reconhecimento de que nosso corpo influencia nossas ações e estas a vida em sociedade. Entretanto, em meio à pandemia, suspensão das atividades pedagógicas e acadêmicas da UFRRJ e especialmente diante da necessidade de seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde e outros órgãos internacionais de saúde e o próprio governo, que por meio do ministério da saúde recomendou o isolamento social e outras medidas para conter o avanço do vírus, o grupo se sentiu motivado a produzir conteúdos que considerassem o momento presente e a vida cotidiana diante deste novo cenário pandêmico.

Assim, nas próximas semanas, o grupo PETGEO/IM da UFRRJ irá produzir uma série de textos que têm como finalidade ampliar a reflexão e o debate sobre o COTIDIANO em tempos de Pandemia. Para nós será um desafio. Mas contamos com a leitura atenta, a troca de ideias e as contínuas aprendizagens para seguirmos refletindo e criando uma ambiência fértil à produção do conhecimento e ao compromisso social que são nossas contribuições possíveis neste momento. 

terça-feira, 24 de março de 2020

Notícias da UFRRJ - Atividades acadêmicas e administrativas suspensas por tempo indeterminado FacebookTwitterWhatsAppEmailPrint

Coronavirus

Atividades acadêmicas e administrativas suspensas por tempo indeterminado

Comunicado Covid-19 5 – 23/3/2020

Em virtude das previsões sobre a propagação da pandemia da Covid-19 para as próximas semanas e das incertezas sobre o controle da doença no território nacional, a Administração Central da UFRRJ, após consulta ao Comitê de Trabalho sobre o novo coronavirus da UFRRJ, determina que:
  • As atividades acadêmicas e administrativas continuarão suspensas por tempo indeterminado até que o Comitê de Trabalho avalie que há segurança para o retorno de trabalhadores e estudantes às respectivas atividades; e
  • As atividades administrativas essenciais continuarão a ser executadas, conforme o Comunicado 4 “Orientações complementares para setores administrativos e acadêmicos”, publicado no dia 16 de março.
A Administração Central recomenda que a comunidade universitária informe-se sobre as decisões tomadas durante a pandemia pelos meios de comunicação oficiais da UFRRJ, especialmente as notícias do portal no caminho:  http://portal.ufrrj.br/covid-19/

Administração Central da UFRRJ



Postado em 23/03/2020 - 18:14
















O Ministério da Educação (MEC) liberou, por meio de uma portaria publicada nessa quarta-feira (18) no Diário Oficial da União, as instituições de ensino superior do sistema federal a substituírem as aulas presenciais pela modalidade à distância.
A mudança é válida para o sistema federal de ensino, composto pelas universidades federais, pelos institutos federais, pelo Colégio Pedro II, pelo Instituto Nacional de Educação de Surdos (Ines), Instituto Benjamin Constant (IBC) e pelas universidades e faculdades privadas.
De acordo com o texto, o período de autorização é válido por 30 dias e tem possibilidade de prorrogação, a depender de orientação do Ministério da Saúde e dos órgãos de saúde estaduais, municipais e distrital. As instituições que optarem pela substituição de aulas precisam entrar em contato com o MEC em até 15 dias.
Elizabeth Barbosa, 2ª vice-presidente da Regional Rio de Janeiro do ANDES-SN, diz que o Sindicato Nacional vê a medida com muita apreensão. Embora de caráter excepcional, há a preocupação que o governo esteja aproveitando o momento para implementar algo que já tinha como objetivo, e que a recomendação passe a ser uma imposição.
“Esse governo já tinha, anteriormente, aprovado através de uma indicação do MEC, que as aulas na graduação poderiam ter até 40% de ensino à distância. Sempre tivemos muita preocupação com isso, porque para nós não é Educação à Distância, é ensino à distância enquanto ferramenta metodológica complementar e não como conteúdo de disciplina. Ou seja, eu enquanto docente posso uytilizar ferramentas virtuais para fazer um trabalho com meus estudantes, mas não que a disciplina seja pautada por isso”, explica a diretora que também é da coordenação do Grupo de Trabalho de Políticas Educacionais do ANDES-SN.
Elizabeth ressalta que as instituições federais de ensino mal têm estrutura para que os estudantes possam utilizar ferramentas virtuais dentro da universidade e aponta que orientação do MEC ignora o fato de que uma parcela dos estudantes das universidades federais não têm à sua disposição os instrumentos necessários para o EAD.
A diretora critica também a redução orçamentária imposta à Educação Pública, que se acentuou nos últimos anos, em especial após a aprovação da Emenda Constitucional 95. Para ela, o governo deveria estar pautando a revogação do Teto dos Gastos ao invés de precarizar ainda mais a educação pública.
“A gente já vive com cortes absurdos nas universidades, institutos e Cefet, que não são de agora, mas que se intensificaram principalmente nesse último governo e depois da EC 95. Não temos condição de garantir que o conteúdo à distância chegue a todo o corpo discente. Nós temos hoje na universidade pública muitos alunos vindos da classe trabalhadora, como essa população vai ter acesso a essas ferramentas para dar conta de uma disciplina? Eu vejo com muita apreensão isso, porque acentua a precarização de nosso trabalho e também da qualidade de ensino ofertada”, afirma.
Para a docente, o governo tem que respeitar a autonomia das universidades, institutos federais, Cefet para que as instituições discutam internamente como será a reposição de aulas desse período letivo. Ela aponta ainda a preocupação de que essa “oferta” acabe se transformando em imposição.
“Temos que adotar uma postura dentro das instituições de não acatar isso e, ao contrário, de repudiar essa medida que compromete mais ainda a formação dos nossos alunos, a qualidade das nossas aulas e tudo o que defendemos dentro da universidade pública. Acho, ainda, que não era isso que o governo deveria estar pautando nesse momento. O governo federal deveria era revogar a EC 95 para realmente investir na universidade pública, na pesquisa pública, para darmos conta do que essa pandemia vai causar, socialmente e economicamente nesse país”, critica.
Confira a nota de repúdio da diretoria do ANDES-SN.




https://www.andes.org.br/conteudos/noticia/mEC-propoe-eAD-nas-iFE-em-meio-a-pandemia-e-precariza-ainda-mais-a-educacao-publica1