Cleonice Dias nos contou sobre sua experiência como moradora
da Cidade de Deus e sobre suas lutas cotidianas em esclarecer essa
ideia de que favela não é um lugar apartado da cidade, onde
apenas temos uma perspectiva de ausências como se fosse um território vazio e
apto a ser dominado...sem sujeitos, sem dinâmicas e sem vivências. Nos diz que
a cidade surge como um espaço de disputa e construção atendendo a interesses
globais e mercadológicos e é muito fácil percebemos isso quando atualmente
temos no Rio de Janeiro esse imaginário de uma “Cidade Olímpica”, que tem
transformado bastante o espaço urbano carioca para efetivação de alguns
projetos – como o Porto Maravilha – e que tem passado por cima dos direitos dos
cidadãos já que o foco se dá apenas no potencial econômico que estes projetos
abarcam. Cleonice nos conta um pouco da história desde o inicio da Cidade de
Deus, desde quando era considerado um conjunto habitacional que atendia aos
interesses de uma remoção autorizada pelas esferas de governo vigentes, mas que
acabou atingindo abrangências maiores do que o esperado e se tornou um bairro.
Também nos fez refletir sobre as forças de controle atuantes na favela, vezes
por tráfico de drogas ou armas, vezes por policiais, vezes por milicianos, que
se encontram cada vez mais próximos do (ou no próprio) do
Estado e nos conta que não é um movimento recente. Numa roda de conversa
bastante leve e informal, Cleonice também aponta a academia como sendo um
espaço essencial para as lutas sociais, já que permite enxergar os processos,
os contextos de uma perversidade capitalista na qual a sociedade se insere e
permite revelar desdobramentos desta parceria da universidade
com as lutas sociais. Sempre apontando para a importância do coletivo em suas
lutas, Cleonice, destaca que seu maior aprendizado advem das experiências
cotidianas e que sua formação se deu na Cidade de Deus, pois
esta foi fundamental para entender a sociedade e a cidade, nos
fazendo repensar nossas práticas acadêmicas.
Carolina Peres
PET-Geografia/UFRRJ-IM
Nenhum comentário:
Postar um comentário